A Rua do Comércio em Alviobeira nunca tinha tido tantas noivas juntas! Apesar de não ter assistido a este desfile, na véspera assisti à preparação dos endereços, neste caso os fatos de noiva, que pendurados na “garagem do Zé Antunes e da Cidália” estavam prontos para voltar a ser usados, num desfile inédito de passagem de modelos, de o rancho folclórico idealizou, numa quinta feira de Corpo de Deus e que apelidou de “Noivas de Maio”. De verdade era o último dia deste mês e a azáfama prolongava-se pela noite fora, a passar a ferro fatos que tinham sido dos armários e que depois de lavados, resplandeciam o esplendor de dias casamentos e alguns que me eram familiares por ter sido eu, o fotógrafo desses dias, especiais e já passados 25 e 30 anos. Hoje os casamentos de altar fato de noiva estão ser cada vez menos. Manuel Santos, depois desta iniciativa que foi um êxito e valeu por ser inédita, refere no face book do rancho ” O que dizer do evento “Noivas de Maio” quando as muitas fotografias registadas falam por si!
A alegria, o movimento, o brilho no olhar de todas as “modelos”, os sorrisos, demonstram o quanto foi especial este fim de tarde em Alviobeira. Se o dia amanheceu chuvoso e triste, mantendo-se assim até à tarde, o certo é que à hora do desfile, o sol brilhou e iluminou todos os vestidos de noiva que desfilaram na passerelle montada na Rua do Comércio e criada de propósito para o evento. A rua estava enfeitada com as flores da época, rosas de todas as cores, adornaram e perfumaram o ambiente, o tule branco esvoaçante ajudou a criar um ambiente romântico e idílico para receber os cerca de setenta vestidos de noiva de várias épocas. Sob os olhares atentos de todas as noivas, que emprestaram os vestidos e de muitas pessoas que fizeram questão em marcar presença, desfilaram os vestidos de noiva de várias épocas, fazendo reviver memórias passadas e momentos especiais. Retirados do baú, onde permanecia, há já alguns anos, os vestidos ganharam vida e na passerelle pareciam novos. Desde já agradecemos a todas as pessoas que emprestaram os vestidos. As mulheres que os usaram, grande parte pertencem à nossa freguesia, outras são familiares, amigas e conhecidas dos componentes do Rancho. Os casamentos realizaram-se na Igreja de Alviobeira, capela de Ceras, capela da Torre, Casais, Areias, Dornes, Portela da Vila, Stª Maria dos Olivais, S. João Batista em Tomar, Charola do Convento de Cristo, Fátima, Cernache do Bom Jardim, Olalhas, Rego da Murta e Pussos”
Primeiro desfile foi reservado aos mais pequenos – Segundo quem idalizou o projeto e que depois teve tantas ajudas “O primeiro desfile da tarde foi reservado aos mais pequenos, seres tão importantes, fruto da união e do amor de casais do Rancho de Alviobeira, que um dia decidiram unir as suas vidas e partilhar sonhos e projetos. As crianças desfilaram e nos seus rostos a nossa esperança num futuro melhor. Seguiu-se o desfile dos vestidos de noiva, iniciando-se com a década de dois mil e foi recuando no tempo até à década de cinquenta. Por fim o desfile do trajo de noiva do Rancho de Alviobeira, uma réplica dos vestidos de noiva dos finais do século XIX. Salientamos aqui três décadas, a de setenta, sessenta e cinquenta. Na década de setenta assistimos a um momento alto do desfile, já que algumas das mães e sogras das componentes do Rancho casaram em 70. Nas Noivas de Maio algumas delas desfilam com os seus vestidos noivas, falamos da Marisa, da Celine e da Nela e foi um momento carregado de simbolismo, saudade e emoção. Antigamente o dinheiro não abundava. Temos o exemplo da Laurinda Rosa Ferreira, que casou na década de sessenta, que era órfão de pai desde os 15 anos e que comprou em conjunto com o noivo, os sapatos, as meias de vidro cor da pele e o tecido para o vestido. No seu caso o vestido foi feito pela D. Eulália de Jesus da Torre mas os restantes acessórios foram alugados: o véu, a grinalda, os brincos, o saiote, as luvas da noiva e do noivo. O Ramo foi encomendado a uma florista composto por verdura de espargo, enleio branco e rosas brancas. Quando os noivos saiam da igreja eram saudados com lançamento de pétalas e confeitos pelos quais os miúdos esperavam ansiosamente, era a ver quem apanhava mais guloseimas do meio do chão. Os noivos levavam a sua bandeja para o seu quarto de dormir onde à noite os convidados se deslocavam para dar a visita ao casal recém-casados, comendo um bolo e bebendo um cálice de vinho do porto, como forma de agradecimento. Antes dos noivos abrirem a porta, que estava sempre fechada à chave, ninguém entrava, os noivos abriam a porta e os convidados iam então ver a casa.
“Meus convidados são convidados para em minha casa entrar” – No caso da Sr.ª Laurinda e do Sr. Joaquim tiveram 21 meninas, de várias idades, que lhe deitaram os bolos, sendo essas jovens convidadas para o jantar da boda. Na década de cinquenta desfilaram dois vestidos, sendo um deles, feito pela noiva, a Sr.ª Adélia e todo ele cosido à mão. Entre 1900 e 1950 não conseguimos nenhum vestido de noiva, apenas várias fotografias, que mostram que as mulheres nesta época casavam de saia e casaco, em tom, creme, cinzento, cor de grão e algumas de preto. Utilizavam depois esse fato ou tingiam-no para outras ocasiões. Na cabeça usavam a mantilha, lenço de seda e algumas o lenço de cachené. As mais abastadas usavam vestido até aos pés em tons claros. Nos finais do século XIX, as mulheres casavam de preto. Temos no Rancho de Alviobeira, duas réplicas de vestidos de noiva. Na altura das recolhas foi-nos dito que o trajo de blusa branca e saia verde, normalmente usado pela Cidália no Rancho também era usado com trajo de casamento. Este foi o último desfile da noite, onde a cor muda completamente e o único apontamento branco era o lenço ou a blusa. Foi um final de tarde mágica e o ambiente no fim do desfile era de casamento, com distribuição de bolos, vinho do porto e champanhe, sorrisos, abraços e “beijinhos” doces”. E dado o sucesso desta iniciativa, em que as “noivas modelos” bem penteadas pela Fátima Rodrigues que tem salão em Alviobeira, mais pareciam pelas fotos verificadas, noivas pela primeira vez, que tal alargar este evento a outros palcos, a outras terras, que quem não gosta de ver caras sorridentes e um vestidinho de noiva branco a assentar com todo o primor? Por isso Manuela Santos não “mates” ou deixes as “Noivas de Maio” só por Alviobeira e por este dia. Fica o desfio! António Freitas com fotos do Facebook do rancho