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MAÇÃO – Artes da pesca da Freguesia de Ortiga e a sua musealização

O Concelho de Mação esteve representado no 5.º Encontro da Rede Braspor. Uma iniciativa da Rede Braspor, que decorreu em Mértola no início deste mês, tendo como temática geral as abordagens holísticas que contemplem enquanto conjunto o Meio e o Homem, que o explora e modifica. Nesta ação a temática específica foi “Entre Rios e Mares: um Património de Ambientes, História e Saberes”.

Neste contexto, João Filipe, pelo Centro Etnográfico de Ortiga (CEOGA) do Museu Municipal de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, apresentou no dia 06 de outubro a sua comunicação sobre “As artes da pesca da Freguesia da Ortiga – Mação (Médio Tejo): a musealização como contributo para o enriquecimento das paisagens culturais”.

A sua reflexão incidiu sobre a importância do rio para a comunidade ortiguense e como a mesma se irá rever num espaço museológico que lhe é dedicado. “O rio é um elemento da comunidade” e esse espaço de memória reforça a ligação das pessoas ao rio, assim como aquilo que ele significava e continua a significar para a população. “Os tempos mudam, mas o rio fica. O rio faz parte da família”.

Sendo que os rios sofrem com o desenvolvimento e as próprias alterações climáticas são condicionantes do futuro, João Filipe defendeu que se lute pelos recursos hídricos, tendo em conta que o território se desenvolve “através das pessoas e das suas capacidades (sob sistemas organizacionais tais como instituições públicas, empresas privadas e associações das mais variadas temáticas)”. João Filipe mencionou, neste contexto, a educação cívica, ambiental e patrimonial, bem como a criação e divulgação de conhecimento. “As populações locais precisam e anseiam por abordagens de apoio em linguagem tácita. A comunicação eficaz, económica, eficiente ao criar-se localmente e ao objetivar-se na produção de conhecimento sobre a realidade local, sustenta tanto o dever de memória quanto a ética da participação. Partilhar informação, em interação, entre produtores e consumidores é muito relevante nas zonas economicamente mais desfavorecidas.

Como tal, João Filipe defendeu que os “museus de iniciativa local promovem o desenvolvimento de base comunitária, salvaguardam e enriquecem paisagens culturais únicas requalificando, com as suas atividades, os modos de estar culturais e que, fomentando a interação que caracteriza os museus comunitários, desencadeiam e cimentam relações permanentes, criam compromissos de futuro, animam economias locais. A musealização das artes da pesca e da etnografia do rio Tejo, na Freguesia de Ortiga segue uma estratégia em que a triangulação Território – Pessoas – Organizações se enquadra na sustentabilidade ambiental, social e económica.”

Ao longo da sua apresentação, João Filipe mostrou várias fotografias do rio Tejo, assim como das pesqueiras (existem atualmente 22 pesqueiras em Ortiga), da varela, do picareto e de toda ligação entre o rio e a população ao longo das décadas, o que suscitou a curiosidade da plateia. Foram também apresentados os desenhos/projetos de construção dos picaretos, com base nos dados fornecidos pelo calafate Manuel Pires Fontes, de Ortiga, numa perfeita demonstração daquilo que deve ser a transformação do conhecimento tácito (o saber de experiência feito) em conhecimento explícito (tecnicamente sustentado nos desenhos do picareto a construir, nas medições e nas descrições explicativas).

Refira-se que nesta sua participação, enquanto orador no 5.º Encontro da Rede Braspor, João Filipe contou com a presença de Vasco Estrela, Presidente da Câmara Municipal de Mação e de uma das técnicas do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo.

O Centro Etnográfico de Ortiga – Núcleo Autónomo do Museu de Mação funcionará na antiga escola primária de Ortiga. Será uma estrutura dependente da Câmara Municipal de Mação e tem por objetivos: promover a cultura e artes da pesca; a cultura e trabalhos rurais; a defesa da paisagem cultural do rio Tejo; recuperar e dignificar a função dos mestres das artes e ofícios tradicionais; valorizar e promover a identidade cultural e social das comunidades taganas. Irá cooperar, também, com os estabelecimentos de ensino do Concelho e da região, assim como com demais entidades que perfilhem idênticos objetivos.