Em pleno Trilho Internacional dos Apalaches português, o Município de Oleiros e o Geopark Naturtejo voltaram a assinalar o Dia Internacional das Montanhas, dando destaque ao vasto património da Serra do Muradal, um reduto histórico com mais de 300 milhões de anos. O colóquio que teve lugar no Auditório da Junta de Freguesia de Orvalho reuniu um leque diversificado de oradores e trouxe novas considerações científicas, nas mais variadas áreas, em torno de uma temática que começa a ser percebida como vetor de diferenciação do território. A riqueza “ímpar” do património, a par de todo o potencial associado à montanha, foram por diversas vezes destacados pelos vários especialistas presentes que realçaram a “urgência” de preservar este legado, criando um museu dedicado à temática. A iniciativa revelou-se bastante interessante. O Grande Vale do Zêzere, o Cabeço do Mosqueiro onde está atualmente um miradouro são “atrações que foram sendo trabalhadas ao longo destes anos, ao mesmo tempo que se estabeleciam caminhos pedestres que têm vindo a acrescentar valor às freguesias”, frisou Paulo Urbano, Vereador da Câmara Municipal de Oleiros, que enquanto presidente da Junta de Freguesia do Orvalho apostou na valorização da Georota, “um trabalho que está a ter continuidade”, completou. O grupo de formações rochosas que integram a “silhueta abrupta e demolidora” como rotulou Orlando Ribeiro, geógrafo, em 1942, formou-se há 300 milhões de anos e conserva atualmente nove dos 15 geossítios e dois dos geomonumentos concelhios. “A Serra do Muradal é um testemunho antigo destas paisagens”, onde existem vestígios de vida de um oceano que já não existe”, recordou Carlos Neto Carvalho, coordenador científico do Geopark Naturtejo, que apontou ainda à importância da paleontologia existente na pedreira Penha Alta e no Portelo. Paulo Félix, da Associação de Estudos de Alto Tejo, falou da posição geoestratégica do Castro do Picoto e de toda a linha defensiva Muradal-Talhadas, onde também existem “baterias e outras construções militares que são tão ou mais importantes quanto as Linhas de Torres, legados que urge preservar”. Orvalho, que em 1186 pertencia à Covilhã, foi depois integrado no concelho do Fundão, no séc. XVIII, dados históricos trazidos à luz pelo investigador Leonel Azevedo, a quem foi colocado o desafio pelo presidente da Junta de Freguesia do Orvalho, Luís Roque, ser orador de um colóquio específico sobre o passado desta localidade. A Serra do Muradal e em concreto, o Vale da Cascata da Fraga de Água d´Alta, “é uma janela para uma série de espécies em vias de extinção”, realçou Silvia Ribeiro, da Universidade de Évora que a denominou como a “Floresta da Era Terciária ou Laurissilva”, sendo um “bosque relíquia”, onde azereirais e medronhais revelam elevado “interesse para conservação”. A finalizar, Pedro Martins, fotógrafo da natureza e há muito um visitante das montanhas de Oleiros, elucidou os presentes sobre os vários tipos de imagens que se podem captar a partir de abrigos e hides. Também o potencial paisagístico da região, onde se incluem as paisagens sonoras, ficou demonstrado. O fotógrafo mostrou imagens captadas da flora existente no território, tais como o melro de água, a salamandra lusitânica, plantas insetívoras (como a erva pinheiral orvalhada) ou o lagarto de água de cabeça azul, entre outros. No final, os participantes puderam ainda contemplar alguns pontos emblemáticos e reconhecer que esta é uma região montanhosa ímpar, onde não faltam variados pontos de interesse, até mesmo científico, bem como argumentos capazes de atrair vários segmentos de turistas e visitantes. As fotos falam por si com um pequeno passeio à Georota do Orvalho e a sua magnífica Cascata da Fraga D’Alta.