O concelho de Tomar, e em particular a freguesia de Asseiceira, conta desde domingo com mais uma obra imprescindível para a salvaguarda de um dos ofícios típicos deste território, a olaria, cuja presença é notória, nomeadamente, nas tradições associadas à Festa dos Tabuleiros. Da autoria de José Joaquim Ferreira Marques, “Asseiceira: a arte de trabalhar o barro vermelho” é um livro extremamente detalhado sobre a tradição dos oleiros e talheiros do sul do concelho, onde a terra predominantemente argilosa criou condições para o desenvolvimento do ofício, hoje já feito por poucos, apesar da grande procura deste tipo de peças. O livro inclui uma introdução, da responsabilidade de André Camponês, investigador do Techn&Art do Instituto Politécnico de Tomar, com o enquadramento histórico da olaria e cerâmica no concelho. Segue-se um conjunto de capítulos que vão desde o barro e da sua preparação, às ferramentas, processos de secagem e cozedura e explicações detalhadas sobre os diversos utensílios fabricados, desde as vistosas talhas em que hoje se volta a fazer vinho aos tradicionais cântaros em que a água da Asseiceira era vendida na cidade nos anos de novecentos, passando pelos materiais de construção de há um século atrás: adobos, tijolos e telhas, feitos manualmente e cozidos, muitas vezes, em fornos a céu aberto. Tudo muito bem documentado com fotografias e ilustrações, num processo de recolha que começou em 1972 e teve há cerca de um ano o seu recomeço, editado pela Textiverso Editora, com o apoio da Casa das Talhas, da Junta de Freguesia de Asseiceira, da Red Minerals e do Município de Tomar. A apresentação foi feita no Centro Cultural de Asseiceira, completamente cheio, incluindo oleiros e familiares. Além do presidente da Junta, Carlos Rodrigues, da vereadora Filipa Fernandes e do autor, a com a moderação de Vânia Figueiredo, foram ainda oradores André Camponês e Nuno Fonseca. No vídeo com que terminou a sessão foi possível ouvir ainda os depoimentos de José da Costa Gameiro (José “Cuco”) e José Miguel Figueiredo, os dois últimos oleiros de Asseiceira em atividade, o primeiro dos quais já só esporadicamente. Houve também um momento musical, que incluiu o cântaro como instrumento de percussão, e a leitura de um poema por Ermelinda Henriques, incluído no livro, que evoca as “Mãos”, as quais, afinal de contas, como frisou José Joaquim Marques, constituem, com o barro e a água, os três elementos essenciais da olaria.