Entre a presença e o exílio decorreu a 12ª edição do Bibliotecando em Tomar, encontro que decorreu no Instituto Politécnico da cidade, nos dias 6 e 7 de maio, tendo como oradores uma plêiade de alguns dos maiores especialistas nacionais nas matérias em causa, gente das letras, mas também das diversas ciências e de outros ramos do saber. No regresso após dois anos de “exílio” pandémico, o tema previamente escolhido ganhou contornos completamente novos, não apenas na sua discussão mas também no próprio funcionamento. Tornou-se assim natural que os dois nomes mais esperados da iniciativa, Alberto Manguel e Lídia Jorge, tivessem uma presença apenas virtual. Ou que fosse possível acompanhar em streaming (que continua acessível a partir de https://www.facebook.com/bibliotecando.tomar/) todo o decorrer dos trabalhos. Mas a possibilidade de estar presente fisicamente, via-se no rosto dos participantes, foi uma alegria nos tempos conturbados, reais, dos nossos dias, que tiveram expressão frequente nas preleções em que confinamento e refugiado foram dois conceitos repetidamente utilizados.
A sessão de abertura fez jus à multipolaridade do evento, que só é possível graças a um conjunto vasto de entidades trabalhando em parceria, representadas na mesa por João Coroado (Instituto Politécnico), Anabela Freitas (Câmara Municipal), Guilherme d’Oliveira Martins (Centro Nacional de Cultura), Graça Barão (Rede de Bibliotecas Escolares), Maria Celeste Sousa (Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria), Paulo Macedo (Agrupamento de Escolas Templários) e Agripina Carriço Vieira (Centro de Formação “Os Templários). Foi feita em seguida uma apresentação do livro “Da construção de uma viagem partilhada – Bibliotecando em Tomar 10 anos”, que faz uma síntese da primeira década da iniciativa.
O primeiro painel teve como coordenador Guilherme d’Oliveira Martins, uma participação em vídeo de Alberto Manguel e as presenças de Alexandre Castro Caldas e Marcello Duarte Mathias, que protagonizaram uma interessante conversa plena de erudição em que ciência, história e literatura se entrecruzaram. À tarde, a vereadora Filipa Fernandes coordenou o painel que juntou José Carlos Barros e António Cândido Franco que abordaram, respetivamente, a temática do livro “As pessoas invisíveis”, exiladas da memória e da história, recém vencedor do Prémio Leya e as atribulações dos judeus em Portugal, relembrando a importância judaica de Tomar. Seguiu-se um painel de homenagem a José-Augusto França, uma das personalidades que passou por edições anteriores do Bibliotecando, cujo centenário se celebra este ano, e que contou com a coordenação de Ana Soares e a participação de Cristina Azevedo Tavares, após o que foi feita uma visita ao Núcleo de Arte Contemporânea. No sábado, o vice-presidente da Câmara, Hugo Cristóvão, coordenou o painel onde Hermano Carmo falou da importância das aulas de cidadania para a construção da identidade das crianças e jovens e Jorge Malheiros abordou as múltiplas perspetivas dos movimentos migratórios.
O mais literário dos painéis, reuniu o jornalista e também autor Luís Ricardo Duarte e os escritores Ana Margarida Carvalho, Bruno Vieira Amaral e Julieta Monginho (esta por videoconferência), descobrindo que os livros deles estão cheios de personagens de algum modo exilados, ou não fosse essa uma característica tão comum à literatura. Com a habitual passagem pelo Congresso da Sopa, que encantou de forma diferente estes também congressistas, a tarde recomeçou com Fernando Rodrigues a conduzir mais uma excelente conversa entre Miguel Real (também através de videoconferência), Ana Sousa Dias e Arnaldo Mesquita, e onde o poder e os limites das imagens estiveram no centro da discussão.
Por fim, o ponto alto do encontro, com a entrega do Prémio Bibliotecando 2022 à escritora Lídia Jorge. Na impossibilidade de estar presente, a romancista, que viveu em Tomar no início dos anos setenta, onde foi professora no Liceu, enviou uma comunicação em vídeo, que emocionou a plateia, a qual lhe dedicou a ovação mais prolongada da iniciativa. Graça Barão coordenou este painel, no qual Nuno Garcia Lopes falou sobre o resgate das vozes inaudíveis pela autora da “Costa dos Murmúrios” e Rita Gaspar Vieira fez uma apresentação sobre a sua obra plástica, que inclui a gravura de tiragem única que agora vai ser entregue à escritora. A sessão de encerramento contou mais uma vez com os representantes das várias entidades, e também com Fátima Frade Reis, também ela artista plástica, que teve trabalhos em exposição durante o encontro. A terminar, e como é tradição, Célio Marques lançou o mote para a edição 2023 do Bibliotecando, apresentando o tema: margem e caminho. Assim se andará, dias 5 e 6 de maio do próximo ano. www.cm-tomar.pt