Início CULTURA TOMAR – O “Saber-Fazer” que permite desenvolver

TOMAR – O “Saber-Fazer” que permite desenvolver

Decorreu em Tomar, nos dias 24 e 25 de outubro, na Biblioteca António Cartaxo da Fonseca, um importante Seminário de âmbito nacional, organizado conjuntamente pelo Município de Tomar e pela Associação Portuguesa do Património Cultural Imaterial. Na realidade, esta meritória iniciativa era, prioritariamente, destinada a associações de artesãos, grupos artístico-culturais, técnicos autárquicos, bibliotecários e museólogos, investigadores e docentes, membros de confrarias e de associações defesa do património, entre outros agentes/atores interessados. Todavia, apesar da enorme relevância do “saber-fazer” tradicional para a memória, identidade e desenvolvimento das gerações atuais, a verdade é que este Seminário teve sempre uma escassa adesão de pessoas, sendo oportuno perguntar onde estiveram os destinatários (locais, regionais e nacionais) e que motivos os levaram a alhear-se desta iniciativa? De facto, perante o grande desinteresse demonstrado, receamos que as festas, as feiras, as romarias, as mostras e demais manifestações culturais e artísticas tradicionais estejam condenadas ao fracasso ou, em alternativa, sejam substituídas e replicadas por eventos de origem industrial ou “sintética”, pois parece que tudo acabará por ser indistinto para os cidadãos e as comunidades…

Mas, voltando ao conteúdo do Seminário, foi bastante enriquecedor conhecer os processos de produção e de candidatura a Património Imaterial da Humanidade, do vasto potencial de raridades e “pedras preciosas” tradicionais que Portugal ostenta nas suas regiões, designadamente as seguintes:
– a arte chocalheira de Alcáçovas, do concelho de Viana do Alentejo;
– a louça preta de Bisalhães, do concelho de Vila Real;
– a olaria e o figurado em barro, de Barcelos e Estremoz;
– a manufatura da renda de Bilros, no concelho de Peniche;
– a arte da Tanoaria em Bucelas, no concelho de Loures;
– os pães e bolos de festas e romarias, em Caldas da Rainha e Resende;
– o linho, os bordados e os lenços, de Viseu, Guimarães e Viana do Castelo;
– a viola braguesa e os Cordofones, de Braga
– o elemento cultural representado pelo Sino, em Braga e no país;
Neste contexto, era inevitável abordar a “joia da coroa” de Tomar e da região centro do país – ou seja, a grande Festa dos Tabuleiros – onde o Antropólogo André Camponês apresentou os seus antecedentes históricos, a articulação do “saber- fazer” nos seus elementos tradicionais, o período de revitalização da festa e ainda a introdução de diversos segmentos estruturantes até aos dias de hoje: os cortejos parciais, as ruas ornamentadas, os jogos populares, o cortejo do mordomo e o cortejo dos rapazes.
Efetivamente, pelo menos, neste momento, era expectável que os tomarenses aderissem em maior número à Biblioteca Municipal, de modo a participarem na reflexão e discussão da vibrante temática da “Festa dos Tabuleiros”, mas lamentavelmente a indiferença continuou, permitindo assim inferir que muitos nabantinos apenas estão interessados na espetacularidade e mediatismo da festa maior do concelho.
Por fim, este notável Seminário de dimensão nacional, encerrou com a apresentação de dois importantes “marcos” documentais: a fotografia, observada como uma valiosa contribuição para a defesa dos bens materiais e/ou imateriais e também um pedagógico livro sobre o Património Cultural Imaterial, da autoria do antropólogo Luís Marques, Presidente da Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Imaterial.
José Rogério