Manuel Fernandes Vicente, jornalista e escritor que vive já há alguns anos no Entroncamento, vai apresentar no próximo dia 9 de outubro no Cineteatro São João, pelas 18 horas, o seu novo livro Música nas Cidades ̶ Folk, rock, estilos étnicos e polifonias da Terra. É o quarto volume dedicado à pesquisa pelo autor dos elos que ligam o carácter histórico, social, urbano, imigratório, industrial, político e até mesmo climático, entre outros, de algumas importantes cidades do planeta e a natureza harmónica, rítmica e poética dos estilos musicais que nelas se criaram quase espontaneamente, e resultantes do simples pulsar da dia-a-dia das suas gentes. Na análise e reflexão que o autor constrói em torno de algumas dezenas de géneros musicais, Manuel Fernandes Vicente procura ligações, causalidades e conexões que mostram as cumplicidades entre alguns centros urbanos e os estilos, os instrumentos e até atitudes de grupo que aí se desenvolveram. A abordagem própria de cada capítulo passa ainda pelo salientar dos músicos que se salientaram pelo seu papel pioneiro ou pelo virtuosismo com que se destacaram, e ainda por múltiplas e expressivas histórias que se foram desenvolvendo no âmbito da natural evolução dos géneros musicais.
Todos os continentes são abrangidos neste livro, que aborda tanto reflexões e episódios curiosos com “as trompas feitas de raízes que falam pelos espíritos ancestrais” de Afounkaha, como da cena dos “infames” blues de Austin (EUA), a cena eletrónica de Berlim (na Alemanha após a queda do muro), a vida real e incrível dos encantadores de serpentes de Jaipur (Índia) ou o glorioso canto joik do povo Sami na vasta, mas rarefeita, região da Lapónia, o nha nhac, da corte real de Hue, a curiosa folk arbëreshë de San Demetrio Corone e as polifonias soberbas dos pigmeus da região de Bangui. Com incidência portuguesa, o autor refere-se aos casos das populares adufeiras de todo o concelho beirão de Idanha-a-Nova, ao superlativo exotismo dos carrilhões de Mafra, ao intrépido cante ao baldão de Castro Verde, ao metal nada conformista de Almada, Barreiro, Moita e Seixal e à vigorosa (mas pouco divulgada) cena avant-garde lisboeta. De quase todos os 57 estilos, que são outros tantos os capítulos em que o livro se reparte, são destacados dez álbuns, que por várias razões se tornaram notáveis, icónicos ou identificativos, e ainda canções, músicas e temas que, a título do seu gosto pessoal, o autor recomenda ou sugere aos leitores, e que hoje estão facilmente ao acesso de todos através dos canais de vastíssimos reportórios de música da Internet, como o Youtube, o Napster e o Deezer, entre outros. Músicas belíssimas e que não envergonham nada a Humanidade, como Soria Maria e Twelve Moons, Duel, Moonlight Serenade, The Dog-End e El Minero são alguns dos exemplos sugeridos, a título meramente pessoal, pelo autor aos seus leitores… De resto, o livro pode bem ser lido e ouvido com os discos propostos e outros…
“Não sendo propriamente um livro sobre música nem sobre cidades, o que temos em mãos é antes uma extraordinária viagem pelo mundo, de cidade em cidade, através das músicas que nelas se fizeram ou ainda se fazem e se tocam, cantam ou dançam, guiando-nos pelas ruas ímpares e pelos recantos incomparáveis em que se foi forjando a identidade de cada uma — e, sendo parte inseparável dela, a música com que as cidades falam aos seus e ao mundo”, refere o historiador e investigador cultural António Matias Coelho no prefácio deste novo capítulo da tetralogia Música nas Cidades.