De 26 a 28 de abril, a Romaria a São Nuno de Santa Maria assinalou o décimo aniversário da canonização deste santo português nascido na Vila de Cernache do Bonjardim, com um programa diversificado que teve a vila como palco das comemorações. Na sessão de inauguração, José Farinha Nunes, Presidente da Câmara Municipal da Sertã, congratulou-se pela “homenagem que a União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais e o Município da Sertã prestam ao seu filho ilustre e figura maior da história de Portugal. São Nuno de Santa Maria, é uma figura central no contexto da religião portuguesa. O seu exemplo de vida e a forma como cultivou dons como a piedade, a sabedoria e a inteligência, fazem dele uma importante referência para católicos de todo o mundo”. É uma honra e um orgulho, poder celebrar a canonização de alguém que nasceu no nosso concelho no distante ano de 1360.” Mais do que assinalar o décimo ano da canonização, a Romaria destaca “o exemplo e o legado que nos foi deixado e que hoje importa fazer perdurar”, referiu o autarca. Trata-se de “um dos eventos charneira do calendário festivo e uma das grandes manifestações que estão a ajudar a alavancar o nosso Turismo Religioso. Estamos cientes da força de São Nuno de Santa Maria enquanto elemento potenciador do Turismo. Não podemos olvidar este potencial sob pena de estarmos a desperdiçar um ativo importante e que alcandore o nosso concelho para uma posição de maior destaque no contexto turístico nacional. Existe um longo caminho a correr, mas estamos preparados para desafiar a sociedade civil e os diferentes agentes para transformar Cernache do Bonjardim num local onde é possível fazer germinar um importante pólo turístico ligado à religião e à história”, finalizou o autarca. Filomena Bernardo, Presidente da União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais, na cerimónia de inauguração da romaria e da exposição alusiva à “Batalha de Aljubarrota”, congratulou-se pela parceria com o Município da Sertã ao longo das sete edições da romaria. Agradeceu também o empenho de todas as colectividades e associações da freguesia, assim como à “Associação Paços do Condestável, pelos contributos à Romaria e às Festas de S. Nuno”. A finalizar a sua intervenção, a autarca referiu-se à necessidade de criar um “museu ou centro interpretativo da parte religiosa para se desenvolver (…) o turismo religioso”.
Após a cerimónia de inauguração, realizou-se a eucaristia na Igreja Matriz, seguida da Procissão das Velas com a participação da Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense. A população aderiu em massa e percorreu as artérias da vila desde a Igreja Matriz ao Seminário. A fechar o primeiro dia da romaria, a Igreja do Seminário das Missões encheu com o concerto de música gospel dinamizado pelo Saint Dominic’s Gospel Choir, que pôs o público presente a cantar e a bater palmas. No segundo dia de festejos, decorreu no Salão Nobre do Seminário das Missões a conferência “À conversa com os Missionários”, em que o Superior Geral Padre Adelino Ascenso moderou a conversa entre o Padre Castro Afonso, o Padre Paulo Ribeiro e o Padre Luís Figueiredo, que desvendaram um pouco do que foi a sua formação, particularmente a sua passagem pelo Seminário das Missões em Cernache do Bonjardim. Houve ainda contributos em vídeo do Padre Hipólito Vida e Padre Rui Ferreira, padres cujo percurso passou também pelo seminário, encontrando-se atualmente em missão no Japão e em Moçambique, respectivamente. O chamamento para ser padre ocorreu em diferentes momentos da vida de cada um. Mas todos foram unânimes em afirmar que Cernache do Bonjardim possui uma grande veia de espiritualidade. O programa prosseguiu com a tarde de concertinas que viu passar pelo recinto do seminário o Grupo de Animação Seca Adegas, Grupo de Concertinas da Carapalha (Castelo Branco), Grupo de Concertinas da Sertã, Grupo de Concertinas Sons da Serra (Oliveira do Hospital),Grupo de Música Popular de Cernache do Bonjardim, Grupo de Concertinas de Conceição (Ourém). Seguiu-se a recriação histórica com manejo de armas e a atuação do Grupo de Cavaquinhos do Clube da Sertã. A noite do segundo dia da romaria registou casa cheia com o concerto de David Antunes & The Midnight Band, a que seguiu a atuação da Banda Cosmos.
Nos dias 27 e 28 (sábado e domingo) esteve patente a Mostra de Produtos Regionais no recinto do festival, que também registou a presença de estátuas humanas, que personificavam Nuno Álvares Pereira nas vertentes guerreiro e santo, que iam interagindo com o público presente. Na manhã de domingo, último dia da romaria, decorreu a habitual arruada com os Tambores de Casal da Madalena, logo seguido pelo cortejo pelas artérias da vila com a participação da Filarmónica União Sertaginense que culminou no Seminário das Missões, onde foi celebrada a Missa de Ação de Graças a São Nuno de Santa Maria. À tarde, a animação continuou com a atuação da Tuna da Academia Sénior da Sertã e o XXXVI Festival de Folclore organizado pelo Rancho Folclórico e Etnográfico de Cernache do Bonjardim, que registou nova enchente de público. Pelo palco, além do rancho anfitrião passaram o Rancho Típico de lvorge (Ansião), Grupo Folclórico Recreativo de Tabuadelo (Guimarães), Rancho Folclórico Praias do Sado (Setúbal), Rancho Folclórico de Silvares (Fundão), Rancho Regional de Argoncilhe (Santa Maria da Feira) e Grupo Académico de Danças Ribatejanas (Santarém). À noite, o espectáculo com o grupo Sons Minho fechou, uma vez mais com casa cheia, o programa de atividades da sétima edição da Romaria a São Nuno de Santa Maria.
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São Nuno de Santa Maria, nasceu Nuno Alvares Pereira em 1360, fruto da relação entre D. Álvaro Gonçalves Pereira e Iria Gonçalves. O nascimento ocorreu nos Paços do Bonjardim, em Cernache do Bonjardim (Concelho da Sertã), e ainda jovem, Nuno Alvares Pereira ingressou na Corte, sendo armado Cavaleiro. Nos anos seguintes, cumpriu várias façanhas à frente de destacados exércitos. Notabilizou-se na crise de 1383-1385, quando se aliou a D. João Mestre de Avis (futuro D. João I), e com ele defendeu a independência de Portugal face às investidas do soberano de Castela, que reclamava o trono nacional. Nomeado Condestável do Reino, seguiram-se inúmeras batalhas, a mais famosa das quais foi a Batalha de Aljubarrota – um dos episódios mais celebrados da historiografia portuguesa.
Nuno Alvares Pereira mandou construir depois diversos templos religiosos e conventos e, em 1423, já depois de ter participado na conquista de Ceuta, repartiu todos os seus títulos e domínios pelos netos e entrou para a Ordem dos Carmelitas, no Convento do Carmo, tomando o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Morreu em 1431 mas a sua lembrança permaneceu viva na memória de todos. Em 1918, foi beatificado pelo Papa Bento XV e, a 26 de abril de 2009, o Papa Bento XVI decretou a sua canonização, enquanto São Nuno de Santa Maria.