Referem os que já tem mais de oitenta anos de idade que as festas de Ceras eram as festas mais importantes e mais movimentadas na região nordeste do concelho de Tomar e lembram os bailes na Estrada Nacional 110 com um Jazz naquele tempo e que congregavam mais de 2 mil pessoas, cujos pares se desviavam quando de tempos a tempos lá passava um camioneta. Depois o fogo de artifício, as rodas de fogo, a procissão. A cachaporra de criar bicho e após a festa as canas dos foguetes espetadas nos quintais nas suas quedas vertiginosas, mais pareciam canaviais de suporte de feijão de subir. Memórias que algumas fotos retratam tiradas por gente mais abastada da aldeia, a aldeia que foi dos Templários, da família Godinho Faria, do Dr. Faria o médico da aldeia; do Professor Godinho, que teve registo notarial, botica de remédios e um solar- A Casa da Eira.
Uma capela rica em estilo, de 1755, condicente com gente abastada , os donos da terra, que empregavam magotes de povo e numa altura em que só fazia festa religiosa e grande, quem tinha posses, poderio económico. Daí a tradição! Quem já caminha para os 58 anos de idade e “nasceu na festa”, lembra os amigos de infância que partem em busca de vida, roga pragas e desdém quem renega às suas raízes ou origens e, chora de saudade por gente boa que partiu e amou a sua festa e a colocou acima de tudo. Seria ou será a fé em Nª Srª da Ajuda? Certamente. Hoje numa aldeia despovoada e de gente idosa, a saída à rua de um singela procissão é algo que não nos pode deixar indiferentes, a não ser que nunca tenha vivido a festa! Mas nesse mesmo dia, de manhã o tradicional peditório. Casa e casa, a começar no cimo de Ceras e a acabar na Ponte de Ceras. Sem a a filarmónica neste ato. É bom lembrar que sem o donativo não há suporte económico para pagar a festa, para pagar à banda filarmónica ( presença obrigatória na procissão) aos conjuntos ou organistas, ao som e iluminação, aos cada vez mais caros Direitos de Autor. Hoje sem o estralejar de foguetes, que davam pelo ribombar das bombas se a pessoa tinha dado 500$00 ou 1.000$00 ou cinco contos, a charrete obrigatória do José Manuel do Fumeiro dos Templários , quem vem a Ceras por “amor e paixão” há mais de 15 anos, a bandeira religiosa, do festeiro mor paramentado com a opa, o escrivão e o saco “azul” ou de outra cor garrida. É comovente! Quem abre as poucas portas são os mais idosos, que beijam a bandeira, enxugam lágrimas nos olhos, dão às vezes com sacrifício a sua “esmola” sempre com fé em Nª Srª da Ajuda. E desde os 5 euros aos 500,00 ou 250,00 vai-se anotando. Com muita casa fechada, e com outras de alguns que há muito perderam a fé, ou nunca a tiveram, mas que nasceram ou estão ligados à terra mas não se lembram ou esntendem que uma ajuda mesmo pequena de todos garante que se possa fazer a festa, ou seja manter a tradição. Passa-se lugar abaixo. Depois a procissão, sempre solene e do cimo ao fundo do lugar, com a imagem quer recebemos de quem viveu neste terra – Nª Srª da Ajuda e não com réplicas. Quanto ao resto da festa vale o convívio, o rever amigos, e conhecidos. Janta-se ou almoça-se na festa e temos que dar os parabéns a quem consegue por a festa em pé. E são esses voluntários que dão o corpo ao manifesto e trabalhando arduamente, se consegue manter esta tradição. Terá os dias contados? Será conotada como uma “escamisada”? Sim pode ser, mas uma coisa tem sempre presente – uma tradição, uma história e uma fé imbalável. Esses são os maiores valores que se querem manter, enquanto for possível para manter a chama viva, numa aldeia que foi pioneira nas festas e que conseguiu fazer a sua edição de 2017 como manda a tradição. De parabéns todos os que trabalharam, ajudaram e colaboraram. Que em 2018 se consiga!
António Freitas