Decorreu uma visita à antiga Pedreira do Manuel Fernandes (rebatizada Pedreira do Espanhol), localizada nas encostas da Serra d’Aire, no concelho de Torres Novas, onde foram identificados novos trilhos de pegadas de dinossáurios, dispersos numa área com cerca de 10 800 m2, num estrato calcário datado do Jurássico Médio, ou seja, de há cerca de 168 milhões de anos. Esta visita, que visou tornar pública esta nova descoberta e articular vontades e compromissos para a sua salvaguarda e valorização patrimonial, contou com a presença de representantes de diversas entidades, nomeadamente STEA- Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia, Município de Torres Novas, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR LVT), Comissão de Cogestão do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, bem como elementos das comunidade científica. De momento, o local encontra-se em fase de limpeza, para reconhecimento do número total de trilhos e pegadas. Não obstante, foram já reconhecidas pegadas de saurópodes («mãos» e pés), de vários tamanhos, sendo possível a eventual identificação de outros fósseis, à semelhança do que acontece no Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém – Torres Novas. A jazida paleontológica foi identificada há cerca de 20 anos, por João Carvalho, que aguardou pela salvaguarda e proteção das pegadas identificadas na Pedreira do Galinha para divulgar esta nova descoberta. O reconhecimento da utilização daquela área para a prática de atividades TT clandestinas, espoletou agora esta divulgação, uma vez que é urgente a criação de medidas de proteção e salvaguarda do sítio, por parte das entidades competentes, de forma a valorizar este património natural, que é de todos. Nesta ocasião, João Carvalho, que identificou esta jazida, manifestou o seu desejo para o futuro do local: “que seja preservado e que se promova uma visitação através dos caminhos pedestres existentes na zona, impedindo o acesso indiscriminado que provoca danos.” Galopim de Carvalho, geólogo conhecido como «avô dos dinossauros», não pôde estar presente mas fez questão de partilhar o seu testemunho: «Antes de mais, quero felicitar o João Carvalho por mais esta descoberta, que já visitei a convite dele. Felicito, ainda, os presentes, lembrando e agradecendo o papel que tiveram na salvaguarde e valorização do Monumento Natural da Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas, na certeza de que contribuirão, com idêntico empenho, a zelar pela proteção e valorização de mais este importante achado. Não tendo a monumentalidade da jazida da Pedreira do Galinha esta, agora ainda sem nome, é mais um elemento importante a acrescentar ao já notável património geológico e paleontológico do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros.» Vanda Santos, paleontóloga e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que desenvolve trabalho relacionado com pegadas de dinossáurios há mais de 30 anos, não escondeu o seu entusiasmo com o impacto deste achado: “Chegamos aqui com muita expectativa. Não temos ainda a perceção do todo e queremos retirar daqui mais informação. É preciso rastrear, ir atrás. Espero que este local nos traga muitas alegrias.” Luís Lopes, Professor da Universidade de Évora, presidente da Associação Portuguesa de Geólogos e membro do Instituto de Ciências da Terra, agradeceu a oportunidade de estar ali, destacando a enorme geodiversidade existente em Portugal. ” O que queremos é que estes espaços tenham o reconhecimento que merecem. As pegadas ajudam, de forma fabulosa, a contar histórias e a promover a geologia”. O Presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira, manifestou a sua “dupla” satisfação como autarca por ter tido o privilégio de acompanhar a descoberta das primeiras pegadas e agora destas segundas. “É um património de que nos orgulhamos muito e acompanhamos com muito empenho todas as instituições que desenvolvem o seu trabalho científico no nosso território. Há uma necessidade absoluta de classificação deste local, de forma a podermos tirar partido deste património. Preservar, nesta fase, passa por impedir uma utilização inadequada. Numa lógica de complementaridade com o Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios, gostava que este espaço fosse valorizado, tirando partido de uma forma pedagógica. O Município de Torres Novas encara a Serra de Aire como um tesouro natural, desde as suas grutas, à fauna e flora, passando também por achados como este, de enorme relevo.” Para Rui Pombo, diretor regional LVT do ICNF, o primeiro passo é promover um estudo que valide a importância deste achado. “É imperativo que a comunidade científica se pronuncie. Há que estudar, preservar e depois promover, do ponto de vista de uma visitação regrada, sustentada e diferente, sem uma artificialização, e numa ótica de complementaridade com a “pedreira do Galinha”.” José Manuel Alho, Vice-Presidente CCDRLVT, salientou: “A CCDRLVT participa nesta visita com satisfação pelo facto da região estar mais valorizada no domínio do seu património paleontológico, mas sobretudo com sentido de compromisso relativamente ao imperativo de corresponder ao seu estudo, à sua valorização e gestão, de modo a que este património contribua para a promoção e desenvolvimento da região.” Rui Anastácio, presidente da Comissão de Cogestão do PNSAC, considera que há um longo desafio pela frente: “num primeiro momento temos de deixar que a academia análise este achado. Depois, há que trabalhar do ponto de vista da notoriedade do território, para que seja promovido e divulgado de forma a trazer valor e a fixar massa crítica.”
Breve histórico das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire: O Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém/Torres Novas localiza-se na povoação do Bairro, a 10 km de Fátima, no extremo oriental da Serra de Aire, uma das unidades geomorfológicas que compõem o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. É considerado um importantíssimo registo icnofóssil do período Jurássico, o qual inclui as pegadas de alguns dos maiores seres que alguma vez povoaram o planeta Terra: os dinossáurios saurópodes. Este Monumento Natural apresenta excecional interesse paleontológico e didático. Quando da descoberta de pegadas de dinossáurio na designada pedreira do Galinha, nos limites de Ourém e Torres Novas, em 04 de Julho de 1994, revelaram-se para o mundo um conjunto de 20 trilhos produzidos por dinossáurios que apresentavam um excelente estado de conservação, com marcas de pés e de mãos bem definidas, sendo que um desses trilhos, com 147 metros, o mais longo que se conhece produzido por dinossáurios herbívoros e quadrúpedes de pescoço e cauda longos. A abertura ao público do Monumento Natural efetuou-se em 1997, tendo sido criado um circuito pedagógico, onde os visitantes podem aprender mais sobre a história da Terra, através da visualização de painéis informativos e de leitores de paisagem.