POLÍTICAREGIONAL

SANTARÉM – Cerca de 100 militantes desvincularam-se do Bloco de Esquerda em desacordo com a direção nacional. Tomarense Paulo Mendes suspendeu mandato na Assembleia Municipal

Cerca de uma centena de pessoas desfiliaram-se do Bloco de Esquerda, numa lista onde se destacam ‘nomes de peso’ do distrito de Santarém e, em particular, do concelho de Tomar, casos de António Godinho, Maria da Luz Lopes, Filipe Vintém e o próprio Paulo Mendes, que estava eleito para a Assembleia Municipal nabantina mas que, entretanto, a 30 de Maio, suspendeu o seu mandato por quatro meses. A número dois dessa lista é, precisamente, Maria da Luz Lopes, que também deverá suspender o mandato, seguindo-se Jorge Gonçalves, cujo nome não faz parte da lista de militantes que deixam o partido. Aliás, tal como a Hertz já tinha adiantado em tempo oportuno, o BE nem sequer vai concorrer ao território nabantino nas próximas eleições Autárquicas, tal o extremar de posições entre os militantes locais e a estrutura nacional. Em comunicado enviado para a Hertz, os subscritores – de onde se destaca, ainda, Carlos Matias, ele que chegou a ser eleito para a Assembleia da República – explicam as razões para a saída do Bloco de Esquerda, dessa forma com fortes críticas à direção nacional, acusada de afastar «vozes incómodas ou não controladas pelo aparelho. A diversidade do BE, outrora vista como uma riqueza, hoje é encarada como uma ameaça», lamentam os subscritores. O texto vai mais longe e refere que «a escolha dos candidatos a deputados pelo distrito, estatutariamente da competência das Assembleia Distrital, só é acatada quando o escolhido é de um dos grupos que dominam o partido», sendo que a constituição de núcleos «é ferreamente controlada pelo aparelho», acusam os agora ex-militantes do BE.

Foto Paulo Mendes, eleito pelo BE para a Assembleia Municipal de Tomar

Eis o comunicado, na íntegra: «Ao longo dos tempos mais recentes, muitos aderentes do distrito de Santarém – em que nos incluímos – têm vindo a desfiliar-se do Bloco de Esquerda. Entre nós, estão inúmeros fundadores do partido, antigos dirigentes nacionais, regionais e concelhios. Entre nós, está a maioria da atual Comissão Coordenadora Distrital e todo o seu secretariado; estão ex-deputados municipais e de freguesia; ex-vereadores e um exdeputado da Assembleia da República.Ao longo de mais de duas décadas, muitos de nós deram o melhor do seu saber e do seu tempo à afirmação do BE, no qual viram um projeto de esperança. Compreenderse-á, portanto, quão difícil foi a opção pela desfiliação. Mas, teve de ser. Em primeiro lugar, o Bloco de Esquerda há muito se afastou da opção de construir um forte polo à esquerda, alternativo ao rotativismo do bloco central. A geringonça, uma opção adequada numa conjuntura específica, impregnou irremediavelmente a linha estratégica do BE. As propostas políticas são sistemática e convenientemente buriladas, quando não metidas na gaveta, na esperança de virem a ser aceites pelo PS. A afirmação da luta dos trabalhadores como fundamental em qualquer transformação de fundo foi substituída por agendas identitárias e parciais, importantes sem dúvida, mas de limitado alcance. A afirmação de um projeto global alternativo de sociedade foi substituída por cadernos reivindicativos parcelares aceitáveis. O gume cortante da intervenção inicial do BE há muito embotou. Estas críticas e as consequentes propostas alternativas de orientação foram apresentadas internamente. Ao longo de anos, foram levadas aos mais diversos níveis do Partido, inclusivamente à mais elevada instância partidária, a Convenção Nacional. A maioria da direção do Bloco de Esquerda rejeita-as sistematicamente. Está no seu direito. Mas, depois, nunca assume a responsabilidade pelas sucessivas derrotas eleitorais, foge aos balanços, justifica-se sempre com as dificuldades da “conjuntura”. Pior. Para não enfrentar as suas responsabilidades, a maioria da direção desencadeia um processo de progressiva centralização das decisões, afastando vozes incómodas ou não controladas pelo aparelho. A diversidade do BE, outrora vista como uma riqueza, hoje é encarada como uma ameaça. Quem não pertencer a um dos dois grupos dominantes do Partido (TEA e RAC) é sistematicamente excluído de lugares elegíveis para deputados nacionais e europeus, autarcas, intervenções em atos públicos, etc. A escolha dos candidatos a deputados pelo distrito, estatutariamente da competência das Assembleia Distrital, só é acatada quando o escolhido é de um dos grupos que dominam o partido; a constituição de núcleos é ferreamente controlada pelo aparelho; órgãos estatutários, como a Comissão Política são esvaziados por órgãos não estatutários, como o Secretariado Nacional; a distribuição de recursos e funcionários pelas organizações distritais depende da fidelidade ao centro único e à “linha oficial”; o apoio a iniciativas de núcleos depende de serem ou não “fiéis” ao pequeno núcleo central; propostas de iniciativas da Distrital de Santarém são deixadas sem resposta; funcionários do partido são vítimas de práticas que envergonhariam muitos patrões (o caso das aleitantes não é único); quadros com provas dadas são destratados pela intriga de corredor. Quando tal não basta, recorre-se a insinuação difamatória ou inventa-se um processo disciplinar interno, como o que visa a concelhia de Salvaterra de Magos, encarada como obstáculo ao domínio da estrutura distrital do Bloco de Esquerda. Enfim, apesar das tonitruantes afirmações em contrário, o Bloco de Esquerda vem deslizando placidamente para o velho centralismo democrático, castrador e sem democracia. Esta degradação é conhecida de muitos de nós e pressentida por muitos mais. Apesar disto, durante anos, fomos defendendo a unidade na diversidade, traço matricial do BE, e propondo alternativas políticas que evitassem o colapso crescente. Infelizmente, chegámos a um ponto em que consideramos definitivamente bloqueado qualquer esforço regenerador. Por isso saímos. A situação difícil em que vive quem trabalha ou trabalhou; o ameaçador quadro internacional de belicismo e armamentismo; a degradação ambiental resultante das alterações climáticas; o crescimento da extrema direita e do conservadorismo, exigem uma nova resposta à esquerda. Nessa luta nos encontrarão».

Subscrevem, por ordem alfabética:

Alfredo Vasco, Aderente Nº 14448; Álvaro Góis, Aderente Nº16416; Américo Santos, Aderente Nº8770; Ana Cláudia Pereira, Aderente Nº16932; Ana Cristina Ribeiro, Aderente Nº14395; Ana Margarida Ramalho, Aderente Nº 13963; Ana Paula Fernandes, Aderente Nº13872; Ana Rita Pinheiro, Aderente Nº16934; Ana Rita Sousa, Aderente Nº14454; Ana Sofia Mourão, Aderente Nº11132; André Lucas, Aderente Nº10799; André Santos, Aderente Nº9153; Andreia Martins, Aderente Nº13880; António Duarte, Aderente Nº 14502; António Ferreira, Aderente Nº14852; António Godinho, Aderente Nº1323; Arlene Quintans, Aderente Nº 13888; Bruno Trindade, Aderente Nº16907; Cardoso de Moura, Aderente Nº13320; Carlos Lucas, Aderente Nº14482; Carlos Marecos, Aderente Nº5017; Carlos Matias, Aderente Nº1355; Catarina Ferreira, Aderente Nº16935; Catarina Fonseca, Aderente Nº13869; Cátia Travessa, Aderente Nº13124; Célia Silva, Aderente Nº13884; Conceição Anjos, Aderente Nº8661; Davide Silva, Aderente Nº11408; Diogo Santos, Aderente Nº13123; Edgar Antunes, Aderente Nº 4979; Emídio Monteiro, Aderente Nº13951; Feliciano Santos, Aderente Nº16574; Fernando Sousa, Aderente Nº14452; Filipe Vintém, Aderente Nº8495; Frederico Carvalho, Aderente Nº13870; Gonçalo Rafael, Aderente Nº4977; Gonçalo Silva, Aderente Nº16427; Guiomar Monteiro, Aderente Nº13938; Helena Neves, Aderente Nº13902; Hélio Gouveia, Aderente Nº1356; Henrique Leal, Aderente Nº1350; Inês Ferreira, Aderente Nº16311; Inês Hipólito, Aderente Nº5485; Inês Marques, Aderente Nº14481; Isabel Silva, Aderente Nº13879; Joana Godinho, Aderente Nº5577; Joana Patrício, Aderente Nº15382; Joana Rodrigues, Aderente Nº16182; João Alves, Aderente Nº16055; João Hipólito, Aderente Nª 6347; João Pedro Coelho, Aderente Nº13319; João Pedro Monteiro, Aderente Nº15776; Joaquim Farinha Madeira, Aderente Nº1677; Joaquim Simões, Aderente Nº14471; Joel Marques, Aderente Nº 8101; Jorge Silva, Aderente Nº 11173; José Gonçalves, Aderente Nº 13871; José Quintans, Aderente Nº13896; José Silva, Aderente Nº 5489; José Simões, Aderente Nº 13883; Larysa Demchenko, Aderente Nº11043; Laura Ramalho, Aderente Nº13315; Leonor Martins, Aderente Nº9177; Lúcia ramos, Aderente nº2964; Luís Gomes, Aderente Nº1501; Luís Pereira, Aderente Nº15367; Luís Silva, Aderente Nº11126; Manuel Jorge Ramos, Aderente Nº2969; Manuel Soeiro Alves, Aderente Nº14455; Márcia Godinho, Aderente Nº5576; Maria da Luz Lopes, Aderente Nº11044; Maria do Rosário Silva, Aderente Nº13887; Maria Flores, Aderente Nº16908; Maria Fonseca, Aderente Nº1604; Maria Hipólito, Aderente Nº6242; Maria Joaquina Marques, Aderente Nº13940; Maria Leonor Araújo, Aderente Nº12847; Maria Rafael, Aderente Nº1344; Mário Fonseca, Aderente Nº725; Marlise Pereira, Aderente Nº16918; Miguel Casimiro, Aderente Nº11397; Nélio Ferreira, Aderente Nº13949; Nuno Grácio, Aderente Nº17855; Nuno Monteiro, Aderente Nº11127; Otávio Ferreira, Aderente Nº13321; Patrícia Cardoso, Aderente Nº16923;Paula Buracas, Aderente Nº9154; Paulo Gomes, Aderente Nº13873; Paulo Marques, Aderente Nº8173; Paulo Mendes, Aderente Nº8491; Rafael Marques, Aderente Nº9157; Reinaldo Amarante, Aderente Nº4982; Rosa Godinho, Aderente Nº5578; Ruben Martins, Aderente Nº13939; Samuel Santos, Aderente Nº16472; Sandra Gomes, Aderente Nº5487; Silvana Coelho, Aderente Nº16928; Susana Malheiras, Aderente Nº9152;Teresa Marques, Aderente Nº14480;; Tiago Oliveira, Aderente Nº13868; Vânia Moreira, Aderente Nº13874; Vera Machado, Aderente Nº13956; Vergílio Rafael, Aderente Nº1343. Foto de arquivo, Bloco Tomar, Facebook