A denúncia chegou à Hertz em forma de email: «uma rapariga e um rapaz, que não tinham mais de 13 anos, foram impedidos de praticar skate na Praça da República devido ao barulho provocado pela prática da modalidade». Assim aconteceu na tarde do recente 17 de Agosto, apurou a nossa redação, que conseguiu entretanto recolher o testemunho da praticante. E, com efeito, ficou o lamento em torno da postura de uma senhora, supostamente funcionária da Câmara de Tomar, «que chama a Polícia de Segurança Pública porque se sente incomodada pelo ruído», disse-nos a nossa interlocutora, aqui com o registo vocal modicado pela Hertz:
Ou seja, esta praticante de skate garante, então, que as autoridades foram chamadas ao local porque aquela senhora se sentiu incomodada pelo ruído da prática da modalidade… o que, por si só, não tem enquadramento legal para impedir aquela prática. Aliás, o próprio Comando Distrital de Santarém da Polícia de Segurança Pública, questionado pela Hertz, confirmou isso mesmo, referindo que aquilo que poderá estar em causa é evitar a degradação de espaços públicos e ainda a proteção de transeuntes que ali circulem. Ainda assim, claro, a PSP não tem a legitimidade para «confiscar» os skates – tal como referiu o nosso testemunho – numa abordagem que tem ‘apenas’ o propósito de dissuadir os jovens, que justificam a presença na Praça da República face à inexistência de um parque de skates em Tomar, cujo processo de construção continua sem ver ‘a luz do dia’. Está em causa uma modalidade que tem ganho um forte impulso nos últimos tempos, conforme atesta a aposta em estruturas do género já efetuada por municípios como Abrantes, Entroncamento e Santarém, entre outros.
Eis as passagens mais relevantes do email que foi enviado à redação da Hertz por um munícipe devidamente identificado: «Com este email gostava de dar a conhecer uma situação deplorável que presenciei (…) na Praça da República, onde andavam de skate dois jovens (uma rapariga e um rapaz), ambos não tinham mais de 12/13 anos. Fiquei um tempo a presenciá-los pois achei muita piada aos dois, principalmente à rapariga e à forma como festava cada “truque” que acertava, e pensei: olha que bom estes dois jovens aqui sozinhos entretidos com isto, em vez de estarem agarrados aos telemóveis ou computadores, já que a cidade tem tão poucas ofertas durante as férias… Qual não é o meu espanto que, a dada altura, sai do edifício da Câmara uma senhora esbaforida que se dirige a eles, barafustando efusivamente, dizendo que não podiam estar ali pois o barulho dos skates a incomodava no trabalho. Percebi que trabalhava na câmara. A rapariga começa a falar com ela e diz que não têm sítio para andar e que não estão a fazer mal nenhum ali porque o senhor vereador disse que podíamos andar por toda a cidade… ao que a funcionária camarária responde: “Então vão andar para a porta dele!” e virou costas. Fiquei abismado com a atitude intimidatória por parte da funcionária e o ter abandonado o serviço para ir chatear miúdos que não chatearam ninguém. Passado pouco tempo apareceu um carro da polícia, com dois agentes que vão ter com os miúdos como se de malfeitores se tratassem com um discurso intimidatório, ameaçando confiscarem-lhes os skates. Junta-se a eles a dita funcionária, que abandona novamente o trabalho. Eu, continuando sentado no banco, incrédulo com tudo isto percebo que foi a senhora funcionária camarária que chamou a polícia e eles rapidamente vieram em seu socorro defendê-la de tamanhos malfeitores! (…) Os miúdos fizeram mal a alguém? A polícia perde tempo com isto? Dirige-se a crianças daquela forma como se delinquentes se tratassem? A funcionária larga o trabalho duas vezes numa hora para isto? (…) Nisto tudo as crianças arrumam as coisas e vão embora cabisbaixas. Fico curioso para saber se voltaram. Que triste cidade esta que trata assim duas crianças que apenas queriam ter espaço para andarem de skate e são tratados como delinquentes!