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VILA NOVA DA BARQUINHA – “A terceira margem e as ruínas circulares”, de João Seguro

A exposição “A terceira margem e as ruínas circulares”, de João Seguro, pode ser visitada na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha, entre 17 de fevereiro e 27 de maio de 2018.João Pinharanda é o curador desta mostra, no âmbito da parceria da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha com a Fundação EDP para a programação artística do Parque de Escultura Contemporânea Almourol (www.barquinhaearte.pt).

“João Seguro, em 2017, trabalhou algumas semanas nas Residências de Verão em Vila Nova da Barquinha. Deambulando pela vila e margens do rio em busca de objectos inesperados encontrou, no armazém do antigo INGA (Instituto Nacional de Investigação e Garantia Agrícola), o mais fecundo arquivo para realização do seu presente trabalho. A partir dele João Seguro criou um livro, que regista fotograficamente a sua viagem a esse mundo inacessível, e as peças de escultura-instalação que apresenta nesta exposição.O referido armazém é um local em perda, um lugar de desperdício, desertificado de acção humana e onde os objectos se apresentam sem futuro. A tarefa do artista pode aqui assimilar-se à de uma campanha arqueológica: João Seguro sinaliza e recolhe dados sobre uma realidade (sociedade) desaparecida ou em vias de desaparecimento ou que se pode encenar como tal.

Tudo o que ali existe (carteiras, cadeiras, pranchas de construção civil, soalhos com marcações desportivas, mobiliário escolar, de escritório, desportivo, edições, …) integrou uma actividade social colectiva (ginásios, escolas, feiras, festas, campanhas cívicas, …) extinta ou que prossegue de outra maneira, com outros materiais e outros objectos. Uma entropia evidente domina o conjunto: numas zonas, os materiais estão bem arrumado, noutras, são simplesmente atirados ao acaso; uns, estão em perfeitas condições de conservação, outros, em degradação acelerada.Um questionamento económico, sociológico ou cultural interessar-se-ia pela origem e destino destes materiais. João Seguro, não esquece estas dimensões mas, no seu questionamento artístico, interessa-se antes por formas e volumes, materiais e objectos, padrões e texturas. E, através desse interesse, questiona uma realidade escondida do público, que podemos evocar como sendo uma “terceira margem” do real e que se oferece como uma “ruína circular”, no sentido de não ter nem princípio nem fim. Sem esconder as origens e os contextos em que tudo foi produzido, consumido, destruído e abandonado Guiado pelo amor das formas, pelo fascínio dos objectos, pelo (re)conhecimento e citação da história da arte o artista regista recolhe, reorganiza, reproduz, readapta e volta a apresentar-nos alguns desses materiais e objectos. O passado imediato contido naquele depósito arqueológico é-nos devolvido através de objectos dispersos, sem necessidade de integrar uma ficção coerente o que acentua a tarefa melancólica deste inquérito subjectivo.”