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TOMAR – 4ª Ronda das Adegas do Rancho Folclórico e Etnográfico de Alviobeira

Nem sempre é fácil acompanhar a dinâmica de actividades de um rancho da terra. Por isso as palavras descritivas e escritas com emoção em jeito de reportagem, ficam por quem um dia pensou e idealizou esta actividade cultural diversificada, cujo palco se estende por alguns Km, e leva a vida e movimento e alguns locais que já tiveram muita vida. A descrição da directora técnica do rancho – Manuela Santos: “atarefados com a organização de dois mercados à moda antiga, um em Alviobeira e outro no Mercado de Alvalade, em Lisboa eis que surge sorrateiramente a “Ronda das Adegas”, que se realiza no último fim de semana de Novembro e que vai já na sua quarta edição. Ocupados com outros mercados, fomos dedicando aqui e ali algumas horas do nosso tempo na procura de adegas, nos telefonemas aos donos dos locais, na visita aos espaços e na limpeza dos mesmos, mas foi praticamente numa semana que organizámos todo o evento. Gostaríamos de “perder” mais tempo a ouvir as histórias dos locais e das pessoas que neles viveram e fizeram a sua história. De ronda das adegas este evento tem apenas o nome, já que os espaços visitados vão para além de adegas e a animação é mais do que beber “uns copos”.

Desde casas antigas, fontes, paisagens, aldeias, largos, nesta ronda tudo é possível de visita, e a animação vai desde o mais tradicional ao mais moderno, passando pela música, dança, teatro, actividade física, etc. Uma viagem com cerca de nove horas de duração, na qual se mistura uma infinidade de sentimentos e experiências e que apenas exige ao participante disponibilidade de tempo e de alma para vivênciar todos os momentos oferecidos. É um dia de descobertas, aprendizagens, troca de experiências e de convívio, aquele que ainda é capaz de encher o peito e a alma. Às 8H15, já a antiga escola primária de Alviobeira, recebia os primeiros participantes desta Ronda, muitos repetentes, já habituados às surpresas da Ronda e desejosos de participar em mais uma, outros estreantes na Ronda das Adegas e expectantes para ver do que se tratava. O primeiro local a ser visitado foi a casa da Ti Olinda Santos, ” a Ti Olinda da Fonte” já falecida, mas que muitos recordam com saudade. A casa, que ainda mantém a traça original é de dois pisos, sendo o rés do chão, zona de arrumos e o primeiro piso a habitação propriamente dita, com uma casa de fora, dois quartos, sendo um interior e a cozinha com lareira e forno.

A Ti Olinda era a parteira da aldeia, tendo ajudado a nascer muitas crianças, era também uma espécie de enfermeira, pois era quem dava as injecções na aldeia. Era também costureira, sendo que alguns dos trajos iniciais do Rancho foram feitos por ela e a sua antiga máquina de costura faz parte do espólio do Museu Rural e Etnográfico de Alviobeira. Depois da visita à casa da Ti Olinda e de aquecer o corpo com vinho quente e um caldo bem quentinho, os participantes rumaram em direcção à fonte de Alviobeira, onde puderam assistir à representação das raparigas a lavar a roupa no tanque e a ir buscar água à fonte. Seguiu-se uma caminhada rumo à Calçadinha em Ceras, para visitar a casa da D. Hermínia Godinho e apreciar a construção ainda com paredes de pedra, eira, talha da azeitona em pedra, forno da lenha. Neste espaço foi servido o almoço e a Ti Maria foi a animação do local.

Os participantes rumaram de autocarro em direcção à Nexebra Velha, passando pela pelas curvas de Alviobeira, tendo uma visão panorâmica de toda a aldeia. A Nexebra Velha é uma aldeia da freguesia, atualmente desabitada e com a maior parte das habitações em ruínas. O silencia que hoje ali impera contrasta com a animação e movimentação de outros tempos. O silêncio das pedras que guardam tantas histórias, a paisagem parada no tempo, foi o cenário ideal para as estátuas vivas ao som da flauta do Kevin e para o momento de Chi Kung pelo mestre Xuan Wu. Em caminhada até à Portela de Nexebra, fez-se uma paragem nas adegas da família Moura, hoje propriedade da Etelvina Moura e do António Moura.

As duas adegas, apenas separada pela EN238, onde em tempos passados o mosto era tanto que enchia os muitos e enormes barris, ainda hoje existentes no local, e os muitos utensílios relacionados com a vinha e o vinho e com muitas das actividades agrícolas, permitem-nos recuar no tempo e aguçar a nossa curiosidade sobre a história desta família. Na adega do Sr. António Moura foi apresentado um momento de dança e na adega da Etelvina o Tomás Rodrigo fez as honras da casa e encantou os presentes com a sua habilidade artística. A ti Júlia foi dando a provar os seus licores, acompanhados com pão e azeite. Em marcha até Benfica, para ali visitar a adega da Palmira e do Ezequiel avós de uma das componentes do Rancho.

Em terra de gente animada e dada ao bailarico, e já com o sol a aquecer o corpo e o vinho a alma, dançou-se à porta da adega enquanto se provava o vinho e saboreava uns velhoses feitos pela proprietária. De novo de autocarro, em direção à Escola Equestre de Victor Rodrigues para visitar o espaço e fazer a merenda da manhã. Aqui ainda houve ainda tempo para uma visita guiada à escola e a praça de touros existentes no local. Já com meio-dia feito, uma paragem na adega do Jaime Lopes, antigo presidente da Junta de Freguesia dos Casais, animados pelas cantigas do Paulo Henriques e do João. Rumámos em direção a Covas de Valdonas para visitar a Herdade dos Templários e saborear os excelentes vinhos ali produzidos. Foi dada uma breve explicação, pelo diretor comercial Saul Gonçalves, pois neste dia as horas parecem voar, sobre a adega e os vinhos e ficou a vontade de em outra actividade regressar ao espaço com mais tempo. Mais uma “corrida”, para visitar a adega do Paulo Henriques nos Brasões, freguesia de Carregueiros que teve a amabilidade de redecorar o espaço numa semana, uma vez que o mesmo tinha sido desmantelado para obras no teto. Agradecemos a amabilidade e a sua participação, sempre em parceria com o João, na animação em alguns espaços nomeadamente na viagem de autocarro. De regresso à União de Freguesias de Casais- Alviobeira, uma paragem nas Olas, para visitar a adega do pai do actual presidente da Junta – João Alves. Ainda houve tempo para um pequeno bailarico e para uma paragem na taberna e mercearia da aldeia e ali dançar o bater do fado. Já a pisar as 15 horas, rumámos até à quinta da Runfeira para comer a canja feita na panela de ferro e uma rica feijoada.

Por ali ficámos o resto da tarde, e ainda houve tempo para assistir no palheiro a uma tarde de fados pela voz da Dina Mendonça. Já de noite e antes da despedida, para aquecer os pés e o coração junto à fogueira foi servido café e os velhoses da Luísa Leal. As pessoas foram-se despedindo, e nós por ali ficámos, cantando à volta da fogueira, e usufruindo destes momentos únicos de convívio. No final do dia, já não nos lembrávamos do trabalho que dá a organização deste evento, e começa a fervilhar novas ideias, novos planos e projectos. A todos que aceitaram fazer connosco esta Ronda, o nosso muito obrigado, a Ronda das Adegas só tem valor quando partilhada. Aos donos dos espaços o nosso muito obrigado por abrirem a porta das suas casas e adegas e por acreditarem e apoiarem os projectos deste Grupo que não desiste de fazer Alviobeira acontecer. Um obrigado à Cristina que aceitou fazer o registo fotográfico do evento e que captou momentos únicos. Cada vez mais tenho a convicção que não somos donos de nada e só levamos connosco aquilo que vivemos. Dias como este, ainda me fazem acreditar no ser humano e na sua capacidade de viver em comunidade”. Manuela Santos, com fotos de vários participantes e amigos do rancho/António Freitas