O artista Martim Brion vai expor na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha, entre 5 de março e 28 de maio. “Ponto Contraponto” é mais uma mostra com a chancela da Fundação EDP, comissariada por João Pinharanda. Martim Brion é um dos novos valores da arte contemporânea em Portugal.
“Nesta exposição textos e esculturas participam de um mesmo processo de negação da subjectividade e da manualidade. Os textos parecem descrições objectivas de esculturas, pinturas, desenhos, fotografias e recebe-se que resultam de uma impressão mecânica. As esculturas, essas, são de tal modo perfeitas na sua forma e colorido que sugerem imediatamente resultar de uma realização mecânica. A mão do artista não tocou nos objectos que nos apresenta como arte: pensou e redigiu os textos, escolhendo as cores e os tipos de letra em que seriam apresentados; desenhou e encomendou as formas e cores das esculturas. Resumindo, diremos estar na continuidade de uma tradição (designada como conceptual) que foi revolucionária dos inícios meados do século XX que, no seu final, tinha atingido já uma dimensão clássica.
Martim Brion, pegando nesta tradição e herança, não se limita a continuá-la, cria um conjunto de textos intranquilos e de esculturas instáveis: por um lado, o que nos textos se descreve não está presente, o que nos obriga a pensar a fragilidade do real; por outro, em algumas dessas descrições, há desvios e armadilhas — os textos criam dúvidas, têm faltas de informação, reflectem sobre a própria capacidade de realização do que é descrito… Se a estes desacertos propositados acrescentarmos os jogos visualmente cromáticos intensos obteremos, afinal, um conjunto de afirmações subjectivas destinados a obrigarem-nos a “ver” algo que apenas podemos reconstituir em imaginação dando a entender um comentário de ironia sobre o sistema artístico.
Já as esculturas da exposição parecem poder ter derivado dos próprios textos que referimos. Confirmando os laços entre as duas dimensões (escrita e visual, verbal e plástica) as esculturas parecem estabelecer connosco a mesma relação de distância irónica que os textos acentuando a dimensão de jogo neles presente: jogo de perícia linguística na capacidade descritiva, jogo de construção tridimensional, jogo de opções e disposições (cromáticas e formais) no espaço criando um discurso equilibrado entre a liberdade e a razão, entre a leveza e o rigor.”
João Pinharanda