O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa visitou Alpiarça por ocasião das Comemorações do Centenário do Governo Presidido por José Relvas, tendo presidido à Sessão de encerramento do Seminário Nacional “José Relvas: Arte, Cultura e República” e visitado a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça.
Recebido pelo Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, Mário Pereira, pelo Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça, Fernando Rodrigues Louro, e pela população deste município de Santarém, o Presidente da República dirigiu-se ao auditório onde, após a intervenção do Presidente da Câmara, usou da palavra, encerrando o primeiro dia do Seminário Nacional “José Relvas: Arte, Cultura e República”. Seguidamente, e após descerrar placa comemorativa da data, o Chefe de Estado visitou a antiga residência do republicano José Relvas, guiado pelo Diretor da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, Nuno Prates.
Mário Pereira, presidente da Câmara Municipal de Alpiarça (CDU), afirmou que a presença do chefe de Estado, no âmbito do seminário nacional “José Relvas — Arte, Cultura e República”, que decorreu na Casa dos Patudos, constitui um importante contributo para a divulgação e projeção, tanto da figura de José Relvas, como daquela que foi a sua residência e onde está exposto o vasto espólio artístico que reuniu ao longo da vida, como da própria vila. O autarca lamentou que a figura de José Relvas seja apenas conhecida entre especialistas e na região, lembrando o papel preponderante na revolução que levou à proclamação da primeira República em 1910 e o exercício de cargos de destaque, desde ministro das Finanças a embaixador em Madrid, até à chefia do Governo que durou escassos meses (de 27 de janeiro a 30 de março de 1919), no qual acumulou o cargo de Presidente do Ministério com o de ministro do Interior. Mário Pereira realçou que José Relvas foi “rigoroso, coerente, sério, com características inerentes à sua condição social, mas perseguindo sempre um ideal de Democracia e o caminho para uma sociedade mais justa”. José Relvas era conhecido entre os seus camaradas republicanos pelo «Conspirador Contemplativo» e foi ele que na manhã do dia 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, declarou a implantação da República. A sua participação no antes e depois desta implantação foi decisiva, contudo o que poucos sabem é que as suas origens estão directamente ligadas ao concelho da Sertã. O seu avô paterno, José Farinha Relvas, nasceu em 1791, na povoação das Relvas, na freguesia da Ermida (concelho da Sertã). Seus pais, Manuel Ferreira Relvas e Maria Antónia Relvas, eram proprietários de boa parte dos terrenos da aldeia, e não só, e pessoas muito respeitadas pelos vizinhos.
Mas José Farinha Relvas não permaneceu por terras sertaginenses, tendo rumado, quando completou 30 anos de idade, à Golegã, para administrar a Quinta da Labruja. Nos anos seguintes, acumulou património e construiu uma fortuna assinalável. Em 1837, casou com Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta [nascida na Sertã, em 1810, no seio da ilustre família dos Mascarenhas Pimenta], com quem teve dois filhos – Carlos Augusto Relvas e José Relvas (que viria a falecer ainda jovem). Carlos Relvas é o senhor que se segue. Pioneiro da fotografia em Portugal e grande apaixonado pela tauromaquia, o filho de José Farinha Relvas manteve as ligações paternas à Sertã, onde foi visita permanente sempre que as férias chegavam ou quando surgia a oportunidade de visitar algum amigo mais chegado. Da sua união com Margarida Mendes de Azevedo Vasconcelos, resultou o nascimento de cinco filhos: José Relvas, Clementina Relvas (que chegou a morar na Sertã em 1892), Francisco Relvas, Maria Liberata (faleceu depois de completar um ano de vida) e Margarida Relvas. A história continua agora com José de Mascarenhas Relvas. Nascido a 5 de Março de 1858, frequentou o curso de Direito na Universidade de Coimbra, que viria a abandonar para se matricular no curso superior de Letras. Depois de regressar a Alpiarça, casou-se com Eugénia Antónia de Loureiro da Silva Mendes e tornou-se um dos mais abastados agricultores da região. A sua voz levantou-se, mais do que uma vez, pela defesa dos agricultores da região e contra as políticas agrícolas do governo de João Franco. Aderiu ao Partido Republicano Português e iniciou um período bastante prolífico a nível político – presidiu à 1.ª sessão do Congresso do Partido Republicano, em Abril de 1908; envolveu-se activamente na preparação da revolta que viria a culminar com a queda da monarquia a 5 de Outubro de 1910; foi eleito ministro das Finanças a 11 de Outubro de 1910; foi embaixador de Portugal em Madrid entre Novembro de 1911 e os inícios de 1914; em Janeiro de 1919 foi chamado a formar Governo, que duraria apenas de 27 de Janeiro a 30 de Março desse mesmo ano. Voltou a Alpiarça e, na sua Casa dos Patudos, passou os últimos anos de vida, ocupando o tempo com os seus negócios vitícolas e com a actividade de coleccionador. Viria a falecer a 31 de Outubro de 1929. António Freitas