A Comissão Política do Partido Socialista de Tomar, reunida no sábado, decidiu, por unanimidade, reconhecer e confirmar a inexistência de condições para manter a relação de confiança política ao militante Luís Ferreira, na sequência dos desenvolvimentos dos factos e atitudes protagonizados pelo militante em prejuízo do Partido Socialista, seus militantes, da Câmara e da Assembleia Municipal. Recorde-se que Luís Ferreira desvinculou-se de membro da Assembleia Municipal de Tomar onde estava como eleito do Partido Socialista. Esta decisão pessoal foi comunicada à presidência daquele órgão, numa missiva enviada, também, para a redacção da Hertz, onde o ex-chefe de gabinete de Anabela Freitas refere que «deixa de integrar o grupo municipal socialista», passando, «nos termos previstos a exercer o seu mandato como deputado não adstrito». Por tudo aquilo que já foi tornado público, Luís Ferreira terá tomado esta decisão por divergências com a forma como está a ser feita a condução política no concelho nabantino. Entretanto a Hertz ouviu Hugo Costa, presidente da Concelhia do PS de Tomar, sobre esta tomada de posição e também sobre um eventual afastamento de Luís Ferreira como militante do partido: «Atendendo a um conjunto de factos conhecidos, de colocação de informação tentando transparecer que eram do Partido quando não o eram, colocando também um conjunto de notícias e de entrevistas… o Partido Socialista decidiu demonstrar que não existe uma relação de confiança política com o militante. O Partido Socialista não tinha outra hipótese senão demarcar-se. A expulsão do Partido não será uma decisão minha mas de outros órgãos. O que lhe posso dizer enquanto presidente da Concelhia é que o militante Luís Ferreira deixou de fazer parte da bancada municipal do PS, assim como já não faz parte do Secretariado Distrital… É óbvio que já não pode existir uma relação de confiança».
Eis o Comunicado emitido pela Concelhia de Tomar do Partido Socialista:
«Tendo reunido a Comissão Politica do Partido Socialista de Tomar, hoje dia 24 de Setembro de 2016, na sequência dos desenvolvimentos políticos mais recentes decidiu tornar público o seguinte comunicado:
1.Considerando os factos e atitudes protagonizados pelo militante Luís Ferreira em prejuízo do Partido Socialista, seus militantes, da Câmara e da Assembleia Municipal a Comissão Politica decidiu por unanimidade reconhecer e confirmar a inexistência de condições para manter a relação de confiança política ao militante em causa;
2.Recordar, mais uma vez, que pelo PS Tomar se pronunciam os seus órgãos estatutários (nomeadamente o presidente da concelhia, secretariado e comissão política concelhia), não sendo admissível nem tolerável que quaisquer outras apreciações (verdadeiras ou falsas) sejam entendidas como vinculando o PS. Essas afirmações só comprometem os seus autores.
3.Sublinhar o trabalho do executivo camarário, ponderada mas arrojadamente concretizado, para a resolução de problemas graves do concelho, uns com muitas décadas, outros mais recentes (caso do Mercado Municipal, Parque T ou dezenas de estradas), de modo a dotar o concelho de melhor condições para encarar o futuro;
4.Reconhecer o empenho que vem sendo posto em prática pelos autarcas das freguesias do Partido Socialista, demonstrando a sua capacidade para resolver os reais problemas das populações, honrando e dignificando desinteressadamente o nome do partido, mas também a função para a qual foram eleitos;
5.Manifestar o nosso agrado pela confirmação, na voz do senhor Ministro da Saúde, sobre o regresso, ainda durante o mês de Outubro, da Medicina Interna ao Hospital de Nossa Senhora da Graça em Tomar»
LUÍS FERREIRA REAGE – Entretanto já há uma reacção de Luís Ferreira à posição assumida pela Comissão Política Concelhia do PS. Em entrevista exclusiva à Hertz, o socialista confirmou que essa relação de confiança não existe: «Quero constatar que a não existência de uma relação de confiança entre mim e o PS, assim como o afastamento dos órgãos distritais a meu pedido». Entretanto, numa nota pública enviada para a Hertz, Luís Ferreira reforçou a sua posição:
«Na sequência da minha desvinculação da bancada municipal do Partido Socialista na Assembleia Municipal de Tomar, tomada na passada sexta-feira dia 23 de setembro, antecedida pelo meu pedido de saída do secretariado da Federação de Santarém do PS, a 22 de setembro, por razões políticas que expliquei circunstanciadamente aos respetivos presidentes dos órgãos partidários, cumpre-me informar que não detenho quaisquer responsabilidades executivas no PS, que me obriguem a dar especial suporte à condução da política autárquica seguida pelo executivo municipal em Tomar. Todas as minhas atitudes e ações são e foram tomadas, no estrito respeito pela revisitação constante que faço, quer à declaração de princípios do PS, quer aos programas eleitorais que este tem apresentado à população tomarense e aos quais, como deputado municipal eleito, me encontro vinculado hoje, como sempre o fiz no passado e assim pretendo que seja até ao final do presente mandato.
A fuga para a frente encetada pela gestão municipal, a qual não só não presta as informações, nem os envolve nas decisões, retirando-lhes assim as condições para o cabal desempenho da missão dos dirigentes da sua comissão política e muito especialmente dos seus autarcas, como reage de forma descabida e exagerada a qualquer esboço de sugestão de melhoria, crítica ou tão só aos alertas para a necessidade de discutir com maior profundidade os temas da gestão municipal, só demonstra que carece a mesma de capacidade de liderança, afirmação regional do papel de Tomar e prossecução da estratégia capaz de implementar a agenda de mudança a que todos nós, os eleitos do PS, nos comprometemos.
Os sinais de alarme e os avisos têm sido constantes, e mais fácil do que resolver os problemas e os constrangimentos existentes, é olhar para os mensageiros e ver neles as razões das incapacidades que, pouco a pouco, se vão tornando mais notórias. Objetivamente se percebe que hoje, tudo corre muito melhor do que há um ano atrás, a motivação dos funcionários, a eficácia da ação decisória, os resultados alcançados, demonstram que o problema do Município, quiçá do Concelho ou do mundo eram as ações e as opiniões do autarca municipal Luis Ferreira. Muito provavelmente será deste novo tempo que vivemos, mas os amanhãs que cantam, conseguiram o seu nirvana em Tomar. Cumpre-me assim, neste contexto, informar que manterei a condução da minha ação, como dirigente dos órgãos deliberativos do PS, concelhios e distritais, e como deputado municipal pelo Programa Eleitoral do PS apresentado aos eleitores em 2013, no respeito pelo mandato dado a todos os eleitos do PS. Mais me cumpre informar que não falo, não escrevo, não opino em nome do PS e todas as propostas que submeterei a escrutínio público são realizadas a nível individual, no respeito, quer pelos valores do PS, quer pelo programa eleitoral por este apresentado e, muito especialmente, pelo superior interesse da comunidade Tomarense.
Resta-me por último esperar, como socialista e como Tomarense que, os nossos autarcas percebam que não são os donos da verdade, que quanto mais foram os assuntos discutidos e os contributos diversos recolhidos, mais fácil é a implementação das soluções, das medidas ou das estratégias que sejam úteis ao Concelho de Tomar. Sem querer ser exaustivo considero que há muitos motivos de orgulho pelo trabalho já realizado no decurso deste mandato, de onde destaco o novo e reconhecido por todos os presidentes de junta, novo relacionamento com as Freguesias, conseguindo potenciar os investimentos disponíveis por estas e pelo Município. Foi uma luta de muitos anos de todos os autarcas do PS e trouxe Tomar para o século XXI da afirmação das parcerias, como forma de resolução de muitos dos, ainda existentes, problemas de infraestruturas nas aldeias e na cidade. Acompanho ainda os órgãos do PS, no regozijo pela resolução do endémico problema da dívida à ParqueT e pela satisfação do cumprimento da palavra do Ministério, pela reabertura da medicina interna no nosso Hospital.
Compreendo ainda que, a constatação da não existência de confiança política do PS em mim, decorre da minha não confiança política atual nos protagonistas da gestão municipal, por alguns exemplos que dou: não querer analisar as consequências objetivas do acordo com a CDU, quando é notório o ascendente perigoso do seu vereador sobre a pessoa da presidente de câmara; na ineficácia da gestão dos pelouros sobre a sua responsabilidade do vereador da CDU; ou no arrastar da implementação das soluções para o atravessamento de Palhavã; do arranjo da Várzea Grande; da redução do tempo de espera em diversos serviços do Município; no adequado tratamento da recolha de lixo, espacialmente na área rural do Concelho; no erro de não terem sido entregues os jardins à gestão, notoriamente eficiente, da junta urbana; no encerramento durante quase um ano dos parques infantis da cidade, por mero exagero jurídico; no atabalhoado processo de encerramento de escolas, em divergência com aquela que sempre foi a posição histórica do PS sobre o assunto; na entrega casuística de escolas, sem plano e finalmente na gestão infantil que se está a fazer do dossier do Flecheiro.
Por último resta-me desejar que, apesar desta minha não confiança, que me levou a tal tomada de posição pública, a mesma possa ser revertida por desaparecimento dos motivos que a motivou e que a candidatura do PS às eleições de 2017, onde nas atuais condições naturalmente não estarei, consiga levar de vencida as tíbias oposições existentes, as quais no passado pouco provaram de melhor para Tomar».
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