Nos últimos dias, foi tornado público, em diversos órgãos de comunicação social, um projeto para intervenção na envolvente do Castelo de Almourol, concelho de Vila Nova da Barquinha, da autoria do Arquiteto Tomás Reis. Face à ampla divulgação e discussão que o mesmo gerou, essencialmente nas redes sociais, o Município de Vila Nova da Barquinha vem esclarecer o seguinte:
– O Exército Português, através do Regimento de Engenharia Nº1, é titular da propriedade do Castelo de Almourol. A DGPC é a entidade de tutela dos monumentos nacionais, e a Câmara Municipal da Barquinha é o administrador do bem.
– Não foi pedido nenhum estudo ou projeto ao Art.º Tomás Reis, quer pelo proprietário, quer pelo administrador.
– As últimas obras ali realizadas, com parecer favorável da DGPC, ocorreram de setembro de 2013 a maio de 2014, e em outubro de 2018 a dezembro de 2018. Tiveram como objetivo a intervenção na torre (sistema de iluminação, substituição do terraço, colocação de escada interior metálica de circulação vertical, musealização), beneficiação e conservação das muralhas e interiores do castelo, bem como impermeabilização e drenagem das águas, melhoria das condições de acesso do público ao castelo; requalificação do coberto vegetal da ilha do Almourol e requalificação da margem direita do tejo.
– A proposta será presente a reunião de Câmara no próximo dia 27, do corrente mês, não estando qualquer verba prevista para este avultado investimento no orçamento municipal.
– Em missiva enviada ao autor da proposta, Fernando Freire, Presidente da Câmara Municipal, refere que “esta proposta, na minha avaliação subjetiva não respeita o espírito do lugar. Lembro que já em 1857, aquando da construção da linha do Leste, houve quem defendesse que o caminho de ferro passasse por cima do Castelo de Almourol o que, afortunadamente, não veio a acontecer. O impacto ambiental que uma tal obra provocaria no ambiente e na sua envolvente, coartando os padrões de vida da fauna e flora seria razão bastante para não aceitar esta proposta. Almourol é um encantador mosaico de memórias, estórias e lendas, um monumento fértil em património cultural intangível, que marca a paisagem deste sítio ímpar em Portugal. No meu modesto entendimento, enquanto autarca, a grandeza temporal e intemporal do lugar, numa suavidade incomum em Portugal, deve ficar como está!”.
– Em resposta ao responsável pelo executivo camarário, o autor, Arq. Tomás Reis, esclarece que “as imagens que partilhei fazem parte de um trabalho de visualização, feito a título individual. Mais do que um projeto fechado, de qualquer natureza, pretende-se lançar questões, a meu ver pertinentes, sobre a visibilidade do território e visões sobre património. Acredito, aliás, que a crítica pode melhorar os projetos. Imaginar, numa proposta de visualização, uma obra concluída, sem qualquer discussão, seria, também a meu ver, um exercício de ficção. Como sabemos, as intervenções no território estão, cada vez mais, sujeitas a um escrutínio maior. E, num quadro de participação cívica, e também da normal cooperação entre instituições, poderiam ser colocados vários cenários – até mesmo a ausência de intervenção. É nesse sentido que a integridade do lugar pode, e deve ser respeitada. Compreendo que atravessamos um ano desafiante, e que as intervenções na paisagem e no património podem tender para o consenso e para fortalecer o sentimento de pertença. Nestas condições, a apresentação do projeto a mais entidades deixa de ser necessária. Desejo que o castelo continue a ser vivido pelos Barquinhenses, num lugar onde também encontro paz e tranquilidade.”
Tomás Reis, mestre em Arquitetura e Design Urbano pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa refere que o desenvolvimento deste projeto se insere na comemoração dos 850 anos do castelo. A proposta cria uma nova estrutura de acesso ao castelo, com um percurso pedonal circular que envolve a ilha fluvial e as margens do rio Tejo conforme se pode ver pela figura anexa.
O Castelo de Almourol é um ícone de Portugal. Fortaleza reconstruída por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171, é o ex-libris do Concelho de Vila Nova da Barquinha. À época da Reconquista integrava a chamada Linha do Tejo, constituindo um dos exemplos mais representativos da arquitetura militar da época, evocando simultaneamente os primórdios do reino de Portugal e a Ordem dos Templários, associação que lhe reforça a aura de mistério e romantismo. Cercado pelas águas do rio Tejo, destaca-se num maciço granítico de uma ilhota do Tejo, entre Vila Nova da Barquinha e Praia do Ribatejo. A singular localização do Castelo torna-o um dos mais bonitos monumentos do país, tendo sido considerado Monumento Nacional em 1910. Em 2007, foi um dos 21 finalistas da eleição das 7 Maravilhas de Portugal.
Crédito fotográfico: Pérsio Basso