Está a decorrer uma escavação na gruta do Morgado Superior, no território de Além da Ribeira/Pedreira, intervenção que deverá finalizar em finais de Julho. O objectivo passa por perceber como era usado este espaço funerário durante a Pré-história recente, sendo que a Câmara Municipal de Tomar e a Junta de Freguesia, convém sublinhar, estão a apoiar os trabalhos, contribuindo com alojamento e alimentação no Centro de Dia de Além da Ribeira. A equipa que está no terreno comporta membros provenientes de diversas universidades, a exemplo de Trás-os-Montes e Alto Douro, Porto, Coimbra, Évora, Universidade de Kent, Conselho Superior de Investigações Científicas de Barcelona, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Instituto do Mar e da Atmosfera, Sociedade de História Natural de Torres Vedras e Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar, entre outras entidades, num projecto impulsionado por Ana Cruz e Ana Curto. A importância desta cavidade para o estudo das populações holocénicas é-nos dada pelo Número Mínimo de Indivíduos estimado até ao momento: 195.
O cálculo do Número Mínimo de Indivíduos consiste na tentativa de criar uma estimativa do número de inumações praticadas num dado espaço funerário relativamente a uma inumação secundária, normalmente ossários. Dos métodos criados o que actualmente é considerado mais assertivo é o proposto por Herrmann e colaboradores (1990) uma vez que possibilita o estudo de pequenos fragmentos como os encontrados na Gruta do Morgado Superior (Curto, 2016). Em Portugal são diversas as grutas artificiais e naturais associadas a contextos funerários pré e proto-históricos. A Arqueóloga Rosário Fernandes (2011) na sua tese de mestrado englobou algumas dessas cavidades entre a Arrábida e o Alentejo Central, onde a mais conhecida internacionalmente é a gruta do Escoural não só pelo seu carácter funerário mas também por apresentar pinturas rupestres. Com o decorrer dos inúmeros trabalhos arqueológicos resultantes da construção da barragem do Alqueva já foram descobertos novos recintos funerários, nomeadamente grutas artificiais. Dentro dos quais estão os Hipogeus de Sobreira de Cima (Era Arqueologia, 2007), Hipogeus de Outeiro Alto 2 (Valera e Filipe, 2012), Hipogeus de Vale de Barrancas (Fernandes, 2013), entre outros.
De entre as grutas naturais do País às quais se procedeu a análise antropológica a Gruta do Morgado Superior é uma das que até ao momento apresentou o maior número mínimo de indivíduos em Portugal tendo sido contabilizados 195 indivíduos dos quais 131 eram adultos e 64 não adultos (Curto, 2016). A gruta natural portuguesa escavada que apresentou também um número significativo de indivíduos é a Casa da Moura cujo NMI é de cerca de 340 indivíduos (Antunes et al., 2009). Para Covão d’Almeida foram estimados cerca de 141 indivíduos (Boaventura, 2009) porém Vilaça (1990), de forma geral, descreve como tendo sido exumados cerca de 200 indivíduos. Na Lapa da Furada foram estimados cerca de 130 indivíduos, dos quais 64 são não adultos (Cardoso e Cunha, 1995).