Início CULTURA TOMAR – Bibliotecando convocou os melhores para abrir portas de hospitalidade

TOMAR – Bibliotecando convocou os melhores para abrir portas de hospitalidade

Embora não se integrasse oficialmente nas comemorações, a 14ª edição do Bibliotecando em Tomar foi, na prática, a melhor forma de encerrar nesta cidade a celebração do cinquentenário do 25 de Abril. Com o tema “Da hostilidade à hospitalidade: um caminho de paz”, o encontro reuniu alguns dos melhores pensadores portugueses e lusófonos da atualidade para refletirem sobre aquele que é hoje o maior desafio da sociedade democrática em Portugal, mas também no resto do mundo. Aliás, foi logo a vice-presidente da Câmara, Filipa Fernandes, quem estabeleceu essa ligação na sessão de abertura, após a qual o poema “Liberté”, de Paul Éluard, foi lido a duas vozes, em português e francês, neste último caso por uma francesa residente no concelho, dando o mote para o abrir de portas ao outro. E que continuou logo de seguida, no primeiro painel, dedicado à obra de Ana Paula Tavares, escritora angolana, que foi agraciada com o Prémio Bibliotecando 2024, uma gravura da autoria de Rita Gaspar Vieira, entregue pelo presidente do Instituto Politécnico, João Coroado. Numa mesa dirigida pelo presidente da Comissão de Honra do evento, Guilherme d’Oliveira Martins, e em que participaram as professoras brasileiras Tania Macêdo e Carmen Tindó Secco (esta por videoconferência), a sua obra, profundamente enraízada nas culturas orais e populares de Angola, e em que a mulher é central, foi apresentada através de uma multiplicidade de olhares que, mais uma vez, potenciaram o ponto de vista do outro. Se as bibliotecas são os principais repositórios do saber, quem passou estes dois dias na António Cartaxo da Fonseca teve o privilégio de aceder diretamente a algumas das fontes mais cristalinas de onde esse saber flui para os livros. E assim pôde contactar, ainda no primeiro dia, com a erudição de José Gil sobre esta temática; com as perspetivas científicas, médicas e até terapêuticas como foi abordada por Eduardo Barroso, Pedro Simas e Sandra Barão Nobre; com o modo como os escritores João de Melo e Ana Paula Tavares, com a moderação de Graça Quádrio, fizeram um diálogo de culturas, mesmo mexendo nas feridas da guerra colonial; ou como João Carlos Seabra Pereira continuou a trazer-nos coisas novas sobre Luís de Camões. No sábado, abriram-se janelas sobre um futuro que já está presente, com Ricardo Cruz, Alexandre Castro Caldas e Laborinho Lúcio, coadjuvados por Célio Marques, a desvendarem as fronteiras fluidas da inteligência artificial; sobre a língua enquanto espaço de hospitalidade, com Graça Capinha e Joaquim Arena, a convocarem-nos, com moderação de Cristina Barros, para espaços desconhecidos do nosso idioma; sobre a forma como a arte contemporânea pode fortalecer laços históricos mas também ser fonte de hostilidade no espaço religioso, com Rita Gaspar Vieira e Marco Daniel Duarte; e, por fim, voltando ao repto inicial, sobre o exercício da democracia na aceitação e na recusa, tendo em conta a defesa dessa própria democracia, em que Ana Bento Moucho ouviu as opiniões de Afonso Seixas-Nunes, Isabel Baltazar e Vasco Becker-Weinberg. Pelo meio, além de um “mergulho” sempre retemperador no bucólico jardim do Mouchão e no icónico Congresso da Sopa, houve palavras ditas de rebeldia e de apaziguamento, de autores conotados com o “outro”, de povos em tensão postos lado a lado. Chamaram-lhes “Chez moi, chez toi – Palavras volantes de bem receber”, com coordenação de Nuno Garcia Lopes e participações de Anne Marie, Graça Arrimar e um grupo de alunas do 6º G da Escola Nuno Álvares Pereira. O Bibliotecando em Tomar resulta de uma profícua parceria entre várias entidades, nomeadamente os Agrupamentos de Escolas Nuno de Santa Maria e Templários, o Município de Tomar, o Centro de Formação “Os Templários”, o Centro Nacional de Cultura, o Instituto Politécnico de Tomar e a Rede de Bibliotecas Escolares. No final desta edição, com todos os parceiros representados na mesa, saudou-se o êxito da mesma, enalteceu-se o papel de coordenação que tem vindo a ser feito por Agripina Carriço Vieira e abriu-se a janela para o próximo: “Centro e periferias – um diálogo necessário”.