“Que futuro para a democracia portuguesa?” foi a temática abordada na primeira sessão do Ciclo de Mesas Redondas “Democratizar, desenvolver e descolonizar”, no âmbito das Comemorações do Cinquentenário da Revolução de Abril, que teve início na passada sexta-feira, dia 16 de fevereiro, no Salão Nobre do Edifício dos Gorjões. Representando os três eixos do sistema democrático, a sessão contou com a presença de Ana Gomes, antiga eurodeputada, Carlos Beato, capitão de Abril e ex-autarca e Ana Cristina Vilaverde, advogada e atual Presidente da Assembleia de Freguesia de Mira de Aire. Ana Gomes iniciou a sua intervenção, fazendo uma analogia entre a época pré 25 de abril e a atual conjuntura: ainda que perante regimes diferentes, a população enfrenta hoje uma grave crise económica, contexto (internacional) de guerra e a ameaça à liberdade dos indivíduos. Nas palavras da antiga eurodeputada, está nas mãos de cada um de nós exigir que os governantes garantam as condições de vida às suas populações e que cumpram o seu papel de regulador nas diferentes áreas de atuação da sociedade civil, económica e judicial e “isso não é imiscuir-se em assuntos que não são da sua competência”, é garantir que o sistema funciona de forma justa e equilibrada. Confrontada com a questão da corrupção, Ana Gomes admite que em Portugal não há mais corrupção no que os restantes países da Europa, há antes uma falha na intervenção do sistema judicial que torna impune a prática de corrupção, e é aí que deve haver intrepidez por parte do poder governativo para alterar essa condição. Perante isto, a diplomata diz compreender o ressentimento dos portugueses face à classe política, mas afirma que confia no bom senso do povo português, acreditando que esse ressentimento será canalizado para o voto responsável. Por seu turno, e após uma breve resenha histórica sobre a sua participação no dia 25 de Abril, Carlos Beato, afirmou que “em momento algum podemos pensar que o 25 de Abril não valeu a pena. Valeu muito a pena, nem que tenhamos que fazer um segundo 25 de Abril”. “O 25 de Abril foi feito pela juventude. Os capitães de Abril estavam todos entre os 21 e os 29 anos de idade”. Esta foi a resposta do antigo autarca, que percorre regularmente diferentes escolas pelo país para falar sobre o 25 de Abril, sobre a opinião dos jovens face às questões políticas. Já Ana Cristina Vilaverde, questionada sobre a questão da paridade de género na vida política, diz ser um “mal necessário” que veio garantir que as mulheres passassem a exercer um maior número de cargos políticos. Sobre os direitos da mulher adquiridos no pós 25 de Abril, a autarca diz que, não obstante as imensas conquistas feitas ao longo dos últimos 50 anos, há, ainda, um longo caminho a ser feito para alcançar a igualdade, nomeadamente no que diz respeito ao acesso a cargos de chefia e à remuneração sem distinção. A próxima sessão terá lugar no dia 15 de março e abordará o tema do desenvolvimento.