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SERTÃ – Paulina Chiziane esteve de visita ao concelho para dizer que “a escrita deve ser um lugar de liberdade”

A escritora moçambicana Paulina Chiziane esteve na Sertã para mais uma data da sua curta digressão pelo nosso país. A mais recente vencedora do Prémio Camões teve um dia bastante preenchido, marcando presença em diversas ações, todas elas bastante concorridas de público. A agenda de Paulina Chiziane na Sertã iniciou-se no Agrupamento de Escolas, com a escritora a contactar com dezenas de alunos daquele estabelecimento, durante uma sessão bastante animada. À noite, a vencedora do Prémio Camões esteve na Biblioteca Municipal Padre Manuel Antunes para uma conversa sobre a sua vida e obra, conduzida por Ana Sofia Marçal, coordenadora da biblioteca local. Paulina Chiziane desfiou o novelo de memórias e deixou algumas reflexões ao muito público presente, defendendo a “necessidade de democratizar a língua portuguesa”, pois “há ainda muitos aspetos em que a língua está presa às visões dominantes do passado”. Assumindo a sua surpresa por ter recebido o Prémio Camões, a escritora admitiu que a sua vida “mudou bastante” desde o dia em que tudo aconteceu, ainda que se esforce por recuperar alguma da anterior normalidade. A autora moçambicana explicou como funciona o seu processo criativo e de escrita, sublinhando que não gosta de rótulos, nem se vê como uma romancista (“sou uma mulher livre”), elencando também as suas maiores influências na literatura: Florbela Espanca, Jorge Amado e Vinicius de Moraes. O papel da mulher e a defesa dos seus direitos são algumas das temáticas mais caras a Paulina Chiziane, considerando que, “por exemplo em Moçambique, as mulheres vivem ainda numa situação de subjugação relativamente aos homens e sem que todos os seus direitos lhes sejam plenamente reconhecidos”. Além disso, “são muito poucas as mulheres que estão hoje em cargos de liderança seja no meu país ou até na maioria dos países europeus”. No diálogo com o público que se seguiu à conversa, Paulina Chiziane explorou outros aspetos da sua obra e disse que a “escrita deve ser um lugar de liberdade”. Aflorou ainda o papel das novas gerações na “necessária mudança de mentalidades que deve acontecer em África” e mostrou-se otimista no “futuro radioso do continente africano. A mudança já começou, agora é preciso alimentá-la”, acrescentou. No final do encontro aconteceu ainda uma sessão de autógrafos, que culminou com os cumprimentos de Carlos Miranda, presidente da Câmara Municipal da Sertã, que não escondeu o orgulho por receber a escritora moçambicana na Sertã, sobretudo “porque o nosso concelho foi um dos poucos a figurar na mini digressão que esta autora fez em Portugal e que contou, por exemplo, com uma receção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa”. Carlos Miranda entende ser “este um sinal da relevância da Sertã enquanto destino literário e cultural. É uma aposta para continuar e até reforçar num futuro próximo”.