A Assembleia da Serra e Junceira voltou atrás na decisão que tinha tomado e, agora, «a bem da Festa dos Tabuleiros», aprovou a «omissão da identificação das freguesias nas fitas» das senhoras que irão integrar o Cortejo principal, a 9 de Julho próximo. No entanto, apesar deste recuo, a Junta de Freguesia fica «mandatada «para aferir da legalidade da tomada de posição por parte dos decisores quanto à imposição da omissão da identificação das freguesias nas fitas das raparigas, com a necessária ação no tribunal competente». A deliberação – enviada para a redação da Hertz – não poupa críticas ao Mordomo Mário Formiga e a «alguns elementos da Comissão», referindo mesmo que está em causa uma imposição que pode «vir a ser entendido como inqualificável desafio à população da Serra e da Junceira». O texto lamenta, ainda, que «por ausência de regras quanto à tradição e alguma falta de rigor, a Festa tem sido alvo de profundas mutações nos últimos sessenta anos, desde a montagem dos tabuleiros aos materiais utilizados, numa lógica de “modernização” absolutamente inaceitável (…) Como em muitos dos casos as decisões não têm tido rosto, as alterações vão surgindo naturalmente com imposições policromáticas de maneira a diluir as freguesias rurais num todo, com o único objetivo de limitar a Festa à cidade, como, aliás, já se verifica com o número de tabuleiros».
Eis o comunicado, na íntegra, do presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Serra e Junceira: «Embora em 1950 as freguesias rurais tenham sido chamadas a participar na Festa dos Tabuleiros, conforme diplomas de que muito nos orgulhamos, só na edição seguinte, em 1953, então com a grande reforma da festa, as freguesias passaram a ser identificadas pela côr da fita das raparigas e da gravata dos rapazes, a que mais tarde se adicionou a inscrição do nome da própria freguesia. Ao introduzirem e complementarem estas e outras alterações pretenderam os seus autores, ilustres e destacadas figuras da sociedade tomarense, que a festa passasse de modesta expressão local a dimensão concelhia, com o envolvimento da população em geral. E para reforçar tal desiderato em 1960 a Câmara Municipal ofereceu coroas do Divino Espírito Santos às freguesias rurais – (que a partir de então passaram a integrar as saídas das coroas que antecedem o grande cortejo) – para assim e ainda mais as envolver naquilo que hoje é: a maior Festa da região e uma das maiores do País. Por ausência de regras quanto à tradição e alguma falta de rigor, a Festa tem sido alvo de profundas mutações nos últimos sessenta anos, desde a montagem dos tabuleiros aos materiais utilizados, numa lógica de “modernização” absolutamente inaceitável, por contrária aos usos, costumes e tradições, facilmente percetível em vídeos e reportagens fotográficas de “fontes” abertas. Como em muitos dos casos as decisões não tem tido rosto, as alterações vão surgindo naturalmente com imposições policromáticas de maneira a diluir as freguesias rurais num todo, com o único objetivo de limitar a Festa à cidade, como, aliás, já se verifica com o número de tabuleiros. A decisão e imposição da omissão do nome das freguesias nas fitas das raparigas ilegitimamente tomada pelo atual Mordomo e os Presidentes de Junta, além de incompreensível, dificilmente será enquadrável na fidelização tradicional, suporte à inscrição da Festa dos Tabuleiros no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, já aceite, e futura candidatura Património Imaterial da Unesco. As tradições, usos e costumes não se podem ir mudando conforme o ponto de vista de cada um em determinado momento. Em sessão ordinária de 23dez22, reiterada em sessão de 22abr23, a Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Serra e Junceira, enquanto órgão representativo do povo da sua área geográfica, único com competência para se pronunciar acerca desta matéria, deliberou pela “manutenção da identificação das freguesias de Serra e Junceira nas fitas das raparigas que levam tabuleiro”. Porém, a 24mai23, em reunião na sede da Comissão Central da Festa dos Tabuleiros – Casa Vieira Guimarães – o Mordomo, alguns elementos da Comissão dos Cortejos e dez Presidentes de Junta, reafirmaram não só a sua posição quanto à omissão do nome das freguesias nas fitas das raparigas, como a consideraram obrigatória para todos os participantes, sem o mínimo rebuço de tal poder vir a ser entendido como inqualificável desafio à população da Serra e da Junceira. A Festa dos Tabuleiros é o orgulho de todos nós. As pessoas passam, a Festa fica. Neste sentido, porque a Festa dos Tabuleiros é muito maior que os interesses corporativos ou individuais de cada um; porque os naturais e residentes das freguesias da Serra e da Junceira são pessoas de bem, ordeiras, responsáveis e acima de tudo tomarenses; e para evitar qualquer situação que possa manchar o brilho que se pretende para a Festa de todos nós, em sessão ordinária de 24jun23, a Assembleia de Freguesia de Serra e Junceira, com quatro votos a favor, dois votos contra e três abstenções, deliberou:
1 – Reverter as deliberações de 23dez22 e 22abr23, aprovando a proposta de “omissão da identificação das freguesias nas fitas das raparigas”, mas “mantendo a côr vermelha na representação da Serra e a côr rosa na representação da Junceira”;
2 – Mandatar a Junta de Freguesia para aferir da legalidade da tomada de posição por parte dos decisores quanto á imposição da omissão da identificação das freguesias nas fitas das raparigas, com a necessária ação no tribunal competente».