Início DESPORTO DESPORTO – ‘A região e o futebol’, por José Rogério

DESPORTO – ‘A região e o futebol’, por José Rogério

Durante muitos anos o futebol do país e da região foi considerado um desporto, onde os jogadores, treinadores e dirigentes lutavam por “amor à camisola” e pelo engrandecimento dos concelhos a que pertenciam, havendo mesmo grandes disputas e “bairrismos” entre comunidades vizinhas. Depois, o futebol passou a ser tratado como um “mundo à parte” e teve inúmeras mudanças até à atualidade, mas a principal ocorreu na década de dois mil quando os clubes foram “obrigados” a constituir-se em sociedades anónimas desportivas (SAD), as quais terminaram com o controlo dos seus sócios. A partir do momento em que os clubes criaram as SAD, estas passaram a ser detidas por investidores de grande poder financeiro, sobretudo multimilionários que contribuíram para a inflação e os desequilíbrios “explosivos” do negócio futebolístico. Mas, o que impediu a “ruína” do futebol nacional foi a aposta nos escalões de formação e, ao mesmo tempo, ele funcionar como uma “incubadora de vedetas” que geram ótimas receitas quando são transferidas, permitindo reduzir os défices dos clubes face às suas gestões irracionais. Em Portugal e na Europa o objetivo de muitos dirigentes é tornar o “desporto-rei” uma máquina de gerar lucros, através do investimento de empresários, empresas (americanas e asiáticas), fundos da Fórmula 1 e também empresas de cripto-moedas que compram posições ou patrocínios das equipas mais mediáticas. Ao invés, no Médio Tejo e região envolvente, há “emblemas” que mostram bem o declínio das suas cidades como, por exemplo, a Académica de Coimbra, o União de Tomar, o União de Santarém, o Benfica de Castelo Branco e o Estrela de Portalegre, pois estas equipas já tiveram épocas gloriosas, mas agora “arrastam-se” em competições menores do país. Na prática, estes clubes e as suas localidades perderam capacidade futebolística e financeira, resultante da falta de competitividade industrial, comercial e terciária, ficando afastadas do “campeonato” do crescimento económico, demográfico e do investimento “agressivo” das sociedades desportivas. Por fim, as mudanças levaram o futebol a ultrapassar os limites do desporto para se tornar uma importante indústria de capital e marketing, sendo oportunos os processos judiciais que tentam apurar a verdade e responsabilizar os que estão “fora de jogo”, pois são quase sempre as mesmas SAD a progredirem nas competições mais “douradas” do país e da europa.