A reedição do livro “Repensar Portugal”, da autoria do Padre Manuel Antunes, foi apresentada na Assembleia da República em Lisboa, no passado dia 3 de novembro, dia do nascimento do pedagogo. Esta nova edição resulta de uma parceria entre o Município da Sertã, o Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes e a Theya Editores, com a colaboração do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta. A sessão de lançamento, que decorreu no Auditório Almeida Santos, contou com os discursos de Carlos Miranda, Presidente da Câmara Municipal da Sertã, Paula Carreira, Presidente do Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes, João Relvão Caetano, Pró-Reitor da Universidade Aberta, Rui Maia Rego, em representação de Guilherme d’Oliveira Martins, e José Eduardo Franco, Diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta. Carlos Miranda, Presidente da Câmara Municipal da Sertã, assina o prefácio desta reedição e no seu discurso explicou que “o município decidiu relançar agora o livro porque, mais do que assumir a enorme qualidade da obra e a sua importância na vitalidade da democracia portuguesa, é fundamental dá-la a conhecer a novos públicos”. Carlos Miranda caracterizou o Padre Manuel Antunes como alguém que, no pós 25 de abril, “ousou com a clareza do seu pensamento guiar como a luz de um farol que orienta um barco na mais tempestuosa noite”. A estreita colaboração com o Município da Sertã nas diferentes iniciativas ligadas ao Padre Manuel Antunes foi enaltecida pela Presidente do Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes, Paula Carreira, que afirmou que “a obra e pensamento tinham de ser continuamente divulgados, disponibilizados, lidos e refletidos. Ler hoje Manuel Antunes é sempre um exercício de inquietude, de questionamento, que nunca se esgota em si mesmo”. Rui Maia Rego transmitiu a mensagem de Guilherme d’Oliveira Martins que citou Padre Manuel Antunes: “não pode haver democracia sem consciência cívica, sem haver instituições representativas e mediadoras e, só desse modo, podemos precaver-nos contra os perigos de manipulações e condicionamentos ilegítimos”. O lado humanista do Padre Manuel Antunes foi sublinhado por João Relvão Caetano, Pró-Reitor da Universidade Aberta, que mostrou admiração “pela sua casa feita de portas abertas para quem o procurava com dúvidas, angústias e esperanças” e neste sentido citou as reflexões do “reconhecido intelectual jesuíta” e do papel da educação “na elevação do povo português que fazem-no pensar na participação dos estudantes e na necessidade de aprofundar o conhecimento da obra” para bem de todos. José Eduardo Franco, Diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta e coautor do Estudo Introdutório que acompanha a obra juntamente com Guilherme d’Oliveira Martins, reforçou a ideia desta iniciativa ser uma “sessão histórica na casa da democracia como continuidade de um trabalho iniciado há décadas de recuperação da memória do trabalho do Padre Manuel Antunes”. Refira-se que “este é um livro clarividente e de uma atualidade retumbante. Escrito em prosa, lê-se com sabor a poesia. É um hino à possibilidade da construção da democracia, um epitáfio à ditadura e um alerta contra todas as formas e ameaças de antigos e novos totalitarismos, de censura e inquisição”, conforme é referido no Estudo Introdutório. A obra “Repensar Portugal” foi editada originalmente em 1979 e reúne textos publicados por Manuel Antunes na revista Brotéria logo após o 25 de abril de 1974. Considerada um “manual de mesa de cabeceira para políticos”, a obra será oferecida a todos os deputados da Assembleia da República, membros do Governo e presidentes das câmaras municipais de todo o país. Professor universitário, ensaísta, crítico literário e filósofo, Manuel Antunes tornou-se num dos mais brilhantes pensadores nacionais e numa figura de relevo da cultura portuguesa. Filho de José Agostinho Antunes e de Maria de Jesus, nasceu na Sertã a 3 de novembro de 1918. Aos 13 anos ingressou no Seminário Menor da Companhia de Jesus, em Guimarães, seguindo, em 1936, para o noviciado na Companhia de Jesus, em Alpendorada (Marco de Canaveses). Ali fez a sua primeira profissão religiosa, tendo depois completado os estudos humanísticos e frequentado o Instituto Superior Beato Miguel de Carvalho (hoje Faculdade de Filosofia de Braga). Entretanto, matriculou-se na Faculdade de Teologia de Granada (Espanha), onde se formou em Teologia, tendo completado a sua formação religiosa em Namur (Bélgica). No dia 15 de julho de 1949 recebeu a ordenação sacerdotal pelo bispo de Guadix, D. Rafael Alvarez de Lara. Lecionou no Curso Superior de Letras da Companhia de Jesus e, em 1955, rumou a Lisboa para integrar a redação da revista Brotéria, onde já colaborava e que viria a dirigir anos mais tarde (1965-1982). Em outubro de 1957 o escritor Vitorino Nemésio, na altura diretor da Faculdade de Letras de Lisboa, convidou-o para lecionar as cadeiras de História da Cultura Clássica e História da Civilização Romana naquela instituição. As suas aulas foram seguidas por milhares de estudantes, alguns dos quais nem sequer estavam matriculados nas cadeiras que ele ministrava. A sua produção literária era invejável. Além de dirigir a revista Brotéria (onde utilizou 126 pseudónimos, a maioria dos quais com apelidos inspirados em lugares do concelho da Sertã), colaborou com outras publicações. Na obra publicada, encontramos uma vasta lista de títulos, de onde se destacam: «Do Espírito e do Tempo» (1960) e «Repensar Portugal» (1979). Na fase de transição que se seguiu ao 25 de abril de 1974, foi convidado a integrar o Governo com a pasta da Educação, mas recusou. Em 1981 recebeu o título de Doutor ‘Honoris Causa’ da Faculdade de Letras de Lisboa e, dois anos depois, nas comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República Ramalho Eanes conferiu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Faleceu a 18 de janeiro de 1985 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. No seu funeral, marcaram presença algumas das principais individualidades políticas da época, como Mário Soares, Carlos Mota Pinto e Francisco de Sousa Tavares. A Assembleia da República, em sinal de homenagem, guardou um minuto de silêncio em sua memória. Na Sertã, além de um monumento erigido em sua memória na zona da Carvalha e de a Biblioteca local ter o seu nome, existe ainda uma rua que lhe é dedicada. Em 2018, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique. Em 2023, no contexto das Jornadas Mundiais da Juventude, que decorreram em Lisboa, o primeiro-ministro António Costa ofereceu a obra completa do Padre Manuel Antunes ao Papa Francisco, durante o encontro entre ambos na Nunciatura Apostólica.