O grito de alerta parte das crianças do 1.º ciclo do concelho da Sertã e pretende chamar a atenção para o desaparecimento progressivo do artesanato ancestral da região. A exposição «SOS Artesanato», patente a partir do dia 26 de abril, na Biblioteca Municipal Padre Manuel Antunes, é a materialização desse grito que junta as crianças e o conhecido fotógrafo Vitorino Coragem, no âmbito do projeto Leitores do Património. O projeto Leitores do Património, promovido pela Biblioteca Municipal Padre Manuel Antunes e que vai já na sua quinta edição, procura fomentar o orgulho na cultura e património do concelho da Sertã junto da população estudantil, tendo este ano decidido centrar a sua atenção no artesanato e, mais precisamente, na arte da tecelagem, uma prática ancestral em risco de desaparecer. Nesta quinta edição do projeto, professores e alunos do 1.º ciclo, juntamente com a equipa da Biblioteca Municipal, promoveram, em contexto de sala de aula, uma série de atividades cujos resultados surgem agora vertidos nesta exposição, que conta também com imagens da autoria do fotógrafo Vitorino Coragem, retratando não só as atividades dos alunos mas também o trabalho de Maria Luísa Francisco, uma das últimas artesãs do concelho a dedicar-se à tecelagem, sendo a única cuja produção engloba todo o processo do ciclo do linho, desde a sementeira até à fiação e dobagem. Na exposição, que poderá ser visitada entre os dias 26 de abril e 21 de maio, Vitorino Coragem registou muito do trabalho feito em contexto de sala de aula por professores e alunos, para o projeto Leitores do Património, e captou através da sua lente o trabalho de Maria Luísa Francisco. Tudo com o propósito de alertar para o desaparecimento progressivo do artesanato ancestral do concelho da Sertã. No local pode ser encontrado ainda um tear que convida os visitantes a participar na criação de uma peça coletiva. As sessões dos Leitores do Património envolveram 423 crianças do 1.º ciclo, que tiveram a oportunidade de usar estruturas feitas a partir de ramos de árvores do concelho, remetendo-as assim para os primórdios desta prática iniciada na pré-história, além de composições feitas com fios de trapilho evocativas do urdume e da trama que, durante gerações, deram corpo aos tecidos manufaturados pelas artesãs locais. Carlos Miranda, presidente do Município da Sertã, destacou a importância do projeto Leitores do Património, “pelo caráter único e singular que assume enquanto força impulsionadora da identidade e memória do concelho junto das crianças. Estamos a garantir que todos os que passam por este projeto, sejam alunos, professores ou até familiares, assumam-se como verdadeiros embaixadores e guardiães das nossas tradições, usos, costumes e, sobretudo, daquilo que nos distingue – o nosso modo de ser”. Com esta exposição, acrescentou Carlos Miranda, “lançamos um grito de alerta pelo artesanato e chamamos a atenção para a necessidade da sua preservação, enquanto materialização única do nosso passado e memória. E é tão importante que sejam as crianças a liderar este movimento”.