Confirmou-se o expetável em Tomar. A Assembleia Municipal Extraordinária que estava marcada para este 25 de Novembro, dedicada, precisamente, ao 25 de Novembro de 1975, acabou por ficar sem efeito por falta de quórum, ou seja, não estava presente a maioria dos eleitos que compõem aquele órgão. O cenário foi, assim, o esperado uma vez que tanto o Partido Socialista como a CDU confirmaram, horas antes, essa ausência, uma ausência que teve paralelo no Bloco de Esquerda. Também os Independentes do Nordeste não estiveram representados mas, aqui, por doença de Américo Pereira. E tudo isto num salão nobre lotado. Desta forma, será feito um reagendamento desta sessão, sendo que, nessa vez, a reunião será mesmo realizada, independentemente do número de eleitos. A Hertz procurou a reação dos Partidos que marcaram presença na Assembleia, como foi o caso do PSD. João Tenreiro, líder da bancada social-democrata, acusou as forças que faltaram de «conviverem mal com a democracia»:
Por sua vez, Francisco Tavares, do CDS, disse à Hertz que este episódio «terá sido das maiores vergonhas da democracia tomarense», acusando o presidente da Câmara, Hugo Cristóvão, de «falta de consideração e respeito»:
A outra força partidária que marcou presença no Salão Nobre foi o Chega. O eleito Américo Costa falou num ato de «covardia»:
A Hertz procurou, ainda, a reação de Hugo Cristóvão, presidente da Câmara de Tomar, ele que foi, então, visado pelas forças que se fizeram representar na sessão deste 25 de Novembro. O autarca lamenta que se criem «problemas artificiais» e acusa o PSD de «colocar em causa a imagem do próprio município», «num claro atropelo à maioria», acrescentou:
Refira-se que, segundo o Regulamento da Assembleia Municipal de Tomar, os eleitos podem perder o mandato quando «sem motivo justificado, deixem de comparecer a três sessões ou a seis reuniões seguidas, ou a seis sessões ou a doze reuniões interpoladas».
Bloco de Esquerda reage – Entretanto, depois de PS e CDU já se terem pronunciado, em comunicado, nesta segunda-feira, agora foi a vez do Bloco de Esquerda, através da Coordenadora de Tomar, assumir uma posição sobre o sucedido. O texto refere que «a democracia, as liberdades individuais e coletivas, a liberdade de expressão, o pluralismo partidário, a liberdade de reunião, os direitos sindicais, a liberdade sindical, o direito ao voto, tudo isso nasceu com o 25 de Abril. Nada disso devemos ao 25 de novembro. Quem ainda hoje repete a velha ladainha de que o 25 de Abril não deu aos portugueses a verdadeira liberdade bem pode vir apresentar-se como herdeiro de novembro, mas é na verdade um derrotado de Abril».
Eis o comunicado, na íntegra: «Depois de uma moção a propor a celebração do 25 de novembro de 1975 ter sido reprovada por maioria na Assembleia Municipal em 2023, os grupos municipais do PSD e do CDS- PP recorreram, no presente ano, ao regimento para requerer a realização de uma Assembleia Municipal Extraordinária comemorativa do 25 de novembro, tendo para o efeito reunido as assinaturas de um terço dos deputados. Constatando-se que no regimento da AM apenas está prevista a realização das sessões extraordinárias comemorativas do 25 de Abril de 1974 e do dia 1 de março, os grupos municipais do PSD e CDS-PP apresentaram um novo requerimento, passando a constar do mesmo, “Análise Histórica do Golpe Militar do dia 25 de novembro de 1975, no contexto da consolidação da democracia em Portugal”, impuseram assim a vontade da minoria à maioria. Estamos assim perante uma Assembleia Municipal Extraordinária com uma temática especializada de “análise histórica” e para a qual, diga-se em abono da verdade, a maioria dos membros da assembleia não estará certamente habilitada. Aliás, a capacidade de “análise histórica” dos grupos municipais do PSD e do CDS-PP ficou bem patente nos votos de aprovação de uma moção apresentada pelo partido Chega em novembro de 2023 que referia que “Em 25 de novembro de 1975, ocorreu um confronto militar entre forças de esquerda e de direita em Lisboa, conhecido como a Revolução de 25 de novembro”. Estamos perante “analistas históricos” que validaram a “criação” uma nova revolução e que consideraram que a mesma foi o confronto foi entre a esquerda e a direita, englobando assim o PS na dita direita. Tudo dito! Quanto à necessidade de analisar historicamente o 25 de novembro de 1975 o BE afirma que “Portugal despertou do pesadelo da ditadura no dia 25 de abril de 1974. Um ano e meio depois, no dia 26 de novembro de 1975, o horizonte do país continuava a escrever-se em três palavras: liberdade, democracia, socialismo. As palavras que a Revolução escreveu, o 25 de novembro não apagou. A democracia, as liberdades individuais e coletivas, a liberdade de expressão, o pluralismo partidário, a liberdade de reunião, os direitos sindicais, a liberdade sindical, o direito ao voto, tudo isso nasceu com o 25 de Abril. Nada disso devemos ao 25 de novembro. Quem ainda hoje repete a velha ladainha de que o 25 de Abril não deu aos portugueses a verdadeira liberdade bem pode vir apresentar-se como herdeiro de novembro, mas é na verdade um derrotado de Abril.
A atual mistificação sobre o significado histórico do 25 de novembro é uma manobra de derrotados de abril. Daqueles que, como lembrou o ex-líder parlamentar do PSD, Pacheco Pereira, em 74 e 75 eram partidários da ditadura que oprimiu os portugueses. Quem quer diminuir o 25 de abril só convoca os saudosistas do 24.” Passados 49 anos, durante os quais nenhuma maioria parlamentar se lembrou de celebrar o 25 de novembro, estar em 2024 a propor uma celebração ou uma análise histórica do 25 de novembro de 1975 é procurar diminuir a importância histórica da Revolução do 25 de Abril e criar desunião entre portugueses, e com isso o Bloco de Esquerda não pode compactuar. Para o Bloco de Esquerda, o 25 de novembro que devia ser assinalado e unir as forças partidárias, é o que celebra o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, porque em Portugal todos os anos dezenas de mulheres são assassinadas em contexto de violência doméstica, registando-se este ano mais vinte e cinco vítimas, urge celebrar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres e acabar com esse flagelo.
Num país em que apenas entre janeiro e setembro do presente ano, 344 mulheres foram violadas, urge unir forças pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. Num país onde ano após ano, os números da Violência Contra as Mulheres nos envergonham a todos, os dados mais recentes do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2023 indicam que a violência doméstica contra cônjuge ou situação análoga continuou a ser o crime mais participado em Portugal (30 461 participações), e que do total de vítimas de violência doméstica, a maioria são mulheres e raparigas, é imperioso louvar o trabalho diário das associações, organizações não-governamentais, movimentos e serviços sociais do Estado que prestam apoio às mulheres vítimas de violência e lutam pela erradicação da violência na sociedade portuguesa. Se para a direita, passados 49 anos, a preocupação é rescrever a história na tentativa vã de desvalorizar o 25 de Abril, para o Bloco de Esquerda a preocupação é a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. São opções. Viva o Socialismo! Fascismo nunca mais! Viva a Revolução! 25 de abril, sempre!».