«Negativos em Vidro – Olhares dos finais do século XIX e início de XX» é o título da exposição que estará patente de 30 de abril a 29 de maio na Praça do Peixe e na Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes. A mostra expositiva, promovida pelo Município de Torres Novas, tem por base o acervo fotográfico de Cipriano Antunes dos Santos Trincão (com cerca de 2000 registos, entre negativos em vidro e provas fotográficas), entregue à guarda do Arquivo Municipal pelos proprietários Luís Francisco Andrade Pinto Trincão e Maria João Andrade Pinto Trincão, em contrato de depósito datado de 27 de junho de 2012. Cipriano Trincão (1874-1933) foi um fotógrafo de extrema relevância na comunidade torrejana, tendo fotografado diversos locais no concelho de Torres Novas bem como Paris ou os Pirenéus. Segundo fontes orais foi ainda fotógrafo oficial da corte. A abertura formal da exposição está agendada para dia 30 de abril, às 17h, na Praça do Peixe.
Nota biográfica
Cipriano Trincão nasceu em Lapas Torres Novas, no seio de uma família abastada, no dia 17 de Dezembro de 1874, às quatro horas da manhã. Recebeu a sua instrução primária em casa, juntamente com os irmãos, dada por professores particulares. Frequentou o primeiro ciclo dos liceus como aluno interno em colégio religioso, em Torres Novas. Já adolescente, completou os restantes ciclos do liceu em Coimbra, a que se seguiram alguns anos da Faculdade de Letras. Por morte do pai, desistiu dos estudos e voltou para Lapas. Entretanto, passava grandes temporadas em Lisboa, em casa de uma tia, onde conheceu Catarina Luísa Vaz Pinto, então com 16 anos e meio, corria o ano de 1900.
O namoro começou, mas quando se falou em casamento, o pai de Catarina não o consentiu até que Cipriano tivesse um “modo de vida”. Como gostava muito de fotografia, Cipriano seguiu para Paris, em 1901, para aprender as melhores técnicas de fotografia da época, e de onde voltou seis meses depois, tendo na altura feito também um estágio de dois meses em Londres, apetrechado com as melhores máquinas fotográficas e ferramentas para a montagem de uma câmara escura. Chegado a Lisboa, encontrou facilmente emprego na casa de fotografia Warm, na Rua Augusta, mais tarde Afari (estabelecimento que ainda hoje existe), onde durante três anos fez por profissão, o que sempre gostou: fotografia. Casou em 7 de Julho de 1902, em Lisboa, na Igreja do Campo Grande. Com a morte do sogro, tornou-se administrador dos bens da sogra, dos da mulher e dos dele, ficando com tempo para se dedicar à fotografia. Montou então uma casa de fotografia na Rua de S. João da Praça, nº. 30, 2º, e era nesse seu laboratório que fazia as revelações das chapas das imensas fotografias que tirava, quer em Torres Novas, como em Lisboa e arredores, ou nos diversos países para onde viajava anualmente com a mulher.
Foi nomeado como um dos fotógrafos oficiais da corte, em 1901, cargo que manteve até ao fim da Monarquia. Era dotado de um espírito jovial: conta-se que estava sempre de bom humor e tinha um sentido crítico muito grande, em primeiro lugar em relação a si próprio.Faleceu na sua casa de Lisboa, de difteria, em 17 de Junho de 1933, com apenas 59 anos. Foi sepultado em jazigo, no cemitério do Alto de S. João. Perderam-se, infelizmente, muitas das suas fotografias, dada a fragilidade dos primeiros negativos em vidro. Mas, ainda assim, salvou-se uma parte importante e representativa do seu trabalho de fotógrafo e de artista.