O Hospital Distrital de Santarém (HDS) aumentou nos últimos anos a capacidade de resposta no tratamento da doença arterial. Segundo o cirurgião vascular Pedro Martins, isto deve-se à implementação da cirurgia endovascular, o que possibilita tratar situações mais complexas. Este procedimento minimamente invasivo, utilizado quer no tratamento da doença aneurismática (que condiciona os aneurismas da aorta, entre outros), quer oclusiva (isquemia provocada pelo bloqueio dos vasos por aterosclerose), iniciou-se no HDS em fevereiro de 2016. De acordo com o especialista, o primeiro doente tratado por via endovascular (tipo “cateterismo”), alternativa à cirurgia convencional (tipo clássica), constituiu um “momento crucial” na história do Serviço de Cirurgia Vascular, tendo aberto portas a toda uma nova capacidade de intervenção. “Tratava-se de um doente com uma isquemia crítica do membro inferior esquerdo”, recorda.
Alguns meses depois, em novembro de 2016, efetuou-se o primeiro tratamento endovascular do aneurisma da aorta abdominal (EVAR), que envolve a colocação de uma prótese aórtica por via femoral (artérias das virilhas) através de um cateterismo minimamente invasivo (ao invés de “barriga aberta”). Pedro Martins conta que a partir desse momento “passou a existir uma capacidade de resposta mais diferenciada, tendo sido possível captar mais doentes da área de influência do HDS que estavam a ser referenciados para hospitais centrais em Lisboa”. Antes de 2016, eram intervencionados em média três doentes por ano com Aneurisma da Aorta no HDS, estimando o médico que este ano de 2021 sejam realizadas cerca de 20 operações, fruto da evolução técnica descrita.
Apesar da importância deste tipo de técnica EVAR no tratamento dos aneurismas da aorta abdominal, Pedro Martins refere que “a cirurgia convencional (“barriga aberta”) continua a ter o seu lugar e qualidade”, mas hoje em dia é adequada a um grupo mais selecionado de doentes e na maior parte dos casos não é a primeira opção de tratamento. “Sou um grande entusiasta da cirurgia convencional em doentes selecionados, mais jovens e com risco operatório favorável”, afirma. Entre as principais vantagens da técnica de EVAR, o cirurgião destaca a menor mortalidade e redução em complicações, além de menor tempo operatório e de internamento, quer em unidade de cuidados intensivos quer em enfermaria, aspetos que compensam o custo inicial mais significativo desta técnica.
O médico lembra que a nível mundial a técnica endovascular de EVAR existe desde a década de 90, mas a sua enorme expansão tem ocorrido sobretudo nos últimos 15 anos, tendo começado por ser iniciada em Portugal em hospitais centrais em Lisboa e Porto, como o Hospital de Santa Maria ou de São João. Recentemente, o Serviço de Cirurgia Vascular do HDS, único existente em todo o distrito, iniciou mais uma forma de tratamento endovascular para casos mais complexos de aneurisma da aorta, designada por FEVAR (implantação de endoproteses fenestradas com orifícios para as artérias viscerais).
Sobre o aneurisma da aorta abdominal – O aneurisma da aorta abdominal é uma dilatação anormal da principal artéria do abdómen, habitualmente sem sintomas. A dilatação pode ser progressiva e, se a artéria atingir um diâmetro muito elevado irá romper e provocar uma hemorragia interna frequentemente fatal. Face ao subdiagnóstico da patologia, Pedro Martins defende que “deve ser feito um esforço no sentido de aumentar os programas de rastreio a nível distrital e nacional”, de modo a aumentar o diagnóstico do aneurisma da aorta, para que o doente possa ser intervencionado, diminuindo a mortalidade.