A conferência final do projeto “As Pessoas e o Fogo – reduzir o risco | conviver com o risco” realizou-se no dia 3 de março no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, numa iniciativa que contou com a presença dos vários investigadores que, entre 2019 e 2022, desenvolveram a metodologia de trabalho prevista na área geográfica ocupada pelos 20 concelhos do Pinhal Interior. Este projeto, do Instituto Superior de Agronomia, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, tem por objetivo principal desenvolver e testar um novo quadro analítico que apoie o desenvolvimento e avaliação de novas políticas de gestão florestal centradas nas pessoas para reduzir o risco de incêndio. Para além de duas sessões de trabalho dinamizadas junto de representantes de associações e outras entidades dos concelhos de Proença-a-Nova, Figueiró dos Vinhos, Oliveira do Hospital e Vila de Rei, foram ainda realizados 116 inquéritos aos presidentes das 121 juntas de freguesia do Pinhal Interior, 497 inquéritos a proprietários florestais, 200 inquéritos a agricultores e 386 inquéritos aos residentes de 15 freguesias. Analisadas as respostas, os resultados finais foram divididos em duas áreas: uma sobre as comunidades, com respostas, estratégias e obstáculos; outra sobre as políticas, abordando temas como a gestão florestal, a economia e a propriedade da terra. João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, foi um dos oradores na sessão dedicada às comunidades, traduzindo preocupações que foram abordadas nos inquéritos como a falta de limpeza/manutenção, o abandono e despovoamento e a falta de ordenamento da floresta. “O que é que falha? Falhamos nós enquanto sociedade nas políticas públicas ao longo do tempo que não conseguiram traduzir no ordenamento do território uma condição de termos a gestão e organização do território”, adiantou o autarca que apontou ainda a falta de financiamento. Na sua perspetiva, “os territórios são abandonados porque não geram riqueza para os seus proprietários”: uma solução seria alocar alguns dos milhões utilizados no combate aos incêndios florestais à gestão e ordenamento do território, até para apoiar o sector primário, fundamental para atrair e fixar pessoas. Neste painel foi apresentado o regulamento municipal que o Município criou para reconversão de áreas florestais em áreas agrícolas nas faixas de gestão de combustível em redor dos aglomerados populacionais como um dos projetos implementados como resposta da comunidade aos incêndios florestais de 2017 no Pinhal Interior. Depois da Mó, a primeira aldeia a aderir a este regulamento, foram várias as localidades que implementaram este Regulamento – ou o Condomínio de Aldeia – que partilha dos mesmos princípios. João Lobo deixou ainda a preocupação com a demografia que, na sua perspetiva, é o grande desafio com que os territórios de baixa densidade têm de lidar para a sua sobrevivência e onde entroncam todos os restantes desafios levantados pelo desordenamento da floresta e pelos incêndios florestais. Por último adiantou que “tem que passar pela educação da mudança de atitude e mentalidades para a gestão e ordenamento para alcançarmos a floresta que queremos”.
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