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FERREIRA DO ZÊZERE – “Isto aprender do nada é como bater contra uma parede, a gente tanto bate, tanto bate que ela começa a ceder”

No centro Cultural de Ferreira do Zêzere com o excelente som e a profissional realização técnica do dedicado Eugénio Mendes (funcionário da câmara) numa noite de chuva e onde a selecção de Portugal jogava em Itália, não se esperava que os cerca de 300 lugares esgotassem. Porém para aí umas cinquenta pessoas, responderam ao convite de Jorge Roberto, nascido e criado no Mourolinho- Igreja Nova- Ferreira Zêzere, onde vive e, com uma vida dura nos pinhais e a trabalhar na terra e no campo, nunca estudou música, mas nasceu com o dom para a poesia. Aprendeu, sózinho a tocar e a compor e refere “isto aprender do nada é como bater contra uma parede, a gente tanto bate, tanto bate que ela começa a ceder”. Depois de um ano 2017 difícil, em que conheceu o Instituto Português de Oncologia e, a terrível doença que lhe podia ter levado a voz, certamente que a fé e a força de vencer foi mais forte e aí está com o seu espetáculo do ano ( de entrada gratuita) em que com letra e música sua, enaltece valores da sua terra, histórias de pessoas, instituições e em que, a letra dos poemas, tem sempre uma história, um fio condutor e, não lugares comuns, e, se centra no seu concelho que ama tanto como ama a vida, de quem nasceu para ser “poeta”.

Não canta e toca os fados dos outros. As letras e músicas são originais e quando a Câmara de Ferreira do Zêzere o levou ao programa da RTP, onde os artistas convidados só tocam em playback, – por imposição da programação, bateu o pé, assim como o vereador Hélio Antunes disse ” eu toco e canto ao vivo e, sem medo não vai falha na emissão”. A Câmara de Ferreira do Zêzere sempre, na primeira linha de apoio aos artistas do seu concelho, promete para a primavera novo espetaculo (e porque não com entradas pagas), que isso mesmo se justifica! E foi o vereador da cultura- Hélio Antunes, homem das artes, da música e do espectáculo, que todos os ferreirenses adoram, que na sua simplicidade e humildade apresentou os artistas da noite: Jorge Roberto e o grande acordeonista Júlio Vitorino. “Jorge Roberto nasceu e vive no Mourolinho e ao longo da sua vida de muito trabalho e por vezes muito difícil, teve o dom, de nos seus momentos livres dedicar-se, sempre à poesia e à música, coisa que não é muito fácil, porque no meio onde ele nasceu e vive, as condições eram nenhumas, mas conseguiu ser autodidacta, mantendo sempre a alma e espírito de poeta” referiu.

Jorge Roberto, a quem as seções continuadas de terapia no IPO, lhe “enfrqueceu” as glândulas salivares e daí ter que frequentemente que beber água e mascar pastilhas, mostrava assim em palco, que venceu a doença, que felzimente não lhe tirou a voz, já que escrever “poesia” e a compor a música, são factos, que em nada a doença veio beliscar, antes fortalecer ainda mais, de um homem simples, humilde e amigo de toda a gente e, referiu ” dou graças à desgraça em ter pisado os corredores de luz fingida” como apelidou o IPO em Palhavã em Lisboa e dedicou um fado seu, pela igualdade que encontrou entre os doentes, deste grande hospital, em que referiu, novos ou velhos, ricos ou pobres, cor ou etnia, ali encontrei “uma igualdade, uma maneira de ajudar e servir os outros, ou seja uma verdadeira família”

E numa primeira parte a solo, em que o Ti João dos Gelados (Ti João Empresário) e outros poemas, foram cantados, com uma letra com alma, história, factos e realidades como a Drogaria Confiança que vende tudo e até faz seguros e “remédio que engorda as pulgas” ou o poema dedicado à Banda mais antiga do concelho e que tocou pela primeira vez o Hino Nacional – a Banda da Frazoeira. Num espectáculo de 1H30 seguido, a segunda parte foi em parceria com o Júlio Vitorino ( acordeonista) e sentiu-se bem o que resulta em termos melódicos a combinação entre a viola e este popular instrumento.

Antes deste espectáculo a Associação Igrejanovense comemorou o seu aniversário, ali marcou presença, tocando e cantando, pela gratidão ao ombreiro da casa o falecido Jose Martinho a quem compôs o fado ” sonho de Jose Martinho” à grande obra que é a Associação, Associação que lhe editou em 2017, nos seus 50 anos de fundação um CD com 16 temas, que está á venda por 10 Euros. Registe-se que pelo Natal o seu presépio, natural e gigantesco, junto capela da sua aldeia – uma homenagem ao nascimento e à vida e no qual emprega largas horas a construi-lo, é sempre uma realidade de um homem simples do Mourolinho que nasceu para ser poeta. António Freitas