Os resultados preliminares do ensaio de produção de arroz com rega gota-a-gota realizado nos campos demonstrativos da Agroglobal, em Santarém, demonstram que esta tecnologia de rega torna viável a produção de arroz em novas áreas agrícolas, fora das tradicionais bacias produtoras, conseguindo-se, simultaneamente, uma melhor gestão das infestantes, o principal fator biótico responsável pela perda de rendimento na cultura. O arroz surge assim como uma boa alternativa para integrar numa rotação de culturas agrícolas anuais. Após o sucesso do primeiro ensaio de produção de arroz com rega gota-a-gota, em 2022, em Pancas, concelho de Benavente, a MAGOS IS, a RIVULIS, a TERRA PRO e os seus novos parceiros neste ensaio, BASF e ADP Fertilizantes, aceitaram o repto lançado pela organização da Agroglobal para testar nos campos da feira novos métodos e técnicas de produção de arroz com o intuito de tornar a cultura mais rentável e sustentável. A rega do arroz é realizada com fita T-Tape 508 20 500, do fabricante RIVULIS, com espaçamento de 20 cm entre gotejadores, débito de 1L/hora, e 75 cm de distância entre linhas de rega. O arroz semeado no ensaio é da variedade PVL136IT, arroz do tipo agulha, com tecnologia Provisia da BASF, que torna as plantas do arroz resistentes à ação dos herbicidas utilizados no controlo das infestantes. O consórcio de empresas é unânime em considerar que os resultados preliminares do ensaio são promissores, antevendo-se uma solução de futuro para a cultura do arroz que é cada vez mais afetada pela escassez de água e pelas infestantes. «Conseguimos um bom desenvolvimento vegetativo das plantas e controlo das infestantes, pelo que concluímos que esta nova forma de cultivar o arroz pode ser uma excelente alternativa para a rotação de culturas. Os produtores colocaram várias questões e alguns deles estão disponíveis para testar esta solução nas suas explorações. Estamos muito satisfeitos», afirma João Dotti, CEO da Magos Irrigation Systems, empresa responsável pela instalação do sistema de rega no ensaio, realçando o interesse demonstrado pelos mais de 100 agricultores e técnicos que marcaram presença no dia de campo, a 6 de setembro. Para Nuno Sanches, Key Account Manager da Rivulis, empresa fabricante israelita de material de rega, o ensaio realizado num solo onde era habitual o cultivo de milho, «é a prova de que é possível produzir arroz praticamente em todas as áreas e sem necessidade de nivelamento do solo. Para mim e para os produtores é, claramente, uma solução de futuro». A Orivárzea, empresa que produz 3.700 hectares de arroz na Lezíria Ribatejana, foi uma das entidades que marcou presença no dia de campo, mostrando-se bastante recetiva a este novo método de produção: «Tudo o que seja para melhorar a produção orizícola no país e, em especial, a gestão da água é fundamental. No caso deste ensaio, falta agora sabermos exatamente a produtividade, o consumo hídrico e a viabilidade económica da cultura, mas é uma excelente alternativa e já está mais do que provado que funciona», defendeu António Madaleno, administrador executivo da Orivárzea. Também Vítor Rouxinol, produtor de 270 hectares de arroz em Coruche e Benavente, está otimista e acredita que esta solução pode ser uma realidade a curto prazo: «Já há 3 anos que estou a inovar no sistema de cultivo, recorrendo à sementeira enterrada à linha em 70% da área. A solução hoje aqui apresentada é uma evolução do que já faço e vai permitir revolucionar a cultura do arroz do ponto de vista ecológico, uma vez que permite não só poupar água como um melhor controlo das infestantes». O ensaio de arroz com rega gota-a-gota na Agroglobal, numa parcela de 2 hectares, tem colheita prevista para outubro, data em que serão divulgados os resultados do ensaio. Portugal é o maior consumidor de arroz da União Europeia. Cada português consome em média mais de 16 quilogramas de arroz por ano, de acordo com os dados da Associação Nacional dos Industriais de Arroz. Em Portugal, o arroz ocupa anualmente cerca de 30.000 hectares. Além disso, a produção deste cereal é a única em que o país tem uma taxa de autoaprovisionamento de cerca de 70%. Contudo, nos últimos anos, a fileira do arroz tem enfrentado vários desafios como a escassez de água e as infestantes, a que os produtores procuram responder, testando novas estratégias.