Começou mais uma edição do Orion, exercício que é realizado anualmente para treinar a capacidade de resposta do Exército em situações de crise, nomeadamente em contextos internacionais. Este ano o exercício tem a particularidade de sair dos muros das instalações militares, aproximando-se das populações e contando com a participação de várias entidades civis. Até ao dia 29 de novembro, cerca de 1300 militares de Portugal, Espanha, Lituânia, Roménia, Brasil, França e Estados Unidos estão em três freguesias de Abrantes (Bemposta, Tramagal e Água Travessa) e em Vendas Novas. “Este é um exercício extremamente importante porque permite validar o nosso treino movido ao longo de um ciclo de treino anual”, explica o Tenente Coronel Melo Dias, comandante da Taskforce Viriato. Por outro lado, estar perto das populações “é benéfico para ambas as partes” e ajuda a construir uma “boa imagem do Exército”.
Para além de vários exercícios, como o fogo real, os militares envolvidos são confrontados com situações idênticas às que poderão encontrar em cenários internacionais no âmbito das ações da NATO. No decorrer do Orion são criados incidentes para testar a capacidade de resposta das forças. Um deles aconteceu este domingo, numa estrada secundária da aldeia de Chaminé, em Abrantes. Imaginem-se dois países em conflito, décadas de incidentes que resultam da tentativa de supremacia por parte de um deles. Imagine-se, ainda, crime organizado em ambos os lados, grupos extremistas, atentados e tentativas de invasão. Já num período de estabilização, imagine-se que as forças da NATO estão nesse território, onde há uma manifestação de civis, que bloqueiam uma estrada para exigir água potável. Este foi o primeiro incidente criado para testar a reação das forças envolvidas no Orion 2019.
Os manifestantes – protagonizados por um grupo de comandos – mostravam descontentamento pela poluição das águas e bloqueavam uma rua da localidade, impedindo a comunidade de se deslocar. Por isso esta simulação foi designada de Road Block (bloqueio de estrada). Durante cerca de duas horas, ouviram-se gritos exigindo água potável e recusas em reabrir a estrada. Com garrafas de líquido turvo e cartazes, os supostos manifestantes perguntavam: “Esta é a água que eles querem que a gente beba?” E acrescentavam. “Daqui ninguém nos tira!” Tudo encenado. O incidente simulado contou com a participação de elementos do IGC – Centro de Direitos Humanos, da Faculdade de Direito de Coimbra, que fingiam ser cidadãos revoltados pela passagem estar impedida. Havia também quem fizesse o papel de membros de Organizações Não Governamentais que tentavam fazer a ponte entre manifestantes e militares. Dando ainda mais corpo às parcerias com entidades civis, os alunos do curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes desempenhavam o papel de jornalistas, como se estivessem realmente numa situação de conflito.
O objetivo da simulação era avaliar as capacidades de uma UEB-Unidade de Engenharia Bélica numa operação de estabilização, identificar o ponto de situação das funções de combate e treinar a projeção intrateatro de meios pesados. Neste incidente simulado participaram cerca de 50 militares, incluindo os que vieram do arquipélago da Madeira. Confrontados com o incidente, tiveram que mostrar a capacidade para intervir, no âmbito da sua missão, sem recurso à violência, como exigia a situação. No final do incidente simulado, o responsável pela operacionalização, Tenente Coronel Telmo Hing, fez um apanhado geral ao desempenho dos militares avaliados, referindo que os objetivos foram alcançados. Ou seja, apresentaram uma solução para cooperar com as populações, conseguindo a desmobilização dos manifestantes. Recorreram às capacidades de engenharia do Exército, solução que seria a apropriada, se estivessem numa situação real. Até ao final do Orion 2019, outros incidentes serão criados para continuar a testar as capacidades das forças militares envolvidas. Texto de André Ventura, Magda Filipe e Maria Nicolau