O cinema português surgiu de novo no palmarés de um grande certame internacional: O Ornitólogo valeu a João Pedro Rodrigues o prémio de melhor realização no Festival de Locarno, evento tradicionalmente associado aos circuitos “alternativos” da produção internacional. O filme narra a odisseia de um homem que, ao estudar algumas aves raras no Norte de Portugal, se vê envolvido numa viagem inesperada, com componentes fantásticas. Em França onde estreou; diário francês considera o filme como “prodigioso”. O cineasta português tem neste momento uma retrospectiva integral do seu trabalho no Centro Pompidou, em Paris, e uma exposição patente até Janeiro.
O filme O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues, realizador ligado ao concelho de Tomar, que embora nascido em Lisboa seu pai é de Ceras- Alviobeira (o professor catedrático da Escola Naval, jubilado Prof. Dr. Godinho Rodrigues) e o cineasta passou sempre as suas férias nesta aldeia, onde tinha uma predelição para o estudo e a protecção das aves. João Pedro Rodrigues refere em entrevista que quando era miúdo queria ser ornintólogo “Em casa a visão do mundo era uma visão científica e racional. Os meus pais são ambos da Físico-química. Passávamos muitos fins-de-semana em Ceras- Alviobeira – Tomar, de onde o meu pai é, assim como meus avós paternos e era lá, que praticava a observação de aves. Desde os meus dez anos que as queria estudar. Queria fazer uma catalogação completa das aves que ali passavam e nidificavam ao longo do ano. Tenho um temperamento obsessivo por natureza. Com quinze comecei a ir ao cinema, mas apesar disso continuei a estudar Biologia. Não acabei esse curso e aí sim fui para o Conservatório, a actual Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa. Apesar de não ser autobiográfico, este filme é um regresso a um caminho que eu podia ter percorrido.
O cineasta teve uma chamada de primeira página na edição, , do jornal Libération, dia em que a quinta longa-metragem do realizador português se estreou nas salas francesas. Sob o título O Ornitólogo ou as asas do desejo, o diário considera, na capa, o filme como “prodigioso” e, nas páginas interiores, escreve que o cineasta inventa “a magia de uma intersecção das inquietudes”. O Libération publica, também, uma longa entrevista com o cineasta, lembrando que “o Centro Pompidou homenageia João Pedro Rodrigues, de 50 anos, com uma retrospectiva integral”, com os seus 18 filmes, entre curtas e longas-metragens, “realizados no espaço de quase trinta anos, entre Portugal e uma China múltipla, sempre em companheirismo com João Rui Guerra da Mata, director artístico e por vezes co-realizador, argumentista, editor ou actor dos seus filmes”.
O Ornitólogo, a quinta longa-metragem a solo do português João Pedro Rodrigues, é um destes filmes, e a sua estreia tem algo de temerário nestes tempos nebulosos, em que o espectador em busca de clareza não tomará, talvez, o risco de aí se perder”, descreve o jornal. A retrospectiva integral do cineasta português no Centro Pompidou decorre até 2 de Janeiro: filmes como O Fantasma (2000), Odete (2005), Morrer como Um Homem (2009) e A Última Vez Que Vi Macau (2012), assim como masterclasses e a apresentação, pela primeira vez em França, da instalação Santo António, que João Pedro e João Rui Guerra da Mata realizaram em 2013.
A retrospectiva é ainda acompanhada pela publicação do livro Le Jardin des Fauves, a primeira obra em francês sobre o cineasta, sob a forma de entrevistas realizadas pelo produtor e cineasta Antoine Barraud, e editado numa parceria das Post Editions e do Centro Pompidou. O Ornitólogo é a quinta longa-metragem de João Pedro Rodrigues. Valeu-lhe o Leopardo para Melhor Realização no festival de cinema de Locarno, este ano, um festival que já o tinha distinguido, em 2012, com uma menção especial do júri, por A última vez que vi Macau, uma obra assinada com João Rui Guerra da Mata. João Pedro Rodrigues gostava de estrear O Ornitólogo em Portugal em breve, depois da França. António Freitas