“Operação Anti-Escaldão” é o título do quinto episódio do podcast da Unidade Local de Saúde Médio Tejo (ULS Médio Tejo), “Haja Saúde”. Com as temperaturas superiores a 40 graus que se fizeram sentir esta semana, os cuidados a ter com a pele no verão assumem a maior pertinência. César Martins, médico dermatologista, deixa conselhos médicos de como cuidar da pele durante o verão e obter um bronzeado seguro e deixa um apelo à população: “O protetor solar tem de ser um hábito diário, como o homem que quando se barbeia coloca aftershave. Só quando for um hábito é que vamos conseguir que a incidência e a prevalência do cancro da pele em Portugal diminuam”. Este episódio do “Haja Saúde” é dedicado ao maior órgão do corpo humano: a pele. Trata-se de um órgão complexo, que representa 15% do nosso peso corporal e que, durante as temperaturas extremas do verão, pode produzir até onze litros de suor por dia, auxiliando na regulação da temperatura corporal. No entanto, considera o dermatologista César Martins, durante a exposição diária ao sol, a saúde é menosprezada, e o bronzeado sobrepõe-se aos cuidados que todos já conhecem. O “escaldão”, um clássico das férias de verão, é isco para o cancro da pele : “A mensagem que tem de passar é que a pessoa pode-se expor ao sol da forma que quiser, mas tem de perceber o seguinte: a pele nunca pode ficar vermelha”, explica o médico. Nesta conversa desmistifica-se a ideia de que o escaldão nos primeiros dias de férias da praia é inofensivo: “Sempre que a pessoa fica com a pele vermelha, o ADN das células vai alterar-se. E sempre que o ADN das células se altera, a probabilidade de vir a ter um tumor ou uma lesão pré-cancerosa existe. Tentamos transmitir esta mensagem: se já apanhou um escaldão, pode perfeitamente a partir de um sinal que tem pré-existente, ou de uma pele normal transformar-se no tumor mais agressivo e que nós dermatologistas mais conhecemos, que é o melanoma maligno. Portanto, há que bronzear com cuidado e nunca apanhar nenhum escaldão”, adverte o médico da ULS Médio Tejo. César Martins não deixa margem para dúvidas: o protetor solar tem de se tornar um hábito diário. “Não estamos a conseguir passar a mensagem às pessoas de que o sol não faz só mal à pele na praia. O sol que se apanha na rua, em deslocações, ou nas profissões desenvolvidas ao arr livre, tem perigos idênticos”. O médico defende que este ritual terá de assumir os contornos de uma rotina de higiene: “Só quando as pessoas entenderem que deve fazer disso um hábito, como o homem que quando se barbeia põe aftershave, é que vamos conseguir que a incidência e a prevalência do cancro da pele diminuam”. E que protetor comprar? César Martins explica: “Há protetores solares físicos e químicos. Todas as pessoas querem protetores solares químicos, porque quando se aplica na pele, não se nota, espalha-se, não fica aquele aspecto esbranquiçado, e a pessoa fica satisfeita com isso”. No entanto, é uma falsa ideia de proteção ao sol, diz o médico: “É como se não tivesse. E na realidade não tem.” E explica que existe uma falsa sensação de proteção no índice elevado do protetor solar aplicado: “Normalmente, aplica-se entre 30 mililitros por aplicação. Se vir que, em média, um frasco de protetor solar tem 125 mililitros, dividido por 30 daria apenas para quatro aplicações corretas, de acordo com os estudos existentes. Não vou dizer que se gaste um frasco de protetor em quatro dias, mas um frasco de protetor solar de 125 mililitros dá para a pessoa, ou até mesmo para a família, durante oito dias”, clarifica. Com a aplicação de protetores com elevado índice as pessoas têm uma falsa sensação de proteção, afirma César Martins. Significa isso que não devemos ir à praia? “Posso bronzear-me desde que não fique vermelho”. E reforça: “Não basta colocar um qualquer creme para que a pele recupere do escaldão”. Entre os conselhos deixados, numa conversa muito abrangente e esclarecedora, que aborda, entre outros aspetos, o envelhecimento da pele, o médico dermatologista deixa uma forma muito simples de vigiar a saúde da pele e prevenir o cancro da pele: “A pessoa deve monitorizar os sinais que existem na pele. Para fazer a avaliação deve seguir a chave do abecedário: A de assimetria, B de bordos irregulares, C para cores diferentes, Diâmetros grandes para a letra D, e o E não tem a ver com elevado, mas com a evolução”. Quando se deve, então, consultar um dermatologista? “Sempre que a pessoa tem um sinal que mudou, deve mostrar ao médico. E sempre que a pessoa tem um sinal novo, também o deve fazer”, esclarece.