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ACTUALIDADE – Estudo britânico revela que jogos de azar são um problema entre menores

A notícia foi avançada pela BBC, que menciona a existência de um crescente problema no que diz respeito ao envolvimento de menores em sites de jogos de azar. O Reino Unido, tal como Portugal, está limitado a fortes restrições legislativas que impedem jogadores menores de 18 anos de se inscreverem em serviços do género; a exposição desses mesmos menores a conteúdos publicitários relacionados também é legalmente regulada. Ainda assim, segundo o estudo publicado pelos investigadores da Universidade de Cardiff, existem ainda muitos jovens no Reino Unido que foram directa e indirectamente expostos, ao longo do último ano, a conteúdo relacionado com jogos de sorte e azar.
Os investigadores trabalharam com dados estatísticos que tinham sido originalmente emitidos em 2017, e que compilavam as respostas relacionadas com jogos de azar que se encontravam em questionários submetidos a estudantes entre os 11 e os 16 anos. Ao todo, foram analisados dados relativos a 37,363 alunos de 193 escolas do País de Gales. O objectivo das perguntas passava por traçar um plano generalizado das interacções, opiniões, e relações que se estabeleciam no Reino Unido entre menores e os jogos de azar, principalmente aqueles localizados na Internet. As respostas foram esclarecedoras, mas também preocupantes.
Os investigadores da Universidade de Cardiff concluíram que 41% dos alunos que participaram nos questionários tinham jogado algum tipo de jogo de azar nos últimos 12 meses. Estes incluem todo o tipo de jogos que envolvam apostas monetárias, desde o poker, à roleta (long tail), máquinas de jogo (também conhecidas como ‘slot machines’), sites de apostas desportivas, ou Lotarias. Na sequência destes resultados, 84% dos jovens entre os 11 e os 16 anos que tinham estado directamente envolvidos com jogos de azar revelaram não se ter sentido mal ou arrependidos na sequência do processo. A normalização dos jogos de azar começa em primeiro lugar pelas máquinas de jogos, cuja utilização simples e fácil parece à partida estar desenhada para agradar a jogadores de qualquer idade, mesmo aqueles demasiado jovens para jogar.
Outras conclusões do estudo a Universidade de Cardiff apontam para uma maior prevalência de jogadores menores do sexo masculino, assim como a tendência para uma adesão superior por parte de jovens que pertencem a minorias étnicas. No entanto, entre estes regista-se igualmente uma tendência prevalecente para não gostar da experiência.
O Dr. Graham Moore, que foi um dos principais responsáveis pelo estudo, revelou à BBC que acredita que os jogos de azar se estão a tornar numa das grandes novas ameaças à saúde pública, e que o seu efeito entre os adolescentes pode ser comparado aos do álcool e do tabaco. Jogar de forma recorrente e séria jogos de azar pode, segundo o investigador da Universidade de Cardiff, ser um primeiro sinal indicativo de problemas. Afinal, quanto mais cedo começarem o vício e os problemas de jogo de uma criança/adolescente, mais provável é que estes persistam ao longo da sua vida adulta, onde as maiores responsabilidades, condições económicas, e independência podem ajudar a gerar resultados catastróficos. No Reino Unido e na Austrália, existem vários casos reportados de suicídios de jovens entre os 21 e os 26 anos que estão directamente relacionados com o envolvimento em jogos de azar e com o vício do jogo.

Mas afinal, porque é que jogar jogos de azar é tão viciante?

Especialistas em psiquiatria descrevem o vício como um distúrbio cerebral que envolve a repetição de certas ações, apesar das consequências negativas para a saúde e o bem-estar. As estatísticas não são animadoras, pois indicam que o vício em jogos de azar está entre as formas mais comuns de dependência atualmente.
É possível ser viciado em quase tudo, desde sexo até comida. Mas os jogos de azar representam um problema de vício especialmente eficaz principalmente porque funcionam de uma forma que está intimamente ligada aos desejos mais profundos do nosso cérebro. Os jogos de azar exploram melhor do que qualquer outro sistema as ideias de risco e recompensa, e o nosso cérebro está desde os tempos pré-históricos programado para procurar recompensas. A ideia de um ganho fácil e imediato agrada aos seres humanos desde o período pré-agrícola, em que a maior parte dos nossos antepassados trabalhava como caçador ou colector.
Os jogos de azar são além disso excelentes emissores de dopamina. A dopamina é um químico que se encontra no nosso cérebro e que é muitas vezes associado ao bem-estar e à felicidade. A dopamina, para além de ser uma das várias razões pelas quais os jogos de azar são tão atractivos, também é um dos principais químicos responsáveis pelo consumo e vício das drogas. Um excesso de dopamina no cérebro pode fazer sentir-nos bem a curto prazo, mas também pode estar na origem de depressões, problemas mentais, e falta de motivação.
Numa altura em que em Portugal os jogos de azar online estão mais fortes do que nunca, é necessário começar a criar suportes extra-legislativos que sejam capazes de endereçar o problema do vício do jogo, especialmente entre menores. O Reino Unido, por ser o país europeu mais afectado pelo problema, disponibiliza actualmente vários programas que ajudam menores a lidar com as pressões dos jogos de azar, sendo que muitos destes são financiados pelo Estado.