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FERREIRA DO ZÊZERE – Companhia Atrapalharte apresenta “Bichos”

A companhia Atrapalharte de Coimbra apresenta, no próximo dia 4 de junho, às 10 horas, no Centro Cultural de Ferreira do Zêzere, a peça “Bichos” de Miguel Torga a todos os alunos do 3º ciclo da Escola Pedro Ferreiro. Mais uma iniciativa da Rede de Bibliotecas do Médio Tejo com o apoio dos programas Centro 2020 e Portugal 2020. “Bichos” de Miguel Torga é um universo desenhado em catorze contos, onde humanos e animais partilham características e também as vicissitudes da vida, colocando questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência. Este clássico da literatura portuguesa, foi publicado pela primeira vez em 1940. Cada um do catorze contos tem uma personagem, um animal humanizado ou um humano, que é quase animal e todos vivem em luta com a natureza, Deus ou consigo mesmo.

Diferentes entre si nas suas particularidades, estes “bichos”, animais e humanos, estão todos na mesma “Arca de Noé”, a terra mãe, partilhando uma luta igual pela vida e pela liberdade. As suas histórias, apelam à interpretação porque representam dilemas muito humanos, partilhados quer pelos homens quer pelos animais. O Homem é, neste livro, mais um bicho entre os outros e não ocupa um lugar privilegiado na criação. Para Miguel Torga, a evolução afastou o Homem da natureza, condenando-o à perdição e, viaja com “Bichos” em busca da sua essência selvagem, da pureza dos instintos, pondo em causa Deus, liberdade, sociedade e a relação do individuo com elas. Nascido em Trás-os-Montes em 1907, com o nome Adolfo Correia da Rocha, Torga frequentou um seminário, mas a falta de vocação e o desacordo com Deus levaram-no para o Brasil onde trabalhou na roça de um tio. Como recompensa, este pagou-lhe o curso de medicina em Coimbra e, foi entre a medicina e a literatura que Adolfo Correia da Rocha dividiu a sua vida. Adotou o pseudónimo Miguel Torga em 1934 criando uma ligação profunda entre a sua personalidade e a sua produção literária. “Miguel”, nome de arcanjo, mas também de Ângelo, Cervantes e Unamuno, humanistas por quem tinha reverência e com quem se identificava pela independência e inconformismo; “Torga”, uma urze, uma raiz que sobrevive e contribui para a sobrevivência das gentes nas serras transmontanas, geografias que ele tanto gostava e onde sempre regressou. Assim Miguel Torga, a sua obra e a sua terra foram uma e a mesma coisa.