A Ronda das Adegas pela diretora do Rancho de Alviobeira – Manuela Santos: “Já com o final de ano a avistar-se, ainda há tempo para a realização de mais um evento, sendo que, este, é especial e ansiado por todos com alguma expectativa. Todos já conhecem o conceito do evento “Ronda das Adegas”, mas a curiosidade sobre os locais eleitos e as actividades escolhidas paras os mesmos, mantém-se até ao último minuto. Este é um evento que cresceu, – e a vários níveis – apresentando-se, agora “mais variado e ainda mais ecléctico”. Para quem gosta de construções antigas, natureza, pessoas, sabores de outros tempos, não há melhor evento que este. As pedras, árvores, caminhos, lareiras, utensílios, ganham vida e contam histórias. Por momentos o silêncio que impera nestes locais é quebrado pelas vozes animadas de todos aqueles que aceitam o convite do RFEA e embarcam nesta aventura. Não há evento que dê mais prazer de organizar que este. A procura, descoberta e visita aos locais é interessante, assim como o diálogo com os proprietários e a partilha das suas histórias contadas num registo de emoção, saudade, alegria e dor. Na limpeza dos espaços descobrem-se utensílios de trabalho, peças de mobiliário e tantos outros elementos decorativos, esquecidos à medida que foram substituídos por outros mais modernos e mais eficientes mas desprovidos de história.
Este ano o circuito escolhido contemplou casas antigas, adegas, espaços verdes, eiras, quintas, capelas espalhadas pelos lugares de Alviobeira, Cêras, Quinta do Boim, Casal Velho, Ganados, Dejusta, Casais, Torre e Azeites de Alviobeira e embora a chuva teimasse em cair, não assustou os participantes que se deslocaram em alguns locais a pé, e nas distâncias maiores, de autocarro alugado para o efeito. A comida, expressão de cultura, memória e identidade, tem também um papel de relevo nesta Ronda. Os sabores são tradicionais e levam-nos a viajar até às cozinhas das nossas avós e bisavós e ao sabor único e especial da sua comida. Se a comida é tradicional, já os espectáculos apresentados e escolhidos de acordo com a mística de cada local vão desde o tradicional ao mais alternativo, pretendendo mexer com as emoções do espectador. Por fim, mas não menos importantes os cheiros, a memória olfativa é uma das mais duradouras, ultrapassando a capacidade da visão e da audição de reter referências. O cheiro de cada lembrança é como uma máquina do tempo das sensações. Bastam apenas poucos segundos para que os aromas nos façam reviver experiências – sejam elas boas ou ruins. Aqui os cheiros são intensos e inesquecíveis, daqueles que impregnam o corpo e a alma.
No final do circuito, com a chuva a não dar tréguas, uma comidinha quente na Quinta da Runfeira. A chuva era muita, o fumo enchia a cozinha da Runfeira e a confusão estava instaurada, aquela que diverte e fortalece. Para terminar o dia um concerto caseiro, feito com amigos e para amigos. A sala de concertos improvisada foi a adega da Runfeira, o lagar de uvas serviu de palco improvisado, e embora o conforto não fosse muito, – pormenores sem importância- , o momento foi especial. O momento teve a presença dos seguintes artistas: o Hugo, que acompanhou à viola o Mendes, Zé Carlos e Catarina, a Fatinha uma voz da qual já tínhamos saudade, o Paulo e João uma presença habitual da Ronda e do poeta Jorge Roberto do Mourolinho. Boa música acompanhada de velhoses acabadinhos de fritar e café da cafeteria, há lá coisa melhor!?”. António Freitas