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SERTÃ – Município assinalou Dia Internacional da Mulher sob o lema do desporto

O desporto foi o tema em destaque nas comemorações deste ano do Dia Internacional da Mulher, organizadas pela Câmara Municipal da Sertã. O programa, que se prolongou por dois dias (8 e 9 de março), compreendeu uma caminhada pelas ruas da vila da Sertã, um encontro com mulheres ligadas ao mundo do desporto e uma sessão de homenagem a atletas do concelho. As comemorações do Dia Internacional da Mulher tiveram o seu início no dia 8 de março (data em que se celebra esta efeméride) com uma caminhada que juntou mais de meia centena de pessoas a percorrer várias artérias da vila da Sertã, acompanhadas pelo jornalista e investigador Rui Lopes, que contou vários episódios alusivos à história da Sertã e fez um enquadramento memorial a alguns monumentos. No final da caminhada, teve lugar uma pequena sessão de yoga, ministrada pela professora Sara Nunes Fernandes. A segunda parte do programa alusivo ao Dia Internacional da Mulher decorreu na tarde de 9 de março, na Casa da Cultura. Um momento musical, protagonizado pelo cantautor Miguel Calhaz, abriu a sessão, seguindo-se um encontro com três mulheres ligadas ao fenómeno desportivo: a jogadora de futebol feminino do Sport Lisboa e Benfica Ana Lopes («Tita»), a árbitra de futebol Liliana Duarte e a juíza de natação Maria da Luz. A conversa decorreu de forma bastante substantiva, com as três convidadas a falarem do seu percurso desportivo e a deixarem alguns lamentos relativamente à forma como homens e mulheres ainda são tratados no desporto. Por exemplo, a jogadora Ana Lopes («Tita») lamentou a desigualdade salarial entre os dois sexos e disse que “há ainda um longo caminho a percorrer nesta matéria”. A árbitra Liliana Duarte afinou pelo mesmo diapasão mas colocou a tónica na questão do reconhecimento desportivo: “Enquanto árbitras, somos obrigadas a fazer os mesmos testes, a cumprir os mesmos critérios, a ultrapassar as mesmas provas de resistência que os homens mas depois não somos tratadas por igual”. Já Maria da Luz lembrou a “falta de juízes” na natação e disse que “não são muito notórias as diferenças de tratamento entre homens e mulheres” nos desportos aquáticos. Ana Lopes («Tita») recordou o seu trajeto no mundo do futebol desde o momento em que deu os primeiros pontapés na bola (“todos me chamavam ‘Maria-Rapaz’ mas eu não me chateava muito com isso”) até ter conquistado o título nacional de futebol, jogado na Liga dos Campeões, ser convocada para a seleção nacional e integrar a equipa do Sport Lisboa e Benfica. “Quando joguei, pela primeira vez, na seleção nacional até as pernas me tremeram”, disse, para depois recordar o convite do Chelsea, que teve de recusar: “Tinha de optar entre o sonho e a vida real e optei por continuar ligada à fisioterapia em Portugal”. Liliana Duarte evocou alguns momentos da sua carreira de árbitra, que abraçou depois de o pai e um amigo a terem convencido a frequentar um curso. Seguiu-se uma carreira ascensional que a levou à elite da arbitragem portuguesa: “o objetivo agora é ser internacional”. Questionada sobre se é mais difícil arbitrar jogos de homens ou de mulheres, Liliana Duarte foi taxativa: “É diferente, embora os homens nos respeitem bastante. Há uma certa atenção da parte deles para connosco”. Quanto a Maria da Luz, que abraçou a carreira de juíza de natação há cinco anos, tudo aconteceu muito depressa no mundo desportivo: “há dez anos não sabia nadar. Depois aprendi, tirei o curso de nadadora salvadora e decidi apostar numa carreira de juíza de natação”.
De forma descontraída as três convidadas abordaram ainda alguns temas sensíveis ligados às mulheres no desporto, como a maternidade e a violência, mas deixaram mensagens muito claras de incentivo à assistência, onde marcavam presença muitos jovens: “Para chegarmos longe temos de acreditar nas nossas capacidades, trabalhar todos os dias, ser determinadas, não perder o foco. Motivação? Não interessa o ‘como’ mas sim o ‘porquê’”, atalhou Ana Lopes («Tita»). Por seu lado, Maria da Luz deixou uma mensagem de esperança aos presentes, sublinhando que “temos de trabalhar e esforçarmo-nos muito para conseguirmos os nossos objetivos”. Pegando nesta ideia, Liliana Duarte convidou os presentes “a seguirem os seus sonhos” e a “acreditarem nas suas capacidades”.

Homenagem às desportistas – Findo este encontro, teve lugar a sessão de homenagem às desportistas do concelho da Sertã. Em jeito de preâmbulo, o presidente da Câmara Municipal da Sertã, José Farinha Nunes, recordou as vicissitudes por que as mulheres tiveram de passar para serem aceites no mundo do desporto e invocou os “mitos e fábulas incompreensíveis” que eram utilizados: “uma mulher não podia praticar ciclismo porque o seu corpo não o permitia; não podia andar a cavalo porque era perigoso para a maternidade; não podia jogar à bola porque esse era um comportamento indigno de uma senhora; nem podia nadar porque era contrário à moral e aos bons costumes”. José Farinha Nunes sublinhou depois que as mulheres desportistas “são um exemplo de coragem, de perseverança e de humildade. Em Portugal, devemos orgulhar-nos das nossas mulheres e não apenas pelos feitos que têm alcançado em diversas competições mas porque são autênticos modelos de superação”. O autarca dirigiu-se, em seguida, às mulheres do concelho da Sertã “que praticam desporto”, afirmando que “podemos encontrar em todas elas uma vontade férrea de fazer aquilo que gostam e de continuamente conquistarem novos objetivos”. Posteriormente, decorreu a homenagem às atletas, com destaque para as equipas de futsal feminino do Sertanense e de atletismo e natação do CCD da Sertã. Na equipa de futsal feminino do Sertanense foram homenageadas a diretora Carla Andrade e as jogadoras Carla Anaia, Paula Martins, Joana Galvão, Marina Pires, Cátia Alface, Telma Antunes, Joana Silva, Maria Calado, Mónica Jacinto, Catarina Martins, Bianca Mesquita e Maria Regina. Foram ainda homenageadas Julieta Barreto, atleta do CCD da Sertã, e as nadadoras da mesma equipa Sabine Ziegler e Laurelin Molen.