A campanha de escavação da Gruta da Avecasta, Areias, Ferreira do Zêzere, decorreu de 30 de Julho a 13 de Agosto, com o apoio do Instituto Português do Desporto e Juventude no âmbito de um dos campos de trabalho internacional (CTI) organizados em Portugal pelo IPDJ. O CTI da Avecasta, promovido pela Double-u Replay em parceria com a Câmara Municipal, contou ainda com o apoio do CRIFZ e do Agrupamento de Escuteiros 988, sendo coordenado por José Mateus, Paula Queiroz, Denise Silva e Artur Mateus e constitui-se como a frente de campo do “PIPAdAVE” – programa de investigação plurianual sob tutela da DGPC (Ministério da Cultura) – e da Montagem do Eco-Museu Avecasta (sob tutela da CMFZ). A campanha contou com 17 participantes internacionais (Europa, México e Turquia) e com um grupo de jovens arqueólogos portugueses, concentrando-se nos níveis da forja medieval, no topo da longa série de ocupações plenas que essencialmente se inicia no Neolítico. Escavou-se em três sectores: junto à sondagem central (sector A e C) e na ‘ravina W’ (sector D), do lado esquerdo de quem entra na Grande Sala.
Segundo os Arqueólogos coordenadores, os resultados são muito promissores: aperfeiçoou-se toda a metodologia de escavação e registo e consolidou-se a visão sobre estas últimas fases de utilização artesanal da gruta, na herança da unidade metalúrgica da época romana. Para além de expressivos vestígios de natureza vivencial (fragmentos de olaria, de comida (ossos de animais), pequenas lareiras – achados dispersos no chão de então, pejado de carvões – surgiram objetos metálicos e escória de ferro que se associam a forjas de fundição; Estas estão localmente marcadas por cuvetes pouco profundas na argila, agora cheias de cal (e/ou fosfato de cálcio) – estruturas que funcionariam com coberturas (pequenas cúpulas) de barro cozido, cujos restos foram aqui também encontrados. Esta ocupação tardo-medieval, cujo âmbito cronológico não está ainda totalmente conhecido, poderá associar-se ao termo da Torre da Murta (ou Torre do Langalhão – a menos de 2 kms) e porventura aos domínios de Pedro Ferreiro (besteiro de D. Sancho I), cujo nome (e vocação familiar artesanal) se associa bem com as forjas da Avecasta (porventura já regionalmente instituídas nos ecos da tradição romana local).
Segundo informação recolhia do relatório desta campanha de escavações, os trabalhos caracterizaram-se ainda pelo recurso intensivo ao registo fotográfico, fotogramétrico e LIDAR, não deram, no entanto, por concluída a programação inicial (onde se previa fazer seguir a desmontagem para níveis romanos): A complexidade dos vestígios é uma das causas, à qual se juntam dificultados imprevistas na utilização da topografia com Estação Total (que tem assumido ao longo da fase III dos trabalhos um papel essencial de georreferenciação dos achados e das estruturas exumadas) e no sistema de crivagem a água. Para os técnicos, torna-se necessário realizar em breve uma pequena campanha complementar de alguns dias com vista a terminar a desmontagem do solo medieval no sector D (Ravina W) e processar um considerável número de baldes de terra ainda por crivar. Durante as duas semanas da campanha a gruta esteve acessível ao público que aí acorreu com frequência, sendo sempre acompanhado (em visita guiada) pelos arqueólogos da equipa. No sábado, dia 6 de agosto teve lugar uma sessão pública com música que contou com a presença de Stephen Bull, Fernando Coimbra, José Mateus, David Zink e Márcio Cabral. Nos próximos dias 17 de setembro e 15 de outubro ainda poderá visitar a Gruta das 11h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00, de forma livre ou em visita guiada.