O Cine-Teatro São Pedro, em Alcanena, recebeu, nesta segunda-feira, a quinta sessão do ciclo “Conversas à Segunda”, na qual esteve em análise a temática da saúde. A primeira interveniente da sessão foi Sara Torcato Parreira, Enfermeira Especialista Coordenadora de Enfermagem da CUF Oncologia, que falou sobre “A Importância dos Cuidados de Saúde Primários na Doença Oncológica”. Partilhando da preocupação relativa à fragilidade do concelho de Alcanena, no que toca à falta de médicos de família, Sara Parreira defendeu que a escassez de recursos humanos nos cuidados de saúde primários, a nível nacional, e em particular no interior do país, tem grande impacto na prevenção, sendo que um diagnóstico atempado, designadamente em oncologia, é fundamental para salvar vidas, aludindo à importância dos médicos de família na deteção precoce num determinado tipo de tumor. Acrescentou que, atualmente, os diagnósticos de doenças oncológicas são cada vez mais tardios, o que vem dificultar os tratamentos das mesmas. Face à escassez de recursos existente, Sara Torcato Parreira defendeu que é importante formar enfermeiros especialistas para acompanhamento de pacientes com doença crónica estável, rentabilizando, desta forma, os recursos existentes. Seguiu-se a intervenção de Edgar Pereira, Assistente Hospitalar Graduado de Saúde Interna, com o tema “Como Encontrar Uma Luz na Escuridão”. Edgar Pereira começou por apresentar um gráfico com a evolução do número de utentes sem médico de família, que, em maio de 2022, se cifrava em 1.299.736, sendo expectável que se chegue a 1.800.000 até final de 2023. Fazendo referência à organização dos centros de saúde, que se dividem em UCSP – Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (caso do Centro de Saúde de Alcanena), e USF – Unidade de Saúde Familiar A e B, apresentando diferenças de funcionamento, Edgar Pereira afirmou que dois terços dos médicos de família já se encontram a trabalhar em Unidades de Saúde Familiar, uma vez que as mesmas oferecem condições de trabalho mais atrativas. Na opinião do orador, o investimento efetuado nos centros de saúde do norte do país, onde se fecharam mais cedo as extensões de saúde, onde é mais fácil desenvolver trabalho de equipa e região onde se registam mais alunos nas faculdades de Medicina, pode justificar que ali existam apenas cerca de 4% de utentes sem médico de família, face aos 24% na ARSLVT e aos 17% na região do Algarve. Em Alcanena, verificou-se a dispersão prolongada das extensões de saúde, apostando-se na proximidade, em detrimento da acessibilidade e da qualidade, com condições de trabalho pouco atrativas, sem fomento do trabalho de equipa, sem capacidade de formar novos médicos e com falta de investimento nos equipamentos de saúde. Face ao atual panorama do concelho de Alcanena, no que concerne aos médicos de família, Edgar Pereira considera que não haverá melhoria da situação, se não estiverem reunidas as seguintes condições: Centros de Saúde com boas instalações, rede de comunicações eficiente, acessibilidade aos utentes, criação de Unidades de Saúde Familiar e idoneidade formativa, defendendo que se deve acabar a discussão sobre a reabertura das extensões de saúde, uma vez que, na sua opinião, o concelho deverá ter um Centro de Saúde, com uma ou duas Unidades de Saúde Familiar. A finalizar a sua intervenção, Edgar Pereira apresentou também algumas soluções de base nacional, que passam pela existência de mais médicos de família no SNS, mais utentes por médico (com os devidos incentivos) e menos utentes no SNS.
Luís Pisco, Presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, começou por aludir à crescente longevidade dos portugueses, afirmando que o desafio consiste em criar condições para que as pessoas com mais de 65 anos possam viver os próximos anos com qualidade de vida, sendo preciso, para o efeito, organizar os serviços de saúde, sendo necessárias boas instalações e profissionais. Aludindo à discrepância de número de utentes sem médico de família que se verificam, designadamente, entre a ARS Norte (4%) e a ARSLVT (24%), Luís Pisco afirmou que, no Norte, se aproveitaram os fundos comunitários (indisponíveis para a região de Lisboa e Vale do Tejo), para investir na construção de centros de saúde e atrair médicos mais jovens. Outra agravante para a falta de médicos de família prende-se com o estabelecimento de “numeros clausus” nas universidades, sendo que, em 1973, existiam cerca de 5000 alunos inscritos nas faculdades de Medicina e, após o 25 de Abril, esse número passou para apenas 150. Luís Pisco prosseguiu a sua intervenção, afirmando que as Unidades de Saúde Familiar são uma marca de qualidade, sendo, no entanto, uma realidade urbana (grandes cidades e litoral), defendendo que é preciso mudar este paradigma. Partilhando da preocupação da autarquia e da população do concelho de Alcanena, o Presidente da ARSLVT defendeu a existência de uma equipa de família, informando que, no âmbito do Orçamento de Estado, será, em breve, promulgada legislação que prevê a possibilidade de um pagamento suplementar nos locais onde a percentagem de população sem médico de família seja superior à média nacional. Acrescentou que se prevê a continuação de aposentações de médicos de família em 2022 e 2023, esperando-se alguma estabilidade dentro de dois anos.
A encerrar esta sessão esteve a intervenção de Rui Anastácio, Presidente da Câmara Municipal de Alcanena, que começou por referir que, em reunião realizada na semana anterior, com a Ministra da Saúde, lhe transmitiu o seu desespero por ter cerca de 7580 munícipes sem médico de família. Referiu ter saído dessa reunião com o compromisso de soluções a curto prazo, como a abertura de um concurso ainda no decorrer do mês de junho e com a contratação de dois jovens médicos de família, prevista para agosto. Apesar de considerar que se tratou de uma reunião proveitosa, o autarca considera que ainda há muito trabalho pela frente, nomeadamente no que respeita à necessidade de requalificação dos equipamentos de saúde do concelho, assim como à necessidade de se apostar num atendimento de qualidade ao utente. Rui Anastácio reafirmou o empenho da Câmara Municipal na resolução deste problema, defendendo a importância de existir uma maior proximidade entre a autarquia, a ARSLVT e o Centro de Saúde de Alcanena, sendo necessário, após as soluções de emergência, apostar num projeto de saúde global para o concelho de Alcanena. O Presidente da Câmara defendeu, ainda, a existência de um reforço remuneratório para os médicos de família e afirmou que, na sua opinião, existiu um grande problema de gestão, tendo a administração central falhado na distribuição de médicos de família. No seu entender, não é compreensível que a média de utentes sem médico de família na ARSLVT seja de 24% e, em Alcanena, seja de 63%. Relativamente à questão das extensões de saúde, Rui Anastácio disse acreditar nos serviços de proximidade, sem descurar, no entanto, a questão da acessibilidade, que, na sua opinião, é ainda mais importante. A sessão foi moderada pela Vereadora Marlene Carvalho. www.cm-alcanena.pt