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TOMAR – XII Encontro da CPCJ, “Entre nós e laços”. Atar é desejável e Enlaçar é dispensável

Na semana em que se comemorou o trigésimo aniversário da Convenção Universal dos Direitos da Criança, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Tomar, realizou no dia 21 de novembro, na Biblioteca António Cartaxo da Fonseca, o seu XII Encontro anual, subordinado ao sugestivo tema “Entre Nós e Laços”. A propósito desta temática, em termos semânticos, sabemos que os “Nós” permitem estabelecer relações mais fortes, consistentes e duradouras, enquanto que os “Laços” promovem relações mais frágeis, superficiais e instáveis e, por isso, a organização do Encontro pretendeu refletir e discutir esta problemática com todos os convidados e participantes. Para o efeito, no período da manhã, os oradores concentraram-se na abordagem dos problemas inerentes à Família, vista como um sistema complexo de relações internas e externas, com as suas funcionalidades próprias, onde coexistem múltiplos interesses e atores: os progenitores, os filhos, os parentes mais próximos e distantes, os amigos, os vizinhos, os grupos culturais, desportivos e sociais, entre outros.

Depois, de forma criteriosa, os oradores apresentaram alguns desafios a que está sujeita a Parentalidade atual, designadamente os seguintes: a definição e contestação de regras; os limites das esferas privada e pública; o (des)controlo das situações e emoções; as contradições entre o ideal de perfeição e a competição; a culpabilização pela falta de tempo e pelas exigências laborais; a co-parentalidade e a parentalidade partilhada; e ainda as “teias” das novas tecnologias e redes sociais. Neste contexto, também resultou do debate que, outro desafio importante que a parentalidade enfrenta, reside no facto dos vários sistemas (isto é: a família, a escola, os grupos sociais…) não funcionarem de forma convergente, mas pelo contrário, funcionarem de maneira algo divergente, contribuindo assim para dificultar e/ou agravar os problemas de integração, os conflitos e os antagonismos já existentes na sociedade.

Por outro lado, no período da tarde, o Encontro evoluiu com os oradores a problematizarem as questões do divórcio e separação dos pais; os impactos e os riscos do divórcio; as perdas e os lutos daí resultantes; a intervenção terapêutica no divórcio; os novos laços e novas famílias após a separação; e ainda uma original comunicação proferida pelo Juiz Joaquim Silva, do Tribunal de Família e Menores de Mafra.
Com efeito, este experiente Magistrado, revelou-se “enciclopédico” no domínio das ciências comportamentais, baseando as suas teorias no investigador António Damásio, defendendo que as condutas dos humanos derivam dos seus sentimentos e emoções, as organizações e os indivíduos funcionam dentro dos sistemas que os enquadram, as instituições e os cidadãos têm “medos” resultantes da competição exacerbada, e ainda Portugal tem leis em excesso e um sistema montado para julgar os cidadãos.

Efetivamente, este criativo Juiz adota uma postura muito “diferente” da norma, pois não se limita a julgar as situações das crianças e suas famílias, mas também a ajudar os seus protagonistas, desenvolvendo um magistério de “portas abertas”, saindo do seu gabinete para “ir ao terreno” observar e analisar os problemas, sozinho ou acompanhado pela sua equipa técnica. Resumindo, o XII encontro da CPCJ de Tomar assumiu e discutiu abertamente todas as problemáticas agendadas de forma construtiva e positiva, focando-se no principio de que será essencial construir “nós bem atados”, de modo a robustecer as suas atuações e intervenções em vez de as “enlaçar”, pois neste caso rapidamente se desvanecem.

Finalmente, a melhor resposta a estes temas/problemas, foi dada pelo Presidente da Republica que, sobre o aniversário dos Direitos da Criança, sublinhou publicamente que devemos aceitar as crianças, os jovens, os adultos e os idosos tal e qual como eles são, respeitando sempre as suas origens e raças, as suas virtudes e defeitos, as suas grandezas e misérias e, dessa maneira, contribuir para reduzir à menor expressão os dramas pessoais, familiares e sociais dos nossos concidadãos. José Rogério