
O Edifício Carneiro é, agora, o guardião da atividade artística do escultor Charters de Almeida, encerrando a constelação museológica do concelho de Abrantes. Os Museus são, no seu conjunto, fator de valorização do património e impulsionador de desenvolvimento cultural e criador de novas centralidades e dinâmicas, também inserido numa ótica de turismo. Inserido na zona histórica de Abrantes, na envolvente próxima exterior da muralha do Castelo/ Fortaleza de Abrantes, o Edifício Carneiro, com forte presença na malha urbana, apresenta uma arquitetura inspirada nos modelos arquitetónicos dos “chalets” da época, expressa nos três corpos, dois no topos e um central, ligeiramente destacados em relação ao alongado corpo paralelepípedo ao baixo com acentuados telhados de duas águas e vãos de geometria simples, e no logradouro/jardim escalonado ladeado de muros. O projeto de restauro, reabilitação e ampliação estruturou-se em princípios expressos nas cartas patrimoniais da UNESCO e na prática profissional relacionada com reabilitações de idêntico enquadramento técnico-cultural.

A expressão arquitetónica deste edifício e o seu reconhecimento no contexto da cidade de Abrantes associadas à localização, na envolvente próxima, exterior, da muralha do Castelo, reforçam a sua particularidade. A intervenção teve em consideração os principais atributos que valorizam este edifício no contexto sociocultural, tendo sido perspetivada uma obra de restauro, reabilitação e atualização tecnológica, de acordo com a nova função a instalar no edifício, face às características físicas/estruturais em presença, procurando assegurar uma cuidada requalificação do Edifício Carneiro, respeitando os seus traços identitários e aumentando-lhe a estima pública ao potenciar um novo tempo de uso funcional e tecnologicamente compatível com as exigências de conforto contemporâneas. A adaptação da unidade habitacional a Museu de Arte Contemporânea, que programaticamente necessita de espaços amplos em continuidade, obrigou a uma reflexão abrangem te, entre a manutenção da identidade cultural da casa conjugada com as suas condicionantes tecnológicas e a necessita de da sua transformação/alteração de modo a integrar uma nova e exigente função. Assim sendo, o programa foi ampla mente discutido e estabilizado por um conjunto de técnicos, onde se incluem os representantes do Município, técnicos especializados em museologia, historiador e os arquitetos autores do projeto, em estreita ligação com o Escultor Charters de Almeida e de Maria Adelaide Bahia. Em face da área útil existente e das características arquitetónicas e estruturais do Edifício Carneiro, optou-se por se autonomizar em edifício anexo espaços de apoio associa dos ao museu, o qual funcionará como uma natural extensão a Norte do Edifício Carneiro e cuja configuração e cobertura vegetal procuram estabelecer uma leitura de continuidade de plataforma de jardim existente, possibilitando a sua integração quando observado a partir dos planos superiores, nomeadamente do caminho da ronda do Castelo. As exigências tecnológicas de reinfraestruturação e adaptabilidade de um edifício projetado para habitação para o seu novo uso de Museu foram integradas de modo a criar condições térmicas e acústicas adequadas à boa manutenção das peças expostas, bem como a diversificação do uso espacial do edifício de modo a poder acolher atividades complementares, cumprindo com rigor, no plano tecnológico e dos materiais, a legislação em vigor, atendendo com especial relevância a medidas de correção sísmica do edifício, assim como à otimização de sistemas em função da sua sustentabilidade económica.

Através de Protocolo, assinado em 2006, renovado em 2011 e reafirmado em 2016 e em 2025, o escultor Charters de Almeida doou ao Município de Abrantes um acervo de obras suas representativas das várias fases do percurso de mais de meio século da atividade artística, carreira que comporta a escultura, área de formação, a medalhística, a cerâmica, a tapeçaria, a pintura e o Jazz como flautista, incluindo peças marcantes, que vão desde o ferro, ao aço, ao bronze, à pedra e ao betão. O acervo constitui-se de desenhos originais, posters, cartas e documentos de interesse relacionados com a conceção, construção e implementação e inauguração dos trabalhos. Contém ainda dados biográficos, fotobiografias, compilação de críticas e trabalhos escritos de reflexão da obra. A narrativa do acervo dessa intensa atividade criadora integra a exposição permanente presente nas 17 salas, situadas particularmente nos pisos 1 e 2 do museu. O circuito de visita a partir da casa, prolonga-se por um logradouro com a criação de um percurso de exposição ao ar livre até à entrada do Jardim do Castelo, tendo também vista privilegiada sobre o Aquapolis, nas margens do rio Tejo, nomeadamente sobre a escultura Cidade Imaginária, da sua autoria. Além dos espaços expositivos, o edifício está dotado de um auditório polivalente com 63 lugares sentados. No rés-do-chão, para lá da loja associada ao museu, foi construído um espaço para acolhimento de exposições de caráter temporário, que inaugurará com uma exposição alusiva à história do edifício que alberga o museu, da autoria do Arquiteto Victor Mestre. Foi ainda criado um espaço que funcionará como laboratório de restauro e investigação, que abrirá porta aos estudos e ciência e à ligação que se pretende ter com o ensino superior
