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FERREIRA DO ZÊZERE – Sala cheia na Frazoeira para um “Serrar da Velha” fora de época, mas muito actual

Numa freguesia em que a cultura e o teatro ” andam de mãos dadas” há muitos anos; a Banda da Frazoeira convidou o Rancho de Alviobeira a levar ao palco a sua “Serração da Velha” uma encenação teatral dramática, onde não faltou o texto da esposa que se queria ver livre do “empecilho do seu marido” já velho a rabugento, para ter tempo livre a exemplo das suas amigas já viúvas, para ir às excursões do Freitas, frequentar a universidade Sénior, ou seja gozar alguns prazeres da vida. Como ele nunca mais “ia desta para melhor” encomendou o chá milagroso à “Tia Júlia” e já com o padre António que nunca tinha vagar algum, para visitar paroquianos, este veio-lhe só ministrar a “extrema unção” já o Manel tinha partido para o outro mundo, sentado à porta. O caixão verdadeiro fazia parte do cenário e no segundo acto, corre o pano e muito choro que era o melhor homem do mundo a vinda da filha com um “franciú” que foi trocado pelo primeiro marido, a filha, com muito sotaque franciú pelo meio e a aparecer no velório ” a Vanessa” a filha de outras núpcias do defunto Manel que “pulava a cerca” quando podia. Ou seja um texto que foi levado à cena em Alviobeira, e que para atores amadores, tem muita emoção, mensagem implícita de lugares comuns a tantos, exemplos que conhecemos. Foi a segunda vez que o Rancho foi convidado a ir ao Palco da Frazoeira, e a levar à cena recriações suas, um facto que Manuela Santos, a directora, e aqui a encenadora e com um papel principal em palco, enalteceu e agradeceu a uma banda centenária, que tanto tem feito pela cultura. Isto no dia seguinte a esta mesma banda ter vindo a interpretar a “Portuguesa” o nosso hino ao Palácio de Belém a convite da Presidência. Encerrava o espectáculo, após o morto ter ” ressuscitado do caixão” os versos satíridos, como era usual ouvir-se noutros tempos nas aldeias, no serrar da Velha pela Quaresma. E os versos satíricos eram a parte mais esperada – o testamento da velha, já que o testamento de Alviobeira teria que ser adaptado a terras ferreirenses:

Oh velha como vai ele acabar? ( leia-se Jacinto Lopes o mandato de presidente da câmara)
E responde o “outro ” … talvez a apanhar um lagostins para no rio se puder entrar. Oh velha o que é que deixas à Maria do Carmo quando ela começa a cantar?… tirar-lhe o microfone da frente senão surdos podemos ficar ( muitos risos na sala)
E o testamento continuava

– Oh velha ao Sr. Padre Manuel Patto queres deixar alguma sugestão?
– Querer até queria o pior é a Inquisição
– Oh velha o que deixas tu a o Manuel Nunes agora presidente da Junta de Nª Srª do Pranto
– Agora que é presidente o melhor é encontrar uma vidente para lhe rezar o cobranto!
– E achas que é mesmo isso que é preciso fazer?
– É melhor, não vá o diabo tece-las e nas próximas eleições vir o mandato perder!
– Oh velha o que deixas ao vereador Hélio para ele não sofrer alguma tortura?
– Que continue a trabalhar bem no Pelouro da Cultura!
– Oh velha o que é que vai colocar no Rotunda da Zezere Ovo?
– Vou colocar uma estátua do Manel da Casa do Povo!
– Oh velha o que é que deixas ao Padre Manuel Patto que é um homem dedicado?
– Deixo-lhe um paramento novo porque aquele que ele usa estás deveras antiquiado!
– Oh velha então e se ele no seu uso persistir?
– Não faz mal manda-se para cá o Padre António para o substituir
– Oh velha ainda estou aqui a pensar?
– Diz lá talvez eu possa ajudar!
– Se o Jacinto não se pode candidatar quem o irá substituir?
– Muitos são os pretendentes…. Vamos a ver é se lá conseguem chegar!
– E dos candidatos que lá querem chegar tens alguma sugestão?
– Tento, sabedoria, humildade e alguma moderação!
– Mas isso não é fácil de encontrar?
– Que pensem pela sua cabeça e não andem a reboque de quem já não vai poder mandar!
– E a esta Banda da Frazoeira, queres deixar alguma coisa em testamento?
– Agora que tem um novo maestro que não mudem de andamento!
– Mas isso acredito que nunca se irá passar!
– Nãos – ei não, basta a sogra do maestro a banda querer começar a ensaiar ( os maiores aplausos da noite)
– Não me digas que a Maria do Carmo à Banda poderá vir a pertencer?
– Isso é o mais certo. Onde houver festa ela o nariz vai querer meter!
– Oh velha e ao Cassiano deixar alguma coisa bacana?
– Que se dedique de alma e coração à Banda da Frazoeira agora que já está reformado da Banda da Guarda Republicana
– Oh velha a esta banda centenária queres deixar alguma cosia boa?
– Ela que não se envaideça agora que foi a Lisboa!
– Oh velha mas isso ser recebida no Palácio de Belém pelo presidente Marcelo foi um grande momento!
– Claro que é e agora vão ter muito mais reconhecimento!
– Oh velha e a esta Banda da Frazoeira mais alguma cosia queres deixar
– Que toquem muito mais vezes o Hino Nacional para o presidente da República puder escutar!
– Oh velha e o que deixas ao Armando Cotrim que convidou o rancho para cá estar?
– Se ele soubesse o que sabe hoje… outra coisa havia de encontrar!
– Oh velha, talvez ele leva o Serrar da Velha à Biblioteca de Ferreira
– Duvido… então era ali logo que terminava a sua carreira!

Uma noite que encheu a sala e em que os espetadores ficaram maravilhados pelos momentos passados!

António Freitas