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SANTARÉM – Está confirmada a compra do espólio de Alexandre Herculano pelo Município

O Município de Santarém tinha adquirido, em leilão, pelo valor base de 30 mil euros, o “acervo substantivo do espólio documental e pessoal de Alexandre Herculano”, composto por manuscritos anotados de obras do escritor, projetos e notas de investigação, correspondência pessoal e oficial, e parte de um diário íntimo onde o escritor narra as circunstâncias do exílio em França e nos Açores, motivado pela opressão miguelista. A Biblioteca Nacional que podia ter exercido o direito de preferência para aquisição do mesmo, optou por não o fazer, pelo que o Município recebeu a confirmação da compra do espólio, assumindo assim a sua pertença. O espólio foi adquirido à Leiloeira Renascimento, e tem como objetivo enriquecer o arquivo municipal, tal como afirma Ricardo Gonçalves, Presidente da Câmara de Santarém: “um espólio de grande relevância, de um dos maiores vultos do século XIX, para muitos a maior personalidade intelectual desses anos”. Ricardo Gonçalves lembra ainda que Alexandre Herculano (1810-1877) escolheu viver a fase final da sua vida na quinta de Vale de Lobos, em Santarém, “num ‘retiro fértil’”, onde permanece o quarto que o acolheu nos últimos dez anos de vida, até à morte.

O espólio adquirido inclui correspondência para o então ministro dos Negócios Estrangeiros Andrade Corvo e para os escritores Almeida Garrett e Guiomar Torresão, entre outros. Da correspondência sobressai uma carta, de 12 folhas, dirigida ao primeiro imperador do Brasil, Pedro I (Pedro IV, de Portugal), e outra, de três folhas, dirigidas a Madame Marie Rattazzi, escritora francesa que visitou Portugal em 1876, 1878 e 1879, e que publicou um livro sobre estas viagens, “Portugal de Relance” (“Le Portugal A Vol D’Oiseau”, 1880). A leilão foram também os rascunhos originais de cartas sobre a “Questão da Emigração”, debate público de meados do século XIX em que Herculano participou quando era crescente a corrente migratória para o Brasil, e o Governo se esforçava por alertar para os falsos desígnios de rápido enriquecimento.

Da aquisição constam ainda “originais dos tomos um e dois das ‘Cartas’, publicadas em 1860, por Aillaud, Alves e Bastos, num total de cerca de 800 folhas”. No lote de manuscritos destacam-se “centenas de folhas com rascunhos e anotações de obras concluídas e de projetos que Alexandre Herculano empreendeu ao longo da vida”, acrescentou a leiloeira. Entre os poemas manuscritos encontram-se “As Meditações”, “O Sonâmbulo”, “A Melancolia”, “A Freira”, “O Hino de Batalha” e “O Desembarque”. A leilão foi igualmente um “conjunto de manuscritos com dezenas de ensaios originais que fazem parte dos diversos volumes da obra ‘Opúsculos’, entre os quais se encontram ‘Conversão dos Godos’, ‘Instrução Pública’, ‘Da Educação e Instrução das Classes Laboriosas’, ‘Aristocracia Hereditária’, ‘A Questão de Salvaterra’, ‘A Padeira de Aljubarrota’, ‘Discurso no Teatro D. Maria’, ‘Parecer sobre Filosofia Racional’ e ‘Lísia Poética'”. A compra inclui ainda parte das provas corrigidas da obra “O Clero Português” (1841) e textos sobre a História de Portugal e cópias de alguns ensaios. Há ainda um “livro sem título nem frontispício que apresenta inúmeras anotações e correções que a leiloeira julga serem da autoria de Herculano. www.cm-santarem.pt